De acordo com os dados retirados da última edição do AnuárioCoop, atualmente existem 219 cooperativas educacionais, somando mais de 50 mil cooperados, o que representa cerca de 3.700 empregos diretos, rendendo R$318 milhões de ativos totais em 2022. Esses são alguns dos motivos pelos quais cada vez mais essas cooperativas buscam se profissionalizar, entender as necessidades do setor e absorver as tendências que estão em evidência.
As cooperativas educacionais apresentam uma filosofia diferenciada das escolas tradicionais, uma delas é a de que a sua administração fica por conta da união entre os professores e os pais. Alguns dos benefícios dessas organizações são a de que alunos, professores trocam conhecimentos, oferecem melhores condições de ensino, metodologia e infraestrutura frente à concorrência, além de multiplicar a cultura cooperativista por meio de uma abordagem diferenciada.
As primeiras organizações surgiram em Belo Horizonte, em Minas Gerais em 1984, quando alguns professores se reuniram e criaram as Escolas Reunidas Cooperativa Ltda, mais tarde conhecida como Cooperativa de Trabalho Educacional Ltda. (Cotel).
Apenas três anos depois, nasceu o cooperativismo educacional, com a Cooperativa de Ensino de Itumbiara (CEI), mantenedora do Colégio Cora Coralina.
Até 1980 existiam apenas 11 cooperativas educacionais, em 1990 elas aumentaram para 80 escolas mantidas por essas organizações. Hoje existem 59 cooperativas educacionais no estado de São Paulo, 25 em Minas Gerais, 22 no Rio de Janeiro com 22 e 15 no Rio Grande do Sul.
Algumas delas são Coeducar, de Minas Gerais, que surgiu em 1992 por um grupo de profissionais da Educação, a Coeducar (Cooperativa Educacional de Viçosa), a Colégio Coopel de São Paulo de 1994, que surgiu da reunião de um grupo de pais, a Cooperativa Educacional Ubatuba (Cooeduba) foi fundada em 2000 por pais de alunos, a Cooperativa Educacional de Santo Antônio de Jesus, que prioriza a coletividade sobre o individualismo e formar alunos para o exercício da cidadania, Cooperativa Educacional EIDUC de 2003, se baseia nos princípios da cooperação, ética, democracia, reflexão e do respeito pelo ser humano e pelo planeta.
Priscilla Coelho, analista de Relações Institucionais do Sistema OCB nacional, especialista no Ramo Trabalho, Produção de Bens e Serviços, com enfoque no segmento educacional, conta que esse mercado é muito concorrido, e por isso exige das cooperativas atualização e diferencial para além da qualidade do ensino e da infraestrutura.
Um levantamento realizado por Coelho, com enfoque no segmento educacional realizado com base de dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), mostrou o tamanho do cooperativismo educacional, destrinchando quantas cooperativas são mantenedoras de instituições de ensino.
A analista explicou que todas as cooperativas, pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, são consideradas escolas privadas. Dentro da legislação, elas são divididas em três categorias: comunitária, filantrópica e particular.
Temas em discussão
Para discutir as principais pautas do setor, dirigentes e gestores das sete cooperativas educacionais do Espírito Santo, Coopesma, CEL, Coopesg, Coopeducar, Coopepi, Cooperação e Coopem, se uniram em uma reunião virtual, promovida pelo Sistema OCB/ES.
Um dos temas do encontro online foi o 15 CBC, que reuniu cerca de 3 mil cooperativistas de todo Brasil, e trouxe várias discussões, entre elas um panorama do cooperativismo educacional no país e a segurança no ambiente escolar.
Um dos expositores foi o major Eliandro Claudino de Jesus, comandante da Companhia Independente de Polícia Escolar (Cipe), que tem muita experiência nos policiamentos escolares. Segundo ele, o primeiro evento de violência escolares no Brasil ocorreu em 1999 e tem se tornado mais frequentes, lembrando o caso Realengo, entre outros.
Portanto, é fundamental que as cooperativas educacionais pensem em escolas com ambientes mais estruturados e que saibam lidar com ameaças de ataques e o bullying, que podem dar origem a eventos de violência.
Claudino explicou que no Espírito Santo existem relatos de indivíduos que praticaram violência ao longo da história.
“O responsável por um ataque que teve repercussão em Realengo, por exemplo, deixou uma carta explicando o porquê da sua atitude e destacando a violência que sofria dentro da escola”, lembrou .
Outros acontecimentos que tem aberto espaço para essas organizações se atualizarem das novas tendências do segmento escolar, tem sido a Bett Brasil, Ela trouxe vários temas pertinentes ao setor, entre eles as inovações e as tecnologias.
Investimento em inovação
A Bett Brasil é o maior evento de Inovação e Tecnologia para Educação na América Latina. Ela ocorre desde 2013, e faz parte do portfólio Hyve Group. Na edição deste ano teve como tema “Inovação com propósito: educação em diálogo com as transformações sociais”, contou com a presença de mais de 40 mil pessoas, entre eles 16 cooperativas educacionais paulistanas, que tiveram as suas inscrições custeadas pelo SESCOOP-SP.
Camila Tobias, analista de desenvolvimento humano da Sescoop/SP, conta que as palestras e vivências trouxeram uma diversidade de informações de escolas do mundo, que podem ser aplicadas nas cooperativas educacionais no Brasil. “A apresentação de diversos tipos de metodologias, jogos interativos, aplicativos de gestão foi o ápice da feira. Eles aliam a inteligência artificial ao cotidiano dos professores, alunos e às escolas. As principais tendências que observamos foram os usos dos jogos interativos, como a metodologia Lego”, exemplifica Camila.
É importante entender que cada cooperativa educacional enfrenta os seus próprios desafios e possui uma realidade única, determinada pelo contexto local, metodologias de trabalho e diversidade de perfis dos alunos.
“O contato com essas principais tendências de mercado durante o evento proporciona uma base sólida para a implementação gradual de novas práticas e abordagens. E isso permite que as cooperativas eduquem de forma mais eficaz, adaptando-se às novas demandas do cenário educacional e estando também em constante evolução para oferecer uma educação de qualidade à comunidade”, finaliza Tobias.
Adriana Martinelli, diretora de Conteúdo da Bett Brasil lembra que a participação das cooperativas educacionais na BETT foi essencial para se atualizarem com as novas tendências em tecnologia e modelos pedagógicos contemporâneos.
“Além de incorporar inovações em seus debates, como Inteligência artificial e competências socioemocionais, o evento também ofereceu a chance de os participantes formarem novas conexões, enriquecendo e ampliando as oportunidades de colaboração no setor educacional”, explica Adriana.
Integração entre educação e inovação
Um dos participantes do evento, Rodrigo Lorran da Cunha é assistente de coordenação da escola Cooperativa Educacional de Bariri (COEBA) e está no setor da educação desde 2010. Com experiência em projetos educacionais inovadores, Rodrigo acredita na integração de tecnologia com a educação, por esse motivo está sempre buscando formas de aprimorar a formação integral dos alunos.
Foi com o objetivo de trazer novos conhecimentos para a cooperativa em que atua, que resolveu visitar a 29ª Edição da Bett Educar, no Expo Center Norte, em São Paulo. O convite partiu da Sescoop/SP, pelo 2º ano consecutivo e é um dos principais pontos de encontro para os profissionais, educadores, gestores e empresas do setor educacional discutirem ideias, compartilharem experiências e explorarem soluções inovadoras para os desafios enfrentados pela educação.
“A Bett Educar é uma referência para as cooperativas educacionais porque proporciona uma visão abrangente das tendências e inovações que estão transformando o setor educacional. No evento, as cooperativas podem se beneficiar ao compartilharem recursos, experiências, fortalecendo a comunidade educacional”, lembra o assistente de coordenação.
Rodrigo conta que o evento articulou debates relevantes, promoveu conexões entre o ecossistema educacional e apresentou tendências educacionais para as cooperativas educacionais, como Inteligência Artificial, personalização da aprendizagem com a demanda social emocio emocional, neurociência aplicada à educação, edutainment, educação inclusiva, valorização da saúde mental, entre outros.
“A IA foi uma das maiores tendências que observamos na Bett Educar 2024, não mais como uma novidade em si, mas como proposta de integração ao ensino. Podemos por exemplo, adotar plataformas que utilizam IA para monitorar o progresso dos alunos e ajustar automaticamente os desafios e conteúdo para maximizar o aprendizado. Isso também pode liberar tempo dos professores ao falarem em aspectos mais humanísticos do ensino, como o desenvolvimento socioemocional dos alunos”, conta o coordenador da COEBA.
Nas palestras, entre os destaques estavam a personalização da aprendizagem ligada ao uso de tecnologias avançadas e o envolvimento das mudanças metodológicas.
“O ensino híbrido, por exemplo, pode garantir aos estudantes mais autonomia para escolherem atividades que melhor se adequam ao seu estilo. Além disso, programas de tutoria individualizada podem ajudar a atender às necessidades específicas de cada aluno”, lembra Lorran.
Em termos de educação inclusiva, o tema foi relacionado às tecnologias, softwares de leitura e dispositivos de comunicação, e de como eles podem ser integrados para garantir que todos os alunos, incluindo aqueles com necessidades especiais ou neuro diversas, tenham acesso igualitário à educação.
Durante as trocas de experiências foram apresentadas dinâmicas de grupo, projetos de serviço comunitário, protagonismo estudantil, compreensão das emoções e autorregulação.
“Na Bett, vimos exemplos inspiradores de escolas que estão utilizando jogos e atividades interativas para ensinar habilidades como resolução de conflitos, empatia e colaboração. Além disso, um estudo realizado pela OCDE em colaboração com o Instituto Ayrton Senna, envolvendo mais de 4.500 estudantes de 10 e 15 anos de 16 países (incluindo o Brasil), evidenciou que as competências socioemocionais são a base do bem-estar psicológico e do desempenho acadêmico dos estudantes”, relata Rodrigo.
Rodrigo ficou impressionado com uma das palestras ministradas pela gerente pedagógica do Laboratório Inteligência de Vida, Renata Ishida. Ela contou que de acordo com o Ministério da Saúde, o número de crianças usando algum tipo de psicotrópico aumentou 775% nos últimos 10 anos”, relata.
“Cooperativismo é feito de pessoas, participar da Bett Educar 2024, com a presença de tantos profissionais, além de conviver com pessoas de realidades diferentes, nos dá a certeza de uma experiência enriquecedora, reafirmando nosso compromisso com a inovação e a educação de qualidade. As tendências observadas são não apenas práticas, mas também alinhadas com os valores das cooperativas educacionais, que priorizam a formação integral e a cooperação”, finaliza Cunha.
Por Priscila de Paula – Redação MundoCoop
Matéria publicada na edição 118 da Revista MundoCoop
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