No ano passado, a Coopemapi (Mel das Gerais), Cooperativa dos Apicultores e Agricultores Familiares do Norte de Minas exportou 15 toneladas de mel silvestre orgânico a granel para a Bélgica e não deve parar. Entre os produtos comercializados pela organização estão o mel de pequi, cipó uva, silvestre e aroeira. Esse último se tornou a estrela da produção, por ser rico em polifenóis, com ação antioxidante, anti-inflamatória e antimicrobiana. Por todas essas características conquistou o registro de Indicação Geográfica (IG), dado pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).
A cooperativa, que nasceu em 2016, na cidade de Bocaiuva, no norte de Minas Gerais, conta com a participação de 376 famílias de apicultores e deu um salto em suas vendas assim que começou a exportar os seus produtos. As expectativas são de que exportem pelo menos mais 15 toneladas. Para isso, a Coopemapi tem investido em sustentabilidade familiar, com o objetivo de impulsionar os lucros das famílias produtoras, a conservação ambiental para preservar as suas florestas e biodiversidade e executando o reflorestamento responsável, que se compromete a reflorestar as áreas de atuação.
Vanessa Sousa, responsável pelos assuntos regulatórios, controle de qualidade e exportação da Coopemapi conta que em 2019, a cooperativa iniciou a produção do mel orgânico e por dois anos tem realizado os envases com a marca Mel da Gerais, em outros entrepostos.
“Durante um tempo, produzimos apenas o mel orgânico e convencional de duas floradas. Mas nós sabíamos que existia uma diversidade de flores que tinham um mel diferenciado. Iniciamos uma parceria com a Unimontes, universidade da região, para conseguir separar esses pólens. Conseguimos identificar qual o mel que estava sendo comercializado. Hoje, vendemos mel de café, mel de cipó uva, mel de betônica, mel copaíba, mel pequi, de eucalipto e o de abacate. Após a separação de florada, em 2021 iniciamos alguns pequenos contratos e a comercialização”, conta.
Assim, como a Coopemapi (Mel das Gerais), outras cooperativas conhecidas se internacionalizaram como a Benetton, Parmalat e FrieslandCampina.
Elas expandiram suas operações globalmente, adaptando seus produtos às preferências locais e estabelecendo parcerias estratégicas com empresas locais, subsidiárias e alianças estratégicas.
João Branco, economista e professor de Economia, Estratégia e Política Internacional na ESPM-RJ lembra da Cooperativa Agrícola de Cafés Especiais, que exporta cafés especiais para mercados exigentes como Estados Unidos, Japão e Europa. Eles utilizam certificação de qualidade e práticas sustentáveis para diferenciar seus produtos no mercado internacional.
“Ao combinar sua capacidade de associação e integração com a inovação, as cooperativas brasileiras poderão inaugurar uma nova etapa marcante de internacionalização no setor”, diz João.
No entanto, para se manterem competitivas no mercado internacional, elas precisam realizar pesquisas de mercado para compreender as preferências dos consumidores, as tendências de consumo e os requisitos regulatórios em diferentes países. O professor explica que com isso, poderão customizar seus produtos para atenderem às necessidades locais e culturais dos novos mercados.
Por fim, é necessário investir em treinamento e desenvolvimento para capacitar os funcionários a lidarem com desafios internacionais, como logística, regulamentações comerciais, cambiais e gestão de exportações.
O trabalho vale a pena, várias cooperativas têm movimentado US$7,3 bi enviando os seus produtos para o mundo todo. O levantamento do AnuárioCoop de 2022 revelou que 2,2% de tudo o que foi vendido pelo Brasil ao exterior foi exportado por cooperativas e 6,8% dos embarques do agronegócio foram feitos por elas. O resultado foi que as cooperativas produziram R$656 bilhões em receitas e ganhos em 2022, somando os ativos em R$996,7 bilhões.
Um estudo desenvolvido pelo Sistema OCB e a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE) constatou que as organizações movimentam intensamente a economia brasileira e a externa. As suas presenças aumentam em média R$5,1 mil no Produto Interno Bruto (PIB) por habitante da cidade em que estão situadas. Fora isso, as organizações geram mais de 524 mil empregos diretos, sendo no ramo agro 249 mil, da saúde 135 mil e no de crédito 99 mil.
As cooperativas injetaram mais de R$18,9 bilhões em tributos aos cofres públicos e o mercado de exportação faz parte desse processo. Ele tem crescido cada vez mais, inclusive oferecendo treinamentos e alternativas dos produtores ampliarem os seus contatos e se adaptarem ao universo internacional.
Eventos internacionais ajudam no networking
Não é de hoje que as cooperativas têm visto no mercado externo novas possibilidades para melhorarem os seus lucros, negócios, ampliarem os seus horizontes e mesmo conquistarem novos consumidores. A importância do mercado internacional para as cooperativas é significativa, por oferecer oportunidades para a expansão, diversificação e aumento da resiliência econômica, já que permite dividir melhor os riscos do negócio.
