A cidade de Baku, no Azerbaijão, recebeu entre os dias 11 e 22 de novembro de 2024, a 29° Conferência das Partes da Convenção-quadro das Nações Unidas para a Mudança do Clima (COP29). A COP 29 recebe da COP 28, realizada em Dubai, no ano de 2023, o Balanço Global do Acordo de Paris, um instrumento de avaliação periódica da implementação do principal marco legal internacional para enfrentamento da mudança climática.
Além disso, a COP 29 antecede a COP 30, que acontecerá no Brasil, em Belém (PA), quando os países farão uma nova rodada de metas de mitigação de emissões (NDCs, no inglês). As NDCs representam o núcleo do Acordo de Paris, uma vez que seu principal objetivo é conter o aquecimento global em 1,5°.
A principal prioridade de negociação da presidência da COP29 foi concordar com uma Nova Meta Quantificada Coletiva sobre financiamento climático. Além disso, os países buscam finalizar a operacionalização do Artigo 6 do Acordo de Paris como uma prioridade há muito esperada.
E neste cenário, o trabalho e impacto das cooperativas brasileiras foram mais uma vez colocados como primordiais para o alcance dos objetivos, com as cooperativas realizam um importante trabalho nas comunidades onde estão presentes.
O Sistema OCB esteve presente no painel O Papel das Cooperativas no Combate às Mudanças Climáticas. Os representantes do cooperativismo brasileiro compartilharam iniciativas voltadas para a promoção de uma agricultura sustentável, por meio da adoção de práticas inovadoras que garantem uma produção agrícola responsável e equilibrada com o meio ambiente. Nesse contexto, a participação do Sistema OCB ressaltou a importância das cooperativas como agentes de transformação no campo, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo.
Como responsável pelo departamento ESG da maior cooperativa de café do mundo,Natalia Carr, gerente ESG da Cooxupé, compartilhou as ações sustentáveis que estão sendo implementadas pela Cooxupé. “Nossa cooperativa é formada, em sua maioria, por pequenos produtores, e trabalha para garantir que os cooperados possam se adaptar às exigências do mercado sustentável”, disse. Ela pontuou que a cooperativa desenvolveu um protocolo próprio de sustentabilidade chamado Gerações, com o objetivo de apoiar os produtores no atendimento às exigências ambientais, sociais e econômicas exigidas pelas certificações de mercado. “A Cooxupé já é reconhecida como a primeira cooperativa no mundo a ser certificada pelo mecanismo de equivalência GCP (Global Coffee Platform), o que assegura que suas práticas de produção são sustentáveis e alinhadas com as melhores práticas globais”, acrescentou.
Matheus Marino, presidente do Conselho de Administração da Coopercitrus, citou exemplos de como a cooperativa consegue liderar a inovação tecnológica na agricultura. “Com 42 mil cooperados e presente em 70 cidades de 40 estados brasileiros, conseguimos apoiar, especialmente, os pequenos produtores, com serviços que incluem tecnologia de precisão, como UAVs [Veículos Aéreos Não Tripulado]) e drones de pulverização, que visam aumentar a eficiência e reduzir os impactos ambientais das práticas agrícolas”, apontou.
Eduardo Queiroz, coordenador de Relações Governamentais do Sistema OCB, abordou a atuação do Sistema OCB nas discussões sobre mudanças climáticas, com destaque para como a entidade tem trabalhado para integrar as cooperativas brasileiras nas agendas ambientais, com foco na COP30, que será realizada no Brasil em 2025. “O Sistema OCB tem se empenhado em defender o papel das cooperativas nas ações climáticas e na construção de um futuro mais sustentável. O cooperativismo deve estar no centro da agenda global, como uma ferramenta essencial na consolidação da economia verde e de baixo carbono”, concluiu.
Financiamento de baixo carbono
O Sicredi participou do painel “Cooperativismo e Finanças Sustentáveis”, mediado pela Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) juntamente com representantes do BNDES. Na discussão, o superintendente de Tesouraria do Sicredi, Pedro Lutz Ramos, abordou como a instituição tem promovido a pauta de finanças sustentáveis, ao ministrar a apresentação “Estratégias e iniciativas para financiamento de uma economia de baixo carbono”.
Desde 2017, a instituição já concedeu mais de R$12 bilhões em créditos para pequenas unidades de geração de energia solar distribuída, posicionando-se como um dos maiores financiadores privados do país neste segmento. Além dos investimentos em energia solar, o Sicredi apoia projetos voltados à redução de emissões de gases de efeito estufa, como o Programa Metano Evitado Sicredi, que mitiga as emissões de metano na pecuária, e o Projeto Erva Mate, que transforma a monocultura de erva-mate em práticas de agricultura regenerativa. Recentemente aprovado por certificadores ambientais, o Projeto Erva Mate está em fase de implementação e representa uma importante contribuição para a redução das emissões de gases de efeito estufa na atividade agrícola.
“As cooperativas de crédito têm um papel importante no combate e na mitigação dos impactos causados pelas mudanças climáticas, devido à sua forte presença nas comunidades locais e à promoção do desenvolvimento sustentável regional. A proximidade com os associados também permite que essas instituições identifiquem e apoiem iniciativas que tenham um impacto positivo em projetos voltados para a preservação ambiental e a inclusão social”, destaca o superintendente de Tesouraria do Sicredi, Pedro Lutz Ramos.
Durante a COP 29, o Sicredi também conduziu reuniões com fundos de impacto, como o Green Climate Fund, e organizações multilaterais, como o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), este último com o qual já firmou três parcerias para operações sustentáveis, consolidando sua atuação no financiamento de projetos alinhados a uma economia verde e inclusiva.
Protagonismo
A apresentação de Eduardo Pinho, especialista em produtos ESG do BNDES, deu destaque ao papel dos nove sistemas cooperativos de crédito (Cresol, Sicredi, Sicoob, Credisis, Ailos, Credicoamo, Uniprime, Coopavel e Primacredi), como protagonistas na democratização do acesso ao crédito. Pinho destacou como essas cooperativas estão presentes em mais de 50% dos municípios do Brasil e são a única instituição financeira em 368 deles, o que reforça seu impacto social ao garantir a inclusão econômica em regiões historicamente desassistidas. O BNDES acredita que as cooperativas de crédito oferecem taxas mais competitivas e reinvestem parte de suas sobras nas comunidades locais, promovendo o desenvolvimento regional.
O BNDES tem liderado iniciativas de financiamento voltadas para a agricultura de baixo carbono e a eficiência energética, com o objetivo de promover práticas sustentáveis e reduzir o impacto ambiental. Entre as linhas de financiamento apoiadas pelo banco estão o Pronaf, que oferece crédito com juros reduzidos para práticas agrícolas que preservam a biodiversidade, e a linha Finame Baixo Carbono, voltada para a aquisição de máquinas e equipamentos que reduzem os impactos ambientais das atividades agrícolas. Outro programa importante é o EcoInvest, que visa à recuperação de pastagens degradadas ou à conversão dessas áreas em sistemas sustentáveis, contribuindo para a preservação ambiental e o desenvolvimento sustentável do setor.
Com o orçamento ampliado de US$ 1,9 bilhão para 2024, o BNDES tem atuado para expandir o apoio indireto a projetos de impacto, e colaborar com todos os tipos de parceiros, incluindo as cooperativas, para impulsionar práticas agrícolas e energéticas mais sustentáveis.
Amazônia
A Amazônia foi tema central da COP29. As cooperativas da região desempenham papel essencial na organização das comunidades locais e promovem a bioeconomia e práticas regenerativas.
O BNDES mostrou como apoia essa atuação por meio de financiamentos que aliam a preservação ambiental ao desenvolvimento econômico e reforçar a importância das cooperativas de crédito como aliadas estratégicas na promoção de práticas sustentáveis, em busca de soluções que atendam às necessidades locais e contribuam para as metas globais de sustentabilidade.
Com informações de Sistema OCB e Sicredi