Hoje, 26 de agosto, é celebrado o Dia Internacional da Igualdade Feminina, que lembra a conquista do voto feminino nos Estados Unidos, nos anos 1920. No Brasil, as mulheres passaram a ter o direito do voto em 1932. Em quase 100 anos, a luta feminina já alcançou muitas realizações quanto à sua emancipação, mas ainda precisa enfrentar muitos obstáculos.
Uma das principais questões é referente à participação das mulheres no mercado de trabalho. Um levantamento do IBGE revela que a taxa de desemprego feminina foi de 9,8% no 1º trimestre de 2024 — maior que a média masculina e nacional. Apesar de possuírem um maior grau de escolaridade, as mulheres ainda recebem 21% a menos que os homens na mesma função e possuem maior dificuldade para conseguir ingressar no mercado de trabalho.
Elas na liderança
No cenário da liderança, os passos dados tem sido lentos. Segundo pesquisa da FIA Business School, que analisou respostas de mais de 150 mil funcionários de 150 grandes empresas do país premiadas com o selo Lugares Incríveis para Trabalhar 2023, as mulheres ocupavam 38% dos cargos de liderança no Brasil em 2023 – mesmo índice do ano anterior. Segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) de 2023, elas estão em apenas 39,1% dos cargos de liderança no país.
Nas cooperativas, a participação das mulheres nos cargos de diretoras, presidentes e conselheiras nas cooperativas tem crescido desde 2016. No início, essa porcentagem girava em tornou de 13 a 15%, nos últimos anos subiu para mais de 22%. De uma maneira geral, cooperativas como as de crédito, que sempre tiveram uma presença maior de homens, tem mais de 2519 mulheres nas ocupações de gestoras e conselheiras, chegando a alcançar mais de 25%.
Em entrevista à MundoCoop para uma reportagem especial sobre o aumento das lideranças femininas nas cooperativas, a Vice-presidente do Conselho de administração da Sicredi Pioneira, Heloisa Helena Lopes, lembrou seu papel no setor e ainda, falou sobre o atual contexto do setor. “Apesar do número de mulheres que têm ensino superior ser maior no mercado de trabalho, os cargos de posição executiva de alta gestão e conselhos de administração são ocupados, em sua maioria, por homens. Para diversos autores, a diversidade é importante para os negócios, visto que uma maior diversidade na força de trabalho aumenta a eficiência organizacional e, consequentemente a produtividade, permitindo que a empresa tenha acesso a novos segmentos de mercado, gerando aumento da lucratividade”, explica Heloísa.
Na Unimed Campo Grande, , as mulheres que ocupam a maioria das vagas, inclusive as de lideranças. A cooperativa médica possui em seu quadro 71% de mulheres em relação ao total de colaboradores, enquanto o Pacto Global da ONU estabelece 33% até 2025. Em abril deste ano, a Cresol – terceiro maior sistema de crédito cooperativo do Brasil – lançou o Programa Elas Lideram. “O Programa Elas Lideram contempla a missão da Cresol, que é oferecer desenvolvimento e qualificação nas mais diversas instâncias de atuação. Atualmente o quadro de colaboradores da Cresol Sicoper é composto mais de 60% por mulheres, que contribuem para o crescimento sistêmico ao ocuparem cargos de gestão intermediária, alta gestão e também técnicos. O projeto certifica a excelência do trabalho que essas líderes executam e a capacidade de transformação que promovem dentro e fora da Cresol”, destacou o Diretor Executivo da Central Cresol Sicoper, Jonas Klein.
E as histórias se multiplicam. Roberta de Souza Caldas, atua como liderança há 17 anos e atualmente, é Presidente da Cooperativa Transpocred. À MundoCoop, ela relatou os desafios enfrentados na carreira, que perpassaram aspectos de gênero mas também geracionais. Em sua visão existe um conservadorismo no cooperativismo, uma ideia de que para ser liderança é necessário ter uma idade média mais elevada. “Acredito que o reflexo das mulheres na liderança, é resultado da quantidade de cooperadas que existe dentro do nosso modelo. Se pegarmos a base de cooperados, a predominância ainda é de homens, mas quando pensamos nas equipes, elas estão sendo formadas e é cada vez maior o número de mulheres nelas, uma fortalece a outra. Elas estão fazendo parte, não só da liderança, do corpo de trabalho, mas também apoiando, sendo cooperadas e divulgando mais o nosso modelo de negócio”, lembra Caldas.
