Ser ESG, um objetivo de corporações comprometidas com seu entorno, com a sociedade. Sigla para “environment, social and governance”, isto é, “meio ambiente, social e governança”, o conceito ESG por vezes é reduzido, ou mesmo distorcido, para atender meramente a estratégias de marketing. É preciso fazer valer, com ações práticas, concretas e perenes, o que o termo prega.
Termo, aliás, que surgiu pela primeira vez em 2004, em relatório da Organização das Nações Unidas (ONU). Lá se vão portanto quase 20 anos, e no Brasil apenas 0,025% das empresas brasileiras se mostram definitivamente engajadas em aplicar os três pilares ESG. Como acelerar o movimento? Qual o caminho para se tornar ESG?
Entendo que a busca por um posicionamento nesse sentido passa pela chamada economia compartilhada. Valem ainda conceitos similares, como o de economia colaborativa ou economia circular. No entanto, assim como ocorre com ESG, esses conceitos devem ser aplicados em profundidade. Não é o que vem ocorrendo. Há uma visão muito equivocada sendo difundida.
Economia compartilhada ou colaborativa autêntica tem de ser aquela em que produtos, serviços e soluções de fato representem mitigar impactos das diferentes atividades. Ainda, que o conhecimento e as receitas geradas sejam compartilháveis entre todos os envolvidos no processo. Não se trata de inventar a roda: é, em essência, a adequação do tradicional princípio do cooperativismo para um cooperativismo de plataformas.
Esse princípio, sim, caminha para reduzir efeitos ambientais, promover equidade social, assegurar uma governança eficiente. Hoje, não é o que vemos. O que está se convencionando chamar de economia compartilhada, em realidade quase nada (ou nada) tem de compartilhamento. Os ganhos se concentram nos detentores e acionistas dos negócios, e as soluções levam a demandas que só acentuam impactos socioambientais.
A título de ilustração, cito os aplicativos de mobilidade e os de entrega. Eles causam a falsa sensação, por exemplo, de que diminuem a poluição urbana e o número de veículos circulando: deixamos o automóvel em casa para nos deslocarmos por carros de aplicativo. Só que a quantidade incrível de carros desse serviço para atender a demanda tem custo energético, tem efeitos no tráfego das cidades.
Outro caso que tem relação direta com o setor de logística – ramo de atuação da CargOn, logtech a qual dirijo: as pessoas cada vez mais querem pronta entrega, e as plataformas garantem o envio do pedido em tempo recorde. Ora, isso tem um custo energético e, portanto ambiental muito grande. Um veículo, em vez de sair quando estiver com sua carga completa, roda a todo instante, para viabilizar o imediatismo da entrega prometida pelo fornecedor, e almejada pelo cliente. O foco precisa ser a otimização da logística.
Vamos pensar nisso?
Ou seja, não adianta um negócio se autoproclamar ESG, mesmo que realizando ações interessantes, se efetivamente sua atuação não contribui para um