Branco explica que algumas das vantagens do mercado externo é proporcionar às cooperativas acesso a novos clientes, tecnologias, recursos e oportunidades de crescimento que podem não estar disponíveis no mercado doméstico. Além disso, a diversificação geográfica reduz a dependência de um único mercado, mitigando riscos econômicos e políticos.
Eventos como o Exporta Mais Brasil, que foi criado pela ApexBrasil para potencializar as exportações do país, tem sido fundamental para os empreendedores iniciarem os seus contatos com os negócios internacionais, pois criam uma aproximação com os vários setores da economia. O programa já movimentou mais de R$405 milhões em negócios, promoveu 4 mil reuniões, envolveu 633 empresas brasileiras e 208 compradores internacionais de mais de 40 países.
No ano passado, o acontecimento completou 13 rodadas em 13 estados brasileiros, dedicadas a 13 diferentes setores produtivos, como o dos móveis, em João Pessoa (PB); rochas ornamentais, em Vitória e Vila Velha (ES); Cafés Robustas Amazônicos, em Cacoal (RO); Pescados, em Foz do Iguaçu (PR); Artesanato, em Fortaleza (CE); Cervejas Artesanais, em Petrópolis (RJ); Cosméticos, em Goiânia (GO); Mel, em São Paulo (SP); Cafés Arábicas, em Belo Horizonte e interior (MG); Calçados, em Porto Alegre (RS); Produtos Compatíveis com a Floresta, em Rio Branco (AC); Frutas, em Petrolina (PE), e Audiovisual (DF).
Neste ano, o evento pretende visitar 14 estados brasileiros e envolver novos setores como os de Cerâmica, durante a Exporevestir, em São Paulo (SP); de Couros e Curtumes, em São Luís (MA); de Alimentação e Bebidas para Bem-Estar, em Maceió (AL); e de Moda Íntima, em Fortaleza (CEA).
Ao participar de feiras e eventos internacionais, as cooperativas podem desenvolver seu networking, identificando oportunidades e promovendo produtos.
“Além disso, é indispensável a utilização de plataformas digitais para vendas online e marketing global, buscando cumprir os requisitos internacionais de excelência e segurança. Por fim, é essencial entrar em sintonia com o governo, a fim de aproveitar as oportunidades de programas de incentivo à exportação e acordos comerciais bilaterais”, indica o economista e professor de Economia, Estratégia e Política Internacional na ESPM-RJ.
A exploração do mercado internacional pede as definições de estratégias
A cooperativa que deseja ter sucesso e vida longa no mercado externo precisa definir qualestratégia faz sentido ao seu negócio. Ela tem algumas opções de exportações, por meio de traders ou trading companies (exportação indireta). Jéssica Dias, analista de negócios do Sistema OCB lembra que ao decidir por algum deles, é preciso levar em conta que a exportação direta, apesar de exigir maior conhecimento interno, traz maior retorno financeiro para a organização e os cooperados. “Nesse sentido, ainda que as coops iniciem com a estratégia de exportação indireta, é recomendável que mantenham a exportação direta como uma possibilidade futura”, conta.
Outros pontos importantes são definir como o produto será vendido e enviado ao mercado externo. Dias indica algumas opções, como enviar o produto in natura ou já beneficiado, bem como entre exportar com a marca própria (adaptada para o mercado externo) ou white label (com a marca do comprador).
A organização não pode se esquecer de conhecer as especificidades do mercado que irá atender, considerando as regras envolvidas no processo, bem como as tendências de mercado para o seu produto. “Desse modo, a coop poderá ajustar a sua atuação e orientar suas decisões com base em informações importantes que trarão segurança e maior assertividade para o processo de exportação”, explica Jéssica.
Se manter no mercado de exportação exige o conhecimento dos processos
Alguns dos principais desafios enfrentados pelos empreendedores que optaram por exportar os seus produtos é se manter competitivo no mercado internacional.
Para isso, é essencial que as cooperativas adotem estratégias de internacionalização e dominem todos os processos operacionais da exportação. Desde a juntada da documentação necessária até as regulamentações de cada mercado-alvo. Não se esquecer de seus processos produtivos para garantir a qualidade do produto atendendo às exigências do mercado externo.
“Produtos de alta qualidade não só satisfazem os consumidores internacionais, mas também ajudam a construir uma reputação sólida e confiável. Além disso, olhando para sua própria operação, a cooperativa deve demonstrar a qualidade de sua produção. Assim, buscar certificações aceitas pelo exportador é importante para atender às exigências do mercado externo. Certificações reconhecidas internacionalmente não só aumentam a confiança dos parceiros comerciais, mas também agregam valor ao produto, tornando-o mais competitivo”, finaliza a analista do Sistema OCB.
Por Priscila de Paula – Redação MundoCoop
Discussão sobre post