Apoio em várias frentes
A igualdade de gênero passa por diversas frentes, além da obtenção de mais espaço para elas em cargos de liderança. Hoje, elas se destacam também no cenário empreendedor, e as cooperativas tem sido parcerias fundamentais no processo de emancipação daquelas que desejam ter o próprio negócio. Segundo o Sebrae, mulheres lideram 10,3 milhões de empreendimentos no Brasil, tornando o país o sétimo no mundo em número de empreendedoras. Em contrapartida, o acesso a linhas de financiamento é umas das principais barreiras em seus negócios
Recentemente, o Sicredi, realizou uma captação de US$ 297 milhões (aproximadamente R$ 1,6 bilhão) junto ao CAF – Banco de Desenvolvimento da América Latina e do Caribe e à JICA – Agência de Cooperação Internacional do Japão. Os recursos do empréstimo social A/B do CAF, serão alocados para financiar micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) lideradas por mulheres. Os valores também serão utilizados para crédito em municípios com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) abaixo da média nacional. “Essas alianças nos permitem seguirmos o trabalho de fomento às mulheres que empreendem, assim como beneficiar cidades em que o índice de desenvolvimento humano esteja abaixo da média e pequenos produtores rurais”, destacou Alexandre Barbosa, diretor executivo de Sustentabilidade, Administração e Finanças do Sicredi.
Ainda, em agosto – onde é comemorado o Dia Nacional da da Mulher Empresária – o próprio Sicredi reforçou seu papel junto ao fomento de negócios liderados por mulheres, com recursos para capital de giro e investimentos.
Em mais um movimento do setor, em março deste ano o Sicoob Três Fronteiras – que possui 65% da equipe formada de mulheres, lançou o Comitê Mulher, a fim de fortalecer ainda mais o protagonismo feminino. Para marcar o lançamento do coletivo, a cooperativa oferece a linha de crédito Mulher Empreendedora, que dispõe de taxas exclusivas e acessíveis. O objetivo é fomentar a renda e a expansão de atividades de negócios formais ou não de mulheres.
“As mulheres trazem novas perspectivas e um conjunto de habilidades diferenciadas para o mundo corporativo, que estão contribuindo para o sucesso da cooperativa e para a criação de um ambiente de trabalho mais inclusivo e produtivo”, salientou a gestora de Recursos Humanos, Simone Muller Goin. “Temos a responsabilidade em promover a equidade de gênero em todas as esferas da cooperativa”, finalizou.
Elas em Foco
Em todo o Brasil, lideranças femininas tem se destacado através de trajetórias consolidadas dentro do cooperativismo nacional. Nos mais diversos ramos, elas tem colocado no mapa o seu nome, com desempenhos excepcionais diante do crescimento do setor. A MundoCoop conversou com algumas dessas lideranças, para compreender um pouco mais sobre a visão delas sobre a representatividade feminina e os desafios ainda enfrentados.
Confira!
“Como líder de cooperativa, descobri a capacidade de engajar e de fazer as pessoas sonharem” – Celma Grace é Co-Fundadora da Cooperativa Bordana
“O Comitê oportuniza às suas integrantes capacitação em liderança e cooperativismo” – Márcia Isabel Heinen é Coordenadora do Comitê-Mulher Cooperativas Segmentadas Sicredi
“Ainda há muitos espaços de liderança para que as mulheres ocupem o seu lugar nas cooperativas” – Esther Araújo atua na diretoria do Sistema OCB/RJ
“O desafio de ter mulheres em cargos de gestão é permanente” – Maura Carrara é Presidente da Sicredi Nossa Terra no Paraná
Por Redação MundoCoop, com informações de Sicredi, Sicoob e Cresol