Um setor que está na mira das cooperativas é o de investimentos. Também, não é para menos. O Brasil possui uma forte presença no ramo financeiro cooperativista, sendo que conta com dois bancos cooperativos e 616 cooperativas, que alcançam R$ 953 bilhões em ativos (na carteira de crédito e nas demais operações) e 19 milhões de cooperados, segundo o último relatório do Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito (FGCoop).
Com esses números, é natural que as cooperativas de crédito ampliem esse cardápio de investimentos, seja para não perder os milhares associados e ainda conquistar novos. Para Fernando Schwery, Head de Desenvolvimento de Negócios DTVM da Unicred, o momento é propício para que as cooperativas busquem novas alternativas e, assim, aumentem sua oferta de produtos de investimento, não sendo somente a principal fonte de empréstimos, mas também a instituição na qual o associado faça seus investimentos. “Nesse sentido, assumimos o pioneirismo e, em breve, lançamos uma plataforma de investimentos aberta, a Unicred DTVM (Corretora Light) utilizando toda a tecnologia do Banco BTG, o que irá permitir a rápida expansão na oferta de produtos como Home Broker para negociação de ações e fundos imobiliários, fundos de Investimento, títulos públicos e privados (debêntures), igualando ao que hoje já é ofertado pelos bancos e corretoras”, destaca.
Historicamente, as cooperativas disponibilizam como investimentos os recibos de depósitos cooperativos (RDCs), títulos de renda fixa equivalentes aos certificados de depósitos bancários (CDBs) dos bancos, além de letras de crédito agrícola e imobiliário (LCAs e LCIs), considerados os mais populares e ambos cobertos pelo FGCoop, que garante os depósitos em caso de as instituições não pagarem os investidores, até R$ 250 mil por CPF.
No entanto, como as cooperativas captam dinheiro por meio desses papéis, elas sempre tiveram receio em oferecer outros investimentos, visto que isso poderia diminuir a sua captação via esses primeiros ativos. Portanto, com a mudança de paradigma e comportamento em relação ao investimento em si, sendo um tema cada vez mais propagado pela internet e chegando aos quatro cantos do país, o assunto se tornou comum em conversas em cidades menores, onde ficam a maioria das cooperativas. O cenário fez com que aumentasse a competição entre corretoras e bancos. “Através de uma prateleira de produtos equivalente, os diferenciais entre se investir através de um banco ou corretora e numa cooperativa ficarão cada vez mais evidentes. Como o cooperado é o dono do negócio, participa das decisões sobre os rumos da cooperativa e, ao final, recebe as sobras (lucros) geradas durante o ano. Esse aspecto fundamental do cooperativismo produz o alinhamento de interesses entre a cooperativa e seus investidores. Ao contrário dos bancos e corretoras, onde os assessores são remunerados pelos produtos indicados e recomendam produtos que podem não estar alinhados ao perfil do cooperado, nas cooperativas não há esse tipo de incentivo”, explica Fernando Schwery, Head de Desenvolvimento de Negócios DTVM da Unicred.
E, para conquistar cada vez mais essa fatia de público, as cooperativas apostam em certos diferenciais. Na DTVM, por exemplo, há canais de atendimento internos, para dar suporte às equipes das cooperativas. “Elas estão cada vez mais engajadas e entendendo a importância dessa nova linha de negócios para o resultado das cooperativas. Há um time de assessores certificados, treinados e atuando para que os cooperados se sintam cada dia mais seguros em investir seus recursos na cooperativa”, observa o executivo.
No entanto, é preciso estar atento ao atual momento do segmento cooperativista no Brasil. Apesar do cenário desafiador com taxas de juros mais altas, o setor continua demonstrando resiliência e crescimento. O número de cooperados aumentou 31%, atingindo 20,4 milhões em junho de 2024 e a carteira de crédito das cooperativas cresceu 7,5%, totalizando R$455,8 bilhões. “Esses números refletem a contínua expansão do sistema cooperativista no Brasil, com um aumento significativo no número de cooperados e uma expansão mais moderada nos ativos totais em relação aos anos anteriores, indicando uma cautela maior por parte das cooperativas e de seus cooperados diante do cenário econômico, com foco em qualidade e sustentabilidade do crédito concedido”, detalha Fernando, da Unicred.
O número de municípios atendidos exclusivamente por cooperativas também continua a crescer (+700), destacando a importância das cooperativas de crédito para a inclusão financeira no país. No entanto, o aumento das taxas de juros impactou a rentabilidade do setor, especialmente em termos de despesas de captação, que cresceram, e na inadimplência, que subiu em diversos segmentos, como no agronegócio e entre pessoas físicas e jurídicas.
Portanto, mesmo assim, o setor cooperativista tem potencial para continuar crescendo e se destacando no cenário financeiro brasileiro, desde que consiga enfrentar alguns desafios com inovação, colaboração e foco em seus valores fundamentais. Fernando afirma que a manutenção das taxas de juros elevadas impacta diretamente o custo do crédito, dificultando o acesso a financiamentos para cooperados, especialmente em setores sensíveis como o agronegócio e microempresas. “Outro desafio importante é a inovação e a digitalização para melhorar a eficiência operacional, oferecer novos produtos e serviços, para justamente competir com fintechs e bancos digitais. E por fim, a regulação que está em constante mudança, especialmente com a introdução de novas normas relacionadas à transparência, sustentabilidade e segurança cibernética”, explica o executivo da Unicred.
Já como oportunidades, a expansão do cooperativismo através do contínuo aumento no número de cooperados demonstra que há uma oportunidade significativa de expansão em regiões onde o cooperativismo ainda não está plenamente desenvolvido, especialmente em municípios menores. “As cooperativas têm uma oportunidade única de se posicionarem como líderes em ESG e sustentabilidade, pois o movimento cooperativista, por sua natureza, já promove princípios de responsabilidade social, que podem ser capitalizados para atrair mais cooperados e investimentos”, diz ele, acrescentando que a intercooperação entre as diferentes cooperativas também podem gerar sinergias e fortalecer o setor. “Isso inclui compartilhar recursos, conhecimento e tecnologias para melhorar a eficiência e a competitividade”, finaliza.
NOVAS PERSPECTIVAS
Fernando Schwery, Head de Desenvolvimento de Negócios DTVM da Unicred, afirma que as perspectivas para o setor cooperativista de crédito no Brasil são bastante promissoras. Para ele, a expansão na oferta de produtos de investimento e a inovação são peças fundamentais para a manutenção no crescimento do segmento. “As cooperativas têm investido em plataformas digitais para oferecer serviços personalizados e novos produtos de investimento, que vão desde fundos de investimento a títulos de renda fixa e variável. A introdução de soluções como o Drex, a moeda digital do Banco Central, é um exemplo de como as cooperativas podem se posicionar na vanguarda da inovação financeira”, detalha.
Ele afirma, ainda, que o Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito (FGCoop) continua a desempenhar um papel essencial na garantia da segurança dos depósitos dos cooperados. “Isso fortalece a confiança no sistema cooperativo, crucial para a captação de novos investimentos e a fidelização dos cooperados existentes. Com uma presença significativa em municípios menores e áreas rurais, as cooperativas de crédito desempenham um papel vital no desenvolvimento regional o que, por sua vez, incentiva o crescimento econômico das regiões atendidas, gerando impacto positivo no PIB dessas localidades e se tornando um indicativo do potencial de crescimento contínuo”, explica.
O resultado pode ser confirmado em seus números, em que o crescimento de cooperados, que já ultrapassa os 20 milhões, oferece uma base sólida para o setor. “À medida que mais brasileiros reconhecem os benefícios das cooperativas de crédito, especialmente em comparação com os bancos tradicionais, espera-se que essa base continue a crescer”, observa.
CRESCIMENTO DE CASE
O Sicredi, instituição financeira cooperativa com presença em todo o Brasil, é um dos exemplos de que os investimentos têm se tornado parte importante do seu negócio. A cooperativa atingiu a marca de R$200 bilhões em carteira de seus produtos de investimento e previdência. Esse montante é resultado do somatório de depósitos a prazo, LCA/LCI, Poupança, Fundos de Investimentos, Previdência e Renda Variável. Nos últimos 12 meses, o crescimento desses investimentos foi da ordem de 25%, com destaque para Fundos e Previdência, que expandiram em mais de 40% no período.
De acordo com o gerente de negócios de investimento do Sicredi, Dionatan Severo, alguns fatores internos influenciaram esse desempenho. “Ampliamos o portfólio, tornamos as taxas e rentabilidade ainda mais competitivas e aprimoramos a experiência de investir por meio do nosso aplicativo. Outro ponto tem sido a contínua capacitação dos nossos assessores de investimento nas agências, que são quem realizam a consultoria aos investidores no dia a dia”, aponta o executivo.
E mais: para proporcionar a diversificação à carteira de seus associados, a instituição lançou no final de 2022 o seu Home Broker, permitindo o acesso dos seus investidores à bolsa de valores. Nele, os associados podem negociar ações, fundos imobiliários, ETFs e BDRs no mercado à vista, contando com a alternativa de atendimento por meio do WhatsApp do Sicredi para agilizar suas demandas.
Já em relação ao atendimento presencial, o Sicredi possui mais de 2,7 mil agências em todos os estados do Brasil, possibilitando o atendimento consultivo e personalizado. O aplicativo da instituição é um dos mais bem avaliados do setor financeiro e conta com diversas funcionalidades para aplicação e gestão de investimentos.
Com R$ 356,6 bilhões em ativos e uma carteira de crédito que supera os R$ 224 bilhões, o Sicredi detém ratings das agências de classificação de risco Standard & Poor’s (AAA), FitchRatings (AA+) e Moody’s (Aaa), atestando a sua solidez.
Por Leticia Rio Branco – Redação MundoCoop
Matéria exclusiva publicada na edição 119 da Revista MundoCoop
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