O empreendedorismo brasileiro tem crescido de maneira significativa nos últimos anos, impulsionado por micro e pequenos negócios, especialmente pelos Microempreendedores Individuais (MEIs), que já ultrapassam a marca de 15 milhões no país. Nesse cenário, as cooperativas desempenham um papel crucial, não apenas fornecendo acesso ao crédito, mas também oferecendo suporte técnico, formação e oportunidades. Esse suporte vai além da economia; é uma resposta direta às necessidades de um público diverso e em expansão, contribuindo para o desenvolvimento regional e a inclusão econômica.
O cenário brasileiro
O número de Microempreendedores Individuais (MEIs) no Brasil teve um crescimento expressivo nos últimos anos. De acordo com dados do Ministério do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, o país passou de 4,6 milhões de trabalhadores registrados como MEI em 2014 para 15,7 milhões em 2023.
Entre janeiro e junho desse ano, 2,7 milhões de novos cadastros foram feitos, e se esse ritmo for mantido, 2024 poderá superar o recorde de 3,3 milhões de MEIs registrados no ano passado, o maior desde a criação do programa, em 2008. Ao contrário da época de pandemia, esse crescimento de microempreendedores vem de uma escolha consciente, onde as pessoas optam por empreender e não o fazem apenas por necessidade.
Apesar da expansão, o desafio de manter esses empreendimentos em atividade persiste. Uma pesquisa do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) aponta que, de cada dez brasileiros que se tornam microempreendedores individuais, três encerram suas atividades em até cinco anos.
“A lista dos principais desafios traz a alta carga tributária, burocracia, obtenção de crédito, permanência no mercado, inovação, marketing e vendas, gestão financeira, gestação de pessoas e capacitação profissional”, pontua Anderson Gualtieri Correa, analista de negócios do Sebrae-SP.
O que tem sido feito?
O empreendedorismo continua em crescimento, e as cooperativas precisam enxergar cada empreendedor, ou aspirante a empreender, como um potencial cooperado. Recentemente, o Sicredi, instituição financeira cooperativa, foi reconhecido como Financiador PME do Ano e Melhor Financiador para Mulheres Empreendedoras no Global SME Finance Awards 2024 – uma premiação do SME Finance Forum, uma rede criada pelo G20 e gerida pela Corporação Financeira Internacional (IFC), que reúne mais de 300 instituições financeiras.
Dentre os 100 finalistas, o Sicredi se destacou com o projeto Donas do Negócio, da Cooperativa Sicredi União MS/TO e Oeste da Bahia, um dos responsáveis pelo prêmio. Desde sua criação, essa iniciativa gerou cerca de R$ 2 milhões em negócios por meio de feiras e eventos.
“O projeto surgiu para fortalecer pequenos e médios negócios na cooperativa, endereçado exclusivamente para mulheres. Esse reconhecimento internacional foi essencial para confirmarmos que estamos no caminho certo”, afirmou Celso Regis, presidente da Sicredi União MS/TO e Oeste da Bahia.
Outro destaque no setor cooperativo é o Sicoob que, por sua vez, firmou uma parceria inédita com o Sebrae para promover as Indicações Geográficas (IG), um mecanismo que valoriza produtos com características únicas devido à sua origem geográfica. O objetivo é apoiar financeiramente e com capacitação os produtores locais, gerando impacto positivo para 95 mil produtores e 470 municípios brasileiros, com destaque inicial para os setores de café e vinho.
Além disso, o governo federal, através do Ministério da Fazenda, anunciou uma nova etapa do Pronampe destinada aos pequenos negócios afetados pelas enchentes no Rio Grande do Sul, com a liberação de R$ 1 bilhão em subvenções. Dentre as instituições beneficiadas, o Sicredi recebeu R$ 250 milhões, demonstrando mais uma vez seu papel relevante no financiamento ao empreendedorismo e no apoio a negócios locais.
O fortalecimento do setor também é apoiado pela recente criação do Ministério do Empreendedorismo, oficializado pela Lei 14.816/24, com a função de promover políticas voltadas para pequenos negócios, estimular o microcrédito e incentivar o empreendedorismo feminino. Essa nova estrutura reforça o compromisso com o desenvolvimento de micro e pequenas empresas, cooperativismo e arranjos produtivos locais, ampliando o acesso a recursos financeiros e apoiando a prosperidade regional.
Cooperativa e empreendedorismo são dois lados da mesma moeda
Quando cooperativas enxergam em pessoas comuns a capacidade de empreender estão construindo pontes e conquistando aliados. O analista do Sebrae-SP aponta que cooperativismo desempenha um papel essencial no fortalecimento da economia local, promovendo o desenvolvimento coletivo e criando um ambiente propício à prosperidade. Diferentemente das outras empresas que só visam o lucro e a concentração de capital, as cooperativas priorizam a satisfação das necessidades econômicas e sociais de seus associados.
Ao unir trabalhadores em torno de objetivos comuns, o modelo cooperativo garante a proteção dos interesses de seus membros, oferecendo uma alternativa inclusiva e sustentável para o crescimento econômico. “Cada vez mais, torna-se necessário cooperar para competir em mercados acirrados, dominados pelas grandes empresas”, pontua.
E é nesse cenário que os pequenos negócios encontram no cooperativismo uma maneira eficaz de competir. “Unindo forças, associando recursos e integrando competências, os pequenos negócios terão maior poder de barganha para comprar e vender, melhores condições de acesso a serviços e maior representatividade”, completa.
“Temos dito muito no Sidredi: o nosso trabalho é feito de forma nacional, mas com foco local, na comunidade”, complementa Regis.
Diversidade e cooperativas: uma aliança estratégica
Buscando impactar o regional é possível acessar a diversidade dentro do empreendedorismo. Com milhões de brasileiros, especialmente mulheres, ingressando no mercado como empreendedores, as cooperativas precisam adotar estratégias inclusivas para se manterem relevantes. De acordo com o Sebrae, o Brasil é o 7º país com o maior número de empreendedoras, com 32 milhões de mulheres liderando seus próprios negócios. Esse público representa 46% dos empreendedores iniciais.
Celso Regis explica a importância da inclusão: “As cooperativas têm se mostrado uma força vital no apoio ao pequeno empreendedor. Temos programas que facilitam o acesso ao crédito, mas também trabalhamos para oferecer capacitação, o que é fundamental para quem está começando. Nosso compromisso é com o desenvolvimento sustentável das comunidades.”
Cooperativas como agentes de transformação da economia brasileira
Quando as cooperativas tomam a decisão de serem mais que instituições financeiras, elas firmam parcerias estratégicas para o desenvolvimento do empreendedorismo brasileiro e, consequentemente, a economia como um todo.
Os micros e pequenos empreendedores, especialmente mulheres que estão se tornando protagonistas no mercado, buscam abordagens que os coloquem como prioridade, que acreditem em seus projetos quando bancos tradicionais viram as costas.
O futuro do empreendedorismo no Brasil está diretamente ligado à capacidade das cooperativas de se adaptarem e de continuarem oferecendo soluções inovadoras e inclusivas. Ao promover a diversidade e apoiar públicos variados, elas garantem não só sua relevância no mercado, mas também um impacto duradouro na economia e na sociedade como um todo.
Por Andrezza Hernandes – Redação MundoCoop
Matéria exclusiva publicada na edição 120 da Revista MundoCoop