“Vestir a camisa da empresa” é uma frase que por muitos anos foi usada para definir o funcionário-padrão, aquele que estava sempre disposto a fazer de tudo pelo lugar que trabalhava, certo? Mas, nos dias de hoje, é cada vez mais comum que as empresas usem o perfil das redes sociais de seus colaboradores, além de diversos canais digitais, para fazer a frase valer. Com outro sentido, claro. Ou seja, o marketing corporativo passou a notar que ter funcionários-influenciadores vale mais do que investir em campanhas mirabolantes e que custam caro para o caixa da empresa.
A tendência para o ano 2024 é, portanto, investir nos chamados embaixadores corporativos. Lívia Gammardella, Diretora de Marketing e Digital da Latam Intersect PR, explica como isso tem se tornado uma estratégia cada vez mais usada para estreitar o relacionamento entre a marca em si e o seu público-alvo. “Essa é uma ação que já está sendo posta em prática. Vemos empresas utilizando seus colaboradores para criar conteúdo no TikTok e outras investindo em planos de ‘employer engagement’ para o LinkedIn, além de trabalharem no posicionamento de seus executivos na plataforma”, cita a especialista, acrescentando que, ao observar mais profundamente, a tendência reflete uma vontade uníssona de todos que consomem conteúdo em redes sociais. “Estamos falando de conexões reais, profundas e humanizadas. Um humano falando para outro humano, de fato, se alinha muito mais a essa vontade do que uma criação de conteúdo rígida feita por uma marca”, completa.
No entanto, antes de partir para a aplicação dessa estratégia é necessário, claro, conhecer o seu público e entender detalhadamente a sua audiência. Isso deve ser feito por uma agência especializada em comunicação, que fará esse raio-x para analisar quais ações serão realizadas. “Só assim podemos começar a pensar no conteúdo. Como dizemos aqui, na agência: não se trata apenas de sua marca, mas sim do seu cliente. Ou seja, ao planejar que tipo de conteúdo seu colaborador irá criar, pense em como ele pode beneficiar e trazer entretenimento, informação, proximidade e conexão para quem estará assistindo”, explica a Diretora de Marketing e Digital da Latam Intersect PR.
E se a máxima vale para empresas, por que o cooperativismo não poderia surfar nessa nova onda? Lívia confirma. “As cooperativas podem se beneficiar de igual maneira dessas iniciativas. A humanização de organizações é uma pauta em alta para todos os setores e requer atenção daqueles que desejam se posicionar à frente em inovação. A estratégia deve ser a mesma, focada em mostrar produtos, serviços e cotidiano de maneira autêntica e profunda, tendo sempre como objetivo final se conectar com o usuário e trazer a ele benefícios, informações ou momentos de descontração”, observa.
Quem já está deslizando por essas águas é a Cresol Confederação, cooperativa voltada para finanças. Adriano Michelon, vice-presidente da cooperativa, afirma que o posicionamento da Cresol como instituição financeira cooperativa já traz em sua essência elementos como a proximidade e a simplicidade. “Para exercitar essas palavras na prática, é preciso ter pessoas que vivam e acreditem no cooperativismo. Pessoas conhecedoras do nosso modelo de negócio e da nossa missão de gerar desenvolvimento para os cooperados, para suas empresas e para as comunidades. Então, promover o engajamento e a atuação dos nossos colaboradores como embaixadores da Cresol é transmitir essa cultura cooperativista. Assim, despertamos o orgulho em pertencer, em fazer parte de algo grandioso, que realmente transforma vidas”, declara.
“As cooperativas podem se beneficiar de igual maneira dessas iniciativas. A humanização de organizações é uma pauta em alta para todos os setores e requer atenção daqueles que desejam se posicionar à frente em inovação”
– Lívia Gammardella, Diretora de Marketing e Digital da Latam Intersect PR
Segundo Adriano, a estratégia tem dado certo. Mas ele confessa que, mesmo usando a tecnologia a seu favor e os seus funcionários como forma de narrar a história da cooperativa, ele não abre mão de usar o que levou a cooperativa a se tornar tão conhecida: buscar uma relação estreita com seu cooperado. “Hoje, essa atuação dos colaboradores e dos cooperados — com suas histórias — como embaixadores está em alta nas redes sociais, mas entendemos que o relacionamento do dia a dia, o ‘boca a boca’, ainda é um canal muito forte para propagação de informações. Por isso prezamos por ter um relacionamento próximo com o cooperado, que o nosso colaborador lá da agência conheça de fato quem ele atende, se integre com a comunidade, para assim gerar essa identificação espontânea”, diz.
Busque o longo prazo e nada de imediatismo: invista onde o seu público está
Com a quantidade de informação recebida atualmente, claramente proporcionada pelo mundo digital que vivemos, as empresas devem saber em que canais investir e não pensar em nada de imediato, mas que vise o longo prazo. Uma das plataformas mais em alta é o TikTok, que dá prioridade à promoção de conteúdos orgânicos, criados por pessoas comuns. Já o LinkedIn, uma rede social corporativa, é também muito usada para reputação da marca e recrutamento. “É necessário entender em qual plataforma a sua marca deve estar para ter boa performance orgânica nos posts. Promover ações que encorajem seus colaboradores a não só participar na criação das postagens, mas também interagir compartilhando, comentando e curtindo pode impulsionar seu conteúdo para que chegue a mais pessoas de maneira orgânica”, analisa Lívia Gammardella, Diretora de Marketing e Digital da Latam Intersect PR,
Segundo a especialista, o ideal é mesclar o conteúdo humanizado de acordo como cada rede social o adota para, depois, investir em impulsionamento. “Com isso sendo feito, os custos em anúncios podem sim ser reduzidos se construída uma boa estratégia de comunicação nesses canais, utilizando colaboradores para a criação de conteúdo, já que um vídeo orgânico e sem investimento pode viralizar em questão de segundos se feito da maneira correta”, ensina.
Com esse primeiro passo dado, as conversões instantâneas não devem ser vistas como algo a se conquistar logo no início. Gammardella reforça que para ser uma marca querida e ter uma comunidade engajada é o que as diferenciam das demais e formará um público fiel com presença perene. “Ao compreender a importância de conexões mais próximas e adaptar os conteúdos para que façam sentido e ressoem com os anseios da audiência, as cooperativas conseguirão tirar proveito dessa tendência e se posicionarem à frente do mercado”, pontua.
Por isso, Lívia acredita não se tratar de uma moda passageira. “A criação de conteúdo que temos hoje está se tornando ultrapassada e não gera mais o mesmo retorno que antes. Hoje em dia, quando seguimos perfis nas redes sociais, queremos saber os detalhes, a rotina, os pormenores para nos sentirmos amigos íntimos. Até pouco tempo atrás, empresas e criadores de conteúdo se distanciavam do seu público, criando uma imagem de superioridade, que era o que se acreditava que posicionava algo ou alguém como especialista ou referência em determinado assunto. Porém, acredito que com a maturidade que fomos desenvolvendo como sociedade em relação às mídias sociais, isso foi se tornando cada vez mais raso e trazendo um sentimento de escassez. Por isso vemos hoje uma onda crescente de usuários buscando aproximação e sensação de pertencimento”, observa.
É justamente essa sensação de intimidade que se cria entre empresa e seguidor, trazendo o colaborador para o centro do cenário, que gera maior confiança e credibilidade da marca. A especialista em marketing cita uma pesquisa recente, que demonstrou: os Millennials confiam 50% mais no conteúdo gerado por usuários do que no conteúdo original gerado pelas marcas. “Aposto que esta será uma nova realidade e não somente uma moda passageira. Acredito que cada vez mais veremos iniciativas buscando maior proximidade, e não o contrário. Ao se tornarem parte dessa área fundamental da cooperativa, acredito que um clima de conexão com a comunidade consumidora é aprofundado, alinhando a identidade da organização com uma imagem autêntica de seus talentos”, explica.
Se tem dado certo? Pelo menos, a Cresol não tem do que reclamar. “Essa predisposição de defender ou de indicar a Cresol, por exemplo, é reflexo de tudo isso e, com certeza, ficamos muito felizes de poder contar com pessoas comprometidas com a nossa instituição”, finaliza Adriano Michelon, vice-presidente da Cresol Confederação.
Dicas valiosas para se sair bem
- Equilibre investimentos, principalmente no começo. Foque no conteúdo, já que isso pode trazer mais pessoas para sua página para conhecerem e consumirem seu conteúdo.
- Entenda em qual plataforma está: isso é essencial para ter boa performance orgânica nos posts.
- Promova ações que encorajem seus colaboradores a não só participar na criação das postagens, mas também interagir compartilhando, comentando e curtindo.
- Aposte em vídeos e formatos de áudio, pois são os conteúdos que as plataformas estão priorizando ultimamente. Invista na criação de conteúdo em vídeo para alcançar melhores resultados nas redes sociais e transmitir mais transparência aos usuários.
- Um planejamento estratégico por trás de qualquer tipo de comunicação é essencial para alinhar os objetivos da empresa, entender o que o público quer ouvir e entregar conteúdo que esteja de acordo com as últimas tendências.
- Organização é tudo! Trace planos, pense na estratégia de execução e entrega como um todo para que as campanhas se alinhem com as expectativas da cooperativa.
- Crie conteúdo estratégico com muito estudo e compreensão do cenário. Apesar de parecer um trabalho difícil, é a única coisa que garantirá resultados efetivos.
- É essencial entender as necessidades da empresa e de seu público, encontrando um ponto de interseção que faça sentido para ambos os lados. Isso é vital para garantir retorno sobre o investimento feito nesse tipo de produção.
- Além de beneficiar a cooperativa e sua presença nas redes sociais, essa iniciativa também pode ser trabalhada de maneira a servir de motivação e engajamento dos colaboradores, desenvolvendo estratégias de participação que visam reconhecer e trazer visibilidade para eles.
- Identifique quais colaboradores se alinham mais com o que se espera desse conteúdo, para trazer pessoas que tenham proximidade com as redes, familiaridade com a câmera e dispostas. A pré-seleção de talentos é essencial para obter bons resultados.
- Tenha programas que visem reconhecer e recompensar esse tipo de atividade.
- Posicione-se à frente da concorrência e sempre fique de olho no que os outros estão fazendo.
Por Leticia Rio Branco – Matéria exclusiva publicada na Revista MundoCoop Edição 117
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