Todos os cooperados das cooperativas e dos bancos de créditos residentes e nascidos no Brasil agora podem contar com a ampliação do Procapcred. O programa chegou em boa hora, já que em tempos difíceis, as cooperativas precisam de recursos para investir em seus produtos, serviços, maquinários, mão de obra, entre outras coisas.
O recurso é um dos vários que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) anunciou mudanças recentemente. O Procapcred ganhou o acréscimo de R$2 bilhões no orçamento, além da ampliação da linha de crédito em dólar e da captação de R$800 milhões em Letras de Crédito do Agronegócio (LCA). Com o programa, as cooperativas de crédito aumentaram a sua participação no mercado de crédito nacional, ampliando as suas carteiras em junho de 2023 para R$350 bilhões.
Em uma análise realizada pelo BNDES, as parcerias com o cooperativismo vêm se ampliando no decorrer dos anos, tanto em volume de financiamentos, quanto no de transações. Essas organizações têm se tornado cada vez mais presentes no setor financeiro e atualmente respondem por mais de R$380 bilhões em um mercado com constante crescimento.
De 2022 a 2023, o BNDES apontou um crescimento de 63% em desembolsos para as cooperativas. Em 2022, foram R$14,6 bilhões, enquanto no ano passado chegaram a R$23,8 bilhões, sendo que R$17,1 bilhões ou 72% do total foram liberados para micro e pequenas empresas e micro e pequenos produtores rurais.
A Organização das Cooperativas Brasileiras (Sistema OCB) indica que atualmente existem no Brasil mais de 4600 cooperativas, 20 milhões de cooperados e 520 mil empregados. No Banco Central estão registradas 729 cooperativas de crédito, com 15 milhões de cooperados e uma carteira de crédito de R$360 bilhões, representando mais da metade da carteira do BNDES.
Para fomentar o crescimento sustentável das cooperativas, o BNDES se uniu ao Sistema OCB. A parceria tem como objetivo conseguir linhas de financiamento e de investimento para as cooperativas e cooperados.
Procapcred está mais abrangente
Para facilitar o processo de busca de recursos para as cooperativas, foram criadas várias linhas de financiamentos, que não envolvem apenas o Procapcred. Mas o Procap-Agro (Programa de Capitalização de Cooperativas Agropecuárias), Prodecoop (Programa de desenvolvimento cooperativo para agregar valor à produção agropecuária), Pronaf (Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar), Pronaf Cotas-Partes, Pronaf Agroindústria, Moderfrota e o PCA (Programa para Construção e Ampliação de Armazém).
“A solução atende a produtores rurais e cooperativas, que podem obter financiamento para projetos de investimentos, máquinas, equipamentos e custeio. A iniciativa beneficia os agroexportadores, sendo uma opção de taxa para dar segurança aos produtores que têm como foco o mercado externo e que, assim, não ficam expostos às variações do câmbio”, finaliza Abreu.
O Procapcred, que foi criado em 200 com o objetivo de auxiliar financeiramente as cooperativas de créditos, terá vigência até 2025. O programa também contribui com o desenvolvimento das comunidades, nas quais estão inseridas as cooperativas, garantindo mais condições para a liberação de crédito aos seus cooperados.
Alexandre Abreu, diretor Financeiro e de Crédito Digital para MPMEs do BNDES, explica que o BNDES decidiu manter o seu desenho original e incorporá-lo em definitivo ao seu portfólio em 2015. “O plano considera o potencial de contribuição das cooperativas de crédito para desconcentração bancária e pulverização do crédito”, diz Alexandre.
Desde o seu surgimento, o programa já aprovou cerca de R$1,4 bilhão em mais de 170 mil operações pelo programa. A cada R$1 bilhão colocados pelo BNDES serão viabilizados R$9 bilhões de créditos. Os financiamentos são oferecidos diretamente aos associados para a aquisição de cotas-partes do capital de cooperativas singulares de crédito.
O papel do BNDES Procapcred é induzir o crescimento da participação das cooperativas de crédito brasileiras no Sistema Financeiro Nacional (SFN), por meio de sua capitalização. Isso contribui para a redução da restrição, além de impactar positivamente no desenvolvimento regional do país.
Tânia Zanella, superintendente do Sistema OCB, conta que essa foi uma alteração significativa para os cooperados, pois antes apenas pessoas físicas de atividade produtiva, com caráter autônomo e pessoas jurídicas, tinham acesso aos recursos. As perspectivas são de que o programa resultará em um crescimento de 5 milhões no número de cooperados impactados.
O limite de financiamento foi ampliado de R$30 mil para R$100 mil por cliente a cada dois anos, em especial aos cooperados das regiões Norte e Nordeste. Para essas localidades, o spread básico de remuneração do BNDES passou a ser de 0,8% ao ano, contra o 1,1% anterior, e o prazo máximo do financiamento passou a ser de até 15 anos. Nas demais regiões, o limite foi ampliado de 10 para 12 anos, com carência de até dois anos.
Outra novidade é a linha em dólar, que será direcionada aos agricultores e pecuaristas que exportam os seus produtos. A modalidade teve uma redução em seus juros para 7,9% ao ano e com esse recurso é possível fazer investimentos em custeio e armazenagem.
“Uma conquista importante anunciada pelo BNDES foi a supressão da exigência de apresentação do projeto, que define o plano de capitalização das cooperativas singulares, emissoras das cotas-partes para a concessão dos financiamentos. Isso simplifica o processo, facilitando o acesso aos recursos pelas cooperativas de crédito”, explica Tânia.
A operacionalização do Procapcred se dá na modalidade indireta automática, em que os recursos são obtidos diretamente junto às cooperativas de crédito credenciadas no BNDES, como a Cresol, Sicredi, Sicoob, Ailos, Coopavel, Primacredi, Credicoamo, Uniprime e CrediSIS.
Recursos ampliam capacidade de negócio das cooperativas
Frimesa e Lar, cooperativas localizadas no Paraná, receberam financiamentos significativos, resultando em um impulsionamento de sua atividade. Enquanto a Frimesa recebeu um total de R$490 milhões, a Lar contou com o montante de R$143,9 milhões. Segundo elas, a verba será destinada à construção de novas unidades e produção e ao fortalecimento do cooperativismo agropecuário brasileiro.
Já o Sicredi, grande parceiro do agronegócio, vai liberar R$8,2 bilhões para operações com pessoas físicas e jurídicas de micro, pequeno e médio porte, além de produtores rurais. Gustavo Freitas, diretor Executivo de Crédito do Sicredi, explica que a organização construiu uma parceria com o BNDES ao longo dos anos, gerando resultados para o desenvolvimento econômico e social nas regiões em que atuam. Qualquer cooperado pode pedir o recurso oferecido pelo Procapcred. Basta procurar uma cooperativa de crédito e apresentar a documentação solicitada. Após isso, a instituição fará a análise das possibilidades de concessão do crédito e negociar as garantias. “Assim que aprovada, a operação é encaminhada ao protocolo do BNDES para homologação e liberação dos recursos”, explica Zanella.
As medidas anunciadas beneficiam todos os brasileiros, uma vez que ampliam as possibilidades de crédito para quem precisar. Isso inclui principalmente, os produtores rurais, que precisam da garantia do acesso a recursos para a manutenção de suas atividades.
“O setor contará com mais essa ferramenta para dar continuidade ao seu processo de fortalecimento e expansão. Nossa expectativa é de que o orçamento dedicado ao programa seja incrementado para a estrutura patrimonial das cooperativas, auxiliando na expansão de suas carteiras de crédito e auxiliando os cooperados no acesso aos recursos com um custo mais justo”, lembra Tânia.
Cooperativas de crédito colaboram com economias locais
Recentemente, o BNDES desenvolveu um estudo para analisar o comportamento das cooperativas de crédito no acesso ao mercado, em especial com relação às empresas de menor porte e de risco mais elevado. A publicação constatou em especial o quanto essas instituições estimulam e contribuem para as economias locais e dinamizam os movimentos dos ciclos econômicos.
Outro fator apontado foi o de que as cooperativas de crédito tiveram um aumento em suas buscas por recursos junto aos programas do BNDES nas últimas décadas, passando de 1,6% em 2014 para 13,6% em 2023. O Procapcred alcançou no ano passado mais de R$500 milhões de desembolsos, utilizados para financiar a aquisição de cotas dos cooperados. Em junho de 2023, as micro e pequenas empresas respondiam por mais de 50% das operações da carteira de crédito de pessoa jurídica das cooperativas, enquanto os bancos privados representavam cerca de 25%.
Com relação aos riscos, as cooperativas tinham 52% das operações com empresas de risco B ou inferior, já os bancos privados atendiam a 33% dos clientes com esse perfil. Em dezembro de 2022, os ativos totais do SNCC já representam R$590 bilhões. Uma taxa de crescimento 2,5 vezes superior à do Sistema Financeiro Nacional (SFN).
Por Priscila de Paula – Redação MundoCoop
Discussão sobre post