Em 2025, o cooperativismo está sendo reconhecido mundialmente com o Ano Internacional das Cooperativas, declarado pela Organização das Nações Unidas (ONU) pela nossa capacidade de promover o crescimento justo e sustentável nos lugares em que atuamos. Seja em pequenas comunidades agrícolas, em grandes centros urbanos ou mesmo em plena Amazônia, o cooperativismo faz a diferença para milhões de pessoas que decidem empreender coletivamente.
O tema do reconhecimento da ONU, “Cooperativas constroem um mundo melhor”, está diretamente relacionado ao potencial do coop de criar condições socioeconômicas que têm impacto tanto para os cooperados quanto para suas comunidades. Essa atuação também faz do cooperativismo um importante agente para o cumprimento dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), uma série de metas definidas pela ONU para construir um mundo mais justo até 2030.
Do Norte do Brasil vem o exemplo de duas coops que têm feito a diferença para famílias dos estados do Acre e Amapá. Essa região do país é a mais afetada pela fome, em que 7,7% dos lares sofreram com a falta de alimentos em 2023, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disso, 38,5% dos habitantes da Região Norte eram pobres no mesmo período e os extremamente pobres somaram 6%, atrás apenas do Nordeste na comparação regional.
Nesse cenário, o cooperativismo tem sido fundamental para alcançar o ODS 1 – Erradicação da pobreza, ao promover o desenvolvimento em localidades remotas ou com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) baixo. Como as cooperativas fazem isso? Gerando renda para os cooperados, auxiliando pequenos agricultores e extrativistas a organizarem a comercialização de seus produtos, fortalecendo o setor produtivo local e incentivando práticas agrícolas sustentáveis, que são mais valorizadas no mercado.
“Um grande diferencial das coops é que elas garantem aos seus cooperados acesso a insumos de qualidade, tecnologias modernas, assistência técnica, soluções de armazenagem, agregação de valor aos produtos e canais eficientes de comercialização. Esse suporte é fundamental para aumentar a produtividade e assegurar a viabilidade econômica dos produtores, especialmente os de pequeno porte, que muitas vezes enfrentam barreiras para acessar mercados de forma independente”, explica a analista técnico institucional de Sustentabilidade do Sistema OCB, Laís Nara Castro.
Castanha e bioeconomia
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A Cooperativa Mista dos Produtores e Extrativistas do Rio Iratapuru (Comaru) é um exemplo de cooperativa que faz a diferença no seu entorno, auxiliando na geração de renda para os castanheiros da região sul do Amapá e contribuindo com a erradicação da pobreza. A castanha-do-brasil é o principal produto não madeireiro da Amazônia e também a primeira fonte de renda para as famílias que passam por uma longa jornada de três meses para a coleta dos frutos. Esse processo é feito quase que exclusivamente por povos e comunidades tradicionais da região, que respeitam e trabalham na floresta de forma sustentável.
Atualmente com 105 cooperados, a Comaru foi fundada em 1992 com o objetivo de reunir os castanheiros da Comunidade São Francisco do Iratapuru para a negociação de melhores preços e valorização da castanha no mercado brasileiro. Além de atuar na comercialização de produtos dos cooperados em vários estados do Brasil, a Comaru também se destaca pelas práticas de sustentabilidade, tanto para conservar a biodiversidade local como para capacitar os extrativistas quanto ao uso de técnicas de coleta sustentável e manejo de recursos naturais.
Os cooperados da Comaru atuam em uma reserva sustentável em Laranjal do Jari, na divisa entre o Amapá e o Pará, e comercializam produtos não madeireiros que preservam a Amazônia e aliam conservação e desenvolvimento, como castanhas in natura, amêndoas descascadas, óleo e farinha de castanha.
Considerando o contexto de desmatamento crescente na Amazônia, a Comaru é um ponto focal na cadeia produtiva local e tornou-se um lugar de representação dos interesses dos extrativistas e de conservação do meio ambiente, além de um espaço de negociação coletiva, que proporciona melhoria das condições de vida e mais vantagens econômicas para esses profissionais.
“Nós oferecemos todo o suporte para nossos cooperados, dando orientações sobre cadeia produtiva, rastreabilidade e qualidade do produto, importância da cooperativa para o cooperado, ajudando sempre quando ele mais precisa, com questões de saúde ou suporte de equipamentos, por exemplo”, afirma Aldemir Pereira, diretor administrativo da Comaru.
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Segundo ele, o cooperativismo e o associativismo têm desempenhado um papel essencial para os extrativistas do Vale do Jari, auxiliando-os nos desafios do mercado, na erradicação da pobreza na região e na preservação dessas comunidades para o futuro. “A Comaru gera empregos na agroindústria para os cooperados, faz adiantamento da safra para cada produtor coletar sua castanha, apoia no escoamento da produção, dá assistência e também realiza eventos sociais e ambientais para estimular a preservação da natureza junto aos castanheiros”, explica o gestor.
Extrativismo sustentável
A Cooperativa Central de Comercialização Extrativista do Acre (Cooperacre), com sede em Rio Branco, é mais uma mostra de como o modelo cooperativista tem contribuído para a erradicação da pobreza por meio da geração de trabalho, responsabilidade social, preservação florestal e crescimento sustentável.
Maior produtora nacional de castanha-do-brasil, além de trabalhar com borracha, frutas nativas, palmito e café, a coop é referência na promoção de economia de baixo carbono e em práticas de extração que preservam o meio ambiente. Em 2022, a Cooperacre conquistou o Prêmio Somos Coop Melhores do Ano na categoria Inovação por aplicar tecnologia aliada ao desenvolvimento sustentável.
Na rotina diária, a Cooperacre foca na produção de alto nível sem abrir mão da proteção ao meio ambiente, alavancando o progresso de seus cooperados, com impacto para a economia do estado. Com o projeto “Fortalecendo a economia de base florestal sustentável”, a coop recebeu, em 2019, cerca de R$ 5 milhões do Fundo Amazônia, que financia ações de conservação da floresta.
Com a exportação de produtos orgânicos e certificados, a Cooperacre investe em uma economia de baixo carbono, gera empregos, impacto econômico e mais renda para as famílias que residem no Norte do país, com impacto direto para a erradicação da pobreza. Inclusão social e preços competitivos também integram os pilares da cooperativa que beneficia e representa os interesses dos extrativistas acreanos.
Parcerias que impulsionam
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Ainda na região, parcerias tem sido fundamentais para o avanço das cooperativas e do Brasil em busca de cumprir a agenda mundial das ODS.
O aumento da oferta e produção de açaí na Região Norte do País pelos produtores agroextrativistas de comunidades tradicionais nos estados do Pará e Amapá, ligados à Cooperativa de Alimentos da Biodiversidade do Amapá, a BIO+AÇAÍ, resultou no fornecimento da fruta oriunda do bioma amazônico à empresa Bacio di Latte, gelateria de alto padrão com mais de 200 lojas no Brasil, 10 mil pontos de venda e nove lojas nos Estados Unidos.
É um encontro de dois gigantes: a Bacio di Latte, uma das maiores sorveterias, de grande qualidade do Brasil, e a Bio+Açai, cooperativa de agricultores e extrativistas da Amazônia. Nessa cooperativa, eles retiram a polpa do açaí e vendem para uma fábrica de biodiesel, que ajuda na assistência técnica dos extrativistas. É um encontro que tem no centro deste momento o tema da preservação”, explica Teixeira. Na região Norte, o Selo Biocombustível Social aumentou 297%, em relação aos dois últimos anos, resultando no estímulo na inclusão social e produtiva da agricultura familiar na cadeia do biodiesel.
Com o apoio das políticas públicas do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), a BIO+AÇAÍ usufrui do Selo Nacional da Agricultura Familiar (SENAF) e comercializa parte de sua produção com empresas detentoras do Selo Biocombustível Social. O suporte tem promovido o desenvolvimento rural sustentável e a transição energética através da inclusão do extrativismo na cadeia produtiva de biocombustíveis.
O presidente da Bio+Açaí, Edilson da Rocha Lima, destacou o papel dos trabalhadores do campo na produção de alimentos que abastecem o mundo, com especial atenção ao cuidado com o meio ambiente, como a preservação da Amazônia. “Essa integração entre o homem do campo e a cidade, trazendo alimento pro mundo, nosso muito obrigado pelo cuidado na nossa Amazônia”, declara.
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Sustentabilidade e pessoas em foco
Hoje, não é possível falar em preservação sem levar em consideração os mais de 20 milhões de habitantes que ocupam a região Amazônica em território brasileiro. São essas pessoas que contribuem para o equilíbrio de diversos ecossistemas e para o protagonismo de práticas sustentáveis efetivas, em contraponto a crimes ambientais ainda recorrentes.
Atuando na região do Arquipélago do Bailique, na foz do Rio Amazonas no Estado do Amapá, a Cooperativa Amazonbai representa algumas delas e se tornou uma referência em manejo sustentável da floresta.
Fundada em 2017, a Cooperativa foi criada com o propósito de melhorar a comercialização e os preços para os produtores de açaí, reduzindo a dependência de intermediários e, assim, garantindo uma distribuição mais justa da renda. Mas foi no extrativismo sustentável que encontrou um caminho para desenvolver as comunidades, a educação dos jovens e a conservação da Amazônia.
“As principais atividades envolvem a coleta, processamento e comercialização do açaí, com foco em práticas sustentáveis e de mínimo impacto. Além disso, a cooperativa trabalha com uma lógica da estreita colaboração com as comunidades locais para oferecer capacitação e assistência técnica continua em manejo sustentável, promovendo o desenvolvimento socioeconômico da região”, relata Amiraldo Picanço, Presidente da Cooperativa Amazonbai.
Recentemente, a Cooperativa anunciou a primeira exportação direta de açaí liofilizado (açaí em pó) para os Estados Unidos. De acordo com a cooperativa, a contratação inicial foi de 10 toneladas do produto e venda para os estadunidenses deve garantir um valor de até R$ 2,4 milhões por mês aos 141 ribeirinhos da região.
Avanço na equidade
Os impactos que as cooperativas ainda perpassam outros aspectos. A 9ª Assembleia da Cooperativa dos Produtores Agroextrativistas do Bailique e do Beira Amazonas (Amazonbai), realizada nos dias 24 e 25 de janeiro na comunidade de Carapanatuba, Amapá, marcou um avanço histórico na participação feminina. Pela primeira vez, duas mulheres foram eleitas para a diretoria, e outras cinco assumiram cargos nos Conselhos da cooperativa.
A crescente participação feminina na Amazonbai é resultado de iniciativas como o Programa Economias Comunitárias Inclusivas e o projeto “Semeando a Sustentabilidade”, conduzidos pelo Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB). “Por muito tempo, mulheres e jovens foram invisibilizados nos processos produtivos. Trabalhamos formações em produção, associativismo, agroecologia e gestão para mudar essa realidade”, explica Waldiléia Rendeiro, analista socioambiental do IEB.
Desde 2021, o número de mulheres na cooperativa triplicou, passando de 17 para 54. “Nosso compromisso é garantir igualdade de gênero. Agora temos mulheres na diretoria e nos Conselhos, participando ativamente das decisões”, destaca Picanço.
Com informações de MundoCoop, Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar e Sistema OCB