O cooperativismo brasileiro tem ganhado destaque nos últimos anos como um terreno fértil para a inovação. Nesse cenário, avanços tecnológicos e estratégicos têm possibilitado impulsionar o desenvolvimento de soluções inovadoras para aumentar a competitividade das cooperativas perante ao mercado.
Unindo essas duas frentes, a Cooxupé, maior cooperativa de café do mundo, e a Minasul, outra gigante do setor cafeeiro, deram mais um passo inovador para o setor. As cooperativas firmaram uma parceria com a startup ProfilePrint, de Singapura, para trazer mais previsibilidade e qualidade para seus processos produtivos.
Como funciona?
Com uso de inteligência artificial, a tecnologia IDaaS da ProfilePrint trouxe a capacidade de detectar defeitos nos grãos que não são visíveis a olho nu, permitindo que as cooperativas aprimorem seus processos de avaliação e, consequentemente, aumentem a confiança no mercado internacional.
“Esse é um projeto que está em estágio inicial, mas estamos em busca de redução de custos em nossas operações de qualidade e operações nos armazéns e indústria. A ferramenta de análise de qualidade baseada em IA traz eficiência para toda a cadeia de fornecimento do café, principalmente em época de safra, quando o volume de amostras é bem alto”, destaca Mário Panhotta da Silva, superintendente de Torrefação e Novos Negócios da Cooxupé.
A Minasul explica que essa parceria está trazendo a possibilidade de evoluir na forma de processar a análise sensorial do café, através de algoritmos de IA e comparações com analises feitas por humanos. “Em um futuro não muito longe, poderemos ter essa tecnologia disponível para os produtores que poderão testar seus cafés na própria fazenda, assim como executarmos provas sensoriais remotas diretamente com os compradores sem necessidade de enviar amostras físicas”, pontua Luis Henrique Albinati, diretor de Novos Negócios da Minasul.
Cooperação com o futuro
Colaborações como essas, que trazem novas tecnologias para cooperativas do segmento agropecuário, não são por acaso. O modelo cooperativo é colaborativo, sendo ideal para startups, que encontram resistência em negócios tradicionais.
“As cooperativas são os fomentadores dessa evolução, através de parcerias com empresas que possam atender as demandas principalmente de médios e pequenos produtores, uma vez que esses são a grande maioria dos cooperados cafeicultores”, explica Albinati.
Com cooperativas implementando novas soluções de maneira exata e trazendo bons resultados, Jayme Barbedo – pesquisador e supervisor do Grupo de Pesquisa em Computação Científica, Engenharia da Informação e Automação da Embrapa Agricultura Digital – defende que o Brasil está na linha de frente do desenvolvimento de novas tecnologias para o campo, junto com países como Estados Unidos, China, Austrália e Holanda. “Com a evolução dos modelos de IA, praticamente todos os problemas de classificação podem ser resolvidos de maneira adequada e sem grandes dificuldades, desde que se tenha dados que representem adequadamente o problema que se deseja resolver”, completa.
A colheita de dados
Para que as tecnologias que utilizam IA funcionem de forma eficaz, a coleta correta e abrangente de dados é essencial. Sem uma base de dados sólida e representativa, as soluções tecnológicas enfrentam limitações, prejudicando o potencial de melhorias que poderiam trazer.
“O foco vai ser cada vez mais na obtenção desses dados, os quais se tornarão cada vez mais valiosos. Porém, não tenho dúvidas que a questão aos poucos vai ser resolvida, e que o número de tecnologias baseadas em IA vai se multiplicar nos próximos anos”, disserta o pesquisador da Embrapa, Barbedo.
Relacionado a isso, Albinati, diretor da Minasul, ressalta que um dos maiores desafios na adoção de IA para a análise sensorial do café é justamente a construção de uma “base de dados robusta com as amostras de café trabalhadas”. Já o superintendente da Cooxupé, Panhotta, complementa que a primeira fase do projeto, com meta de ser concluída em 6 meses, envolverá a alimentação de uma grande quantidade de dados para maior assertividade.
Para além do campo
Apesar das facilidades e automações que a IA trouxe e continuará trazendo dentro de cooperativas de diversos setores, Jayme Barbedo traz dois alertas: o lançamento precoce de projetos tecnológicos ainda em desenvolvimento e a confiabilidade da IA generativa.
Barbedo pontua que algumas empresas e startups têm lançado tecnologias que ainda não estão maduras, resultando num problema, não apenas para a empresa responsável pela tecnologia, mas também para a percepção dos potenciais usuários. “Uma vez que tenha tido uma experiência ruim, ficará muito mais refratário a tecnologias similares que venham a surgir, mesmo que elas de fato funcionem. Isso acaba arruinando o mercado para aquele tipo de tecnologia e acaba atrasando a adoção de avanços tecnológicos”.
Em questão da Inteligência Artificial generativa, como o ChatGPT, o pesquisador defende que essa ferramenta tem poder revolucionário, proporcionando novos níveis de automação e otimização, porém, é indiscutivelmente necessário checar as informações geradas.
As novas tecnologias trarão avanços inevitáveis e benefícios significativos para as cooperativas, facilitando processos e otimizando operações. No entanto, nada substitui a importância do trabalho humano. O discernimento, a capacidade crítica e a tomada de decisões, que só o ser humano pode oferecer, continuam essenciais. A tecnologia deve ser vista como uma aliada poderosa, mas seu uso adequado sempre dependerá da supervisão e intervenção humana para garantir a eficácia e confiabilidade dos processos.
COOPERATIVAS DE OLHO NA INOVAÇÃO
As cooperativas de crédito também têm feito grandes avanços no uso da inovação visando transformar a maneira como os cooperados interagem com os serviços financeiros, trazendo mais agilidade e segurança nas transações.
77% dos 8 milhões de usuários do Sicoob utilizam canais digitais, além disso, dos 840 mil novos cooperados registrados em 2023, 325 mil aderiram à instituição por meio digital. O crescimento se deu com investimentos em sete aplicativos digitais, atendimento via chatbot, caixas eletrônicos e a implementação do Open Finance, que gerou um aumento de 13% nas adesões digitais.
O Sicredi e a Unicred também adotaram o Open Finance, com novas funcionalidades como transferências e compartilhamento de histórico financeiro via WhatsApp, permitindo ofertas personalizadas. Já a Sisprime criou o Comitê de Inteligência Artificial (CIA) para otimizar serviços e reduzir custos com soluções de IA.
Por Andrezza Hernandes – Redação MundoCoop
Matéria exclusiva publicada na edição 120 da Revista MundoCoop