A Pesquisa Febraban de Tecnologia Bancária apontou que setor financeiro brasileiro viu um aumento de 251% nas transações móveis nos últimos cinco anos. As cooperativas, conhecidas por seu atendimento personalizado e próximo, buscam se adaptar a esse cenário digital sem perder sua essência.
Segundo Claudio de Moraes, da UFRJ/COPPEAD, a transformação digital facilitou o acesso financeiro e aumentou a competição, com fintechs e bancos digitais melhorando o serviço, embora não tenham reduzido custos.
Com a rápida adoção das transações móveis, as instituições financeiras precisaram repensar suas operações. Segundo Moraes, os bancos tradicionais enfrentaram desafios ao tentar digitalizar seus processos, muitas vezes com executivos que ainda possuíam uma mentalidade analógica. “A solução encontrada pelos grandes bancos foi radicalizar, criando instituições puramente digitais, sem intermediários, o que foi essencial para suportar o crescimento massivo das transações móveis”, explica o professor.
A evolução do Pix
Adentrando esse novo cenário, o Pix representou 39% das transações, segundo as Estatísticas de Pagamentos de Varejo e de Cartões no Brasil do Banco Central em 2023, enquanto as operações com cartões (crédito, débito e pré-pago) somaram 41%.
Em julho, novas regras do BC para o Open Finance visam simplificar os pagamentos e introduzir o Pix por aproximação, com testes previstos para novembro de 2023 e lançamento público em fevereiro de 2025. A nova regulamentação permitirá a iniciação de pagamentos sem redirecionamento, proporcionando que os consumidores realizem pagamentos diretamente em e-commerces ou através de carteiras digitais.
As cooperativas podem se adaptar às mudanças adotando uma abordagem estratégica que inclui a atualização de suas tecnologias, a capacitação de seus colaboradores e a comunicação eficaz com seus associados. “O primeiro grande desafio é ter uma gestão fluida, porque no meio digital, as transações são muito fluidas. Então, é necessário ter processos muito bem estabelecidos no âmbito de TI”, pontua Moraes.
Cooperativas financeiras investindo em digitalização
De olho nessas demandas, o Sicoob, sistema cooperativo financeiro, em março desse ano, alcançou a marca de 8 milhões de usuários, um crescimento de 11% em relação ao mesmo mês do ano anterior. Destes, 77% utilizam canais digitais, demonstrando a eficácia da estratégia de digitalização. Além disso, dos 840 mil novos cooperados registrados em 2023, 325 mil aderiram à instituição por meio digital. Atualmente, 80% dos cooperados são pessoas físicas e 20%, pessoas jurídicas.
“Desenvolvemos interfaces de usuário fáceis de navegar e otimizadas para dispositivos móveis, tornando as transações rápidas e sem complicações, o que aumenta a satisfação do usuário”, explicou Edson Lisboa, superintendente de Sistemas da Informação do Sicoob.
Para alcançar esses números, o Sicoob investiu na diversificação dos canais digitais, com sete aplicativos diferentes, além de serviços como atendimento via chatbot e caixas eletrônicos, além da implementação do Open Finance – sistema aberto que o usuário pode reunir todas as suas contas bancárias – que resultou em um aumento de 13% nas associações durante a jornada de adesão digital.
Ainda esse ano, a Unicred implementou o Open Finance e o Sicredi, que também utiliza esse sistema, acrescentou duas novas funcionalidades, que permitem aos usuários trazer dinheiro de outra instituição pelo aplicativo e autorizar o compartilhamento do histórico financeiro via WhatsApp – permitindo a cooperativa levar ofertas personalizadas aos associados.
A Sisprime do Brasil criou o Comitê de Inteligência Artificial (CIA) para coordenar a implementação de soluções de IA, com o objetivo de otimizar serviços, reduzir custos e expandir o uso da tecnologia em diferentes áreas da cooperativa. O comitê também analisará oportunidades de aplicação da IA.
O que o cooperativismo tem feito pelas fraudes?
Assim como oportunidades estão surgindo, problemas ainda se fazem presente. As fraudes digitais, por exemplo, têm aumentado substancialmente nos últimos tempos, no Brasil, para se ter uma ideia, a cada 3,2 segundos, uma nova tentativa de golpe financeiro acontece. Um estudo da ClearSale, empresa especialista em inteligência de dados para a prevenção de crimes financeiros, revela que, na primeira metade de 2024, ocorreram mais de 1 milhão de tentativas de fraude, somando R$ 1,2 bilhão, deixando uma sensação constante de insegurança digital.
Lisboa pontuou como o Sicoob age na prevenção de fraudes, tendo a Inteligência Artificial como uma aliada. “Utilizamos sistemas de inteligência artificial para monitorar e analisar comportamentos atípicos em tempo real, identificando e bloqueando transações suspeitas antes que elas sejam concluídas, reduzindo a incidência de fraudes”.
Para enfrentar esse problema, as cooperativas, de todo o Brasil, lançaram a campanha #CliqueConsciente Juntos por Mais Segurança Digital. A iniciativa visa fortalecer a proteção no ambiente digital, promovendo o conhecimento e as melhores práticas para identificar e reagir a golpes.
Para Claudio de Moraes, as cooperativas encontram-se em uma posição única nesse cenário de fraudes bancárias, por possuir um ambiente mais controlado e menos suscetível a esses golpes. “A cooperativa tem familiaridade com cooperados, o que gera, por controle maior de dados, uma redução da assimetria de informação muito grande e uma vantagem competitiva, porque o custo e a probabilidade de fraude são reduzidos pela forma como a cooperativa é estruturada”, pontua.
Perspectivas para o futuro
Moraes acredita que as transações digitais continuarão crescendo, com desafios na atualização segura dos sistemas. “O processo é muito acelerado e você não documenta as atualizações. Então, os erros e as correções de erros ficam totalmente fora de um sistema tradicional de pensamento que tínhamos, onde tudo era organizado com início, meio e fim”, acrescenta.
O Sicoob entende que é necessária uma mudança estrutural com maior proatividade. “Para se preparar continuamente para o aumento das transações digitais, adotamos uma abordagem proativa e evolutiva, combinando tecnologia avançada, segurança rigorosa, foco no cooperado e uma cultura organizacional aberta à inovação”, informa Lisboa.
Como conclui Moraes, a digitalização pode, e deve, andar de mãos dadas com os princípios cooperativistas, garantindo que, ao adotar novas tecnologias, as cooperativas continuem promovendo o desenvolvimento sustentável das comunidades em que atuam.
Por Andrezza Hernandes – Redação MundoCoop
Matéria exclusiva publicada na edição 119 da Revista MundoCoop
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