Na última década o Brasil presenciou uma crescente na sua produção agropecuária. Com a atividade em pleno vapor, a necessidade de ter linhas de crédito para esses produtores tornou-se uma preocupação nacional, com a democratização dos recursos sendo um dos pilares dos próximos anos.Com a alta demanda, novos players precisaram entrar neste mercado, oferecendo linhas de crédito e consórcios direcionados para maquinários, insumos e outros. De olho neste cenário, as cooperativas rapidamente entraram neste mercado. E em 2023, o processo de adequação ao setor de consórcios, se tornará ainda mais simples.
A partir de julho deste ano, o processo de constituição de uma administradora de consórcios por cooperativas, se tornará mais simples, com a entrada em vigor das Resoluções BCB 233 e 234, do Banco Central (responsável por autorizar a criação desse tipo de modalidade). Segundo Camila Araújo, advogada da área do Direito Empresarial, especializada em mercado financeiro e fundos de investimentos na Martinelli Advogados, as novas resoluções trarão grandes avanços para as cooperativas.
“Com as novas Resoluções, o processo de autorização de constituição e funcionamento das administradoras de consórcio deverá ficar mais simples, pois será predominantemente declaratório. Além disso, como aspectos regulatórios, a nova regra passará a exigir a elaboração, pela administradora de consórcio, de política de governança, a regulação prudencial, que incluirá novas definições para os limites operacionais aos quais estão sujeitas as administradoras de consórcio, além de uma nova lista de medidas prudenciais preventivas, que podem ser adotadas pelo Banco Central nas administradoras de consórcio, a fim de assegurar a solidez e regular o seu funcionamento, bem como eliminará algumas formalidades no processo de constituição”, explica.
O “boom” do crédito e novos avanços
Mas como o cenário de crédito chegou neste ponto, onde múltiplos players brigam pela atenção do cooperado em busca de crédito. Afinal, os mais de R$ 200 milhões do Plano Safra 2022/23 não são o suficiente? Apesar do número alto, tais recursos não são suficientes para a demanda que o país apresenta, uma vez que – ao desmembrarmos os números – R$ 136,6 bilhões foram destinados apenas para os financiamentos de custeio.
Para Araújo, tal cenário foi a chave para a configuração do mercado que vemos hoje, onde a oferta de crédito não parte apenas de bancos, mas também de fintechs e cooperativas. “O aumento dessa demanda se deu em razão, principalmente, das altas dos juros, o que gerou a necessidade de novas alternativas ao tradicional modelo de financiamento bancário. E essas alternativas surgiram justamente com o processo de crescente modernização da regulação no país, que possibilitou a criação das fintechs de crédito”, frisa.
Com mais pessoas em busca de crédito, grandes sistemas como a Cresol, Sicoob e Sicredi, rapidamente constituíram suas próprias administradoras de consórcios, tornando mais fácil o oferecimento deste tipo de serviço. Inúmeros são os benefícios para as cooperativas, e principalmente para o cooperado; que passa a ver a marca registrada do trabalho das cooperativas, também no processo de tomada de crédito.
Segundo Araújo, a constituição de consórcios por cooperativas é um movimento necessário, para que o sistema como um todo possa suprir as necessidades de crédito do mercado.
“Com a constituição de uma administradora de consórcio próprio, a cooperativa poderá otimizar o atendimento das necessidades dos cooperados, além de permitir um modelo de financiamento com potencial de geração de receitas por meio do recebimento da taxa de administração do grupo de consórcio. O setor é beneficiado a partir do momento que o consórcio é utilizado como ferramenta de financiamento aos cooperados na aquisição de bens e serviços em melhores condições”, explica. Além disso, tal cenário traz ainda um cenário positivo para o produtor, que ganha em aspectos que vão muito além das taxas praticadas. “Isso possibilita um ganho de produtividade e eficiência para o setor, trazendo segurança para o cooperado, que não precisa depender do crédito bancário, na condição de produtor, para, por exemplo, adquirir máquinas agrícolas. Ainda, capitalizam toda a cadeia de valor da cooperativa, quando a administradora atuar em conjunto com outras estruturas financeiras”, complementa.
Com a subordinação da administradora de consórcio pela própria cooperativa, o associado tem para si um cenário que se iguala a aquele visto nas cooperativas de crédito, com taxas mais atrativas, formas de pagamento que cabem no bolso do produtor e um acompanhamento mais próximo, tornando mais dinâmica a relação e o entendimento do produtor em relação ao consórcio que ele está adquirindo.
Democratizar para crescer
Com a democratização e pulverização do crédito, através de novos players como as cooperativas, cria-se para os próximos anos um cenário de maior competitividade e equilíbrio na produção. Diante da possibilidade da tomada de crédito por produtores que se encontravam fora do sistema visto até hoje, a cadeia como um todo se fortalece, com as cooperativas atuando como uma importante base para o funcionamento desse ecossistema.
“O processo crescente de modernização do ambiente regulatório brasileiro vem favorecendo cada vez mais a pulverização da oferta de crédito no país, já que permitiu que as fintechs de crédito e cooperativas, ingressassem no mercado de financiamento, com taxas de juros mais atrativas e processos menos burocráticos”, finaliza Araújo.
Seja através dos consórcios ou novos modos de oferecer crédito ao cooperado, é fato que os próximos anos devem ter um grande objetivo: permitir que o acesso aos recursos não fique limitado a um grupo ou região específica. E as cooperativas, presentes nos quatro cantos do país, possuem plena capacidade de mudar este cenário.
Por Leonardo César – Redação MundoCoop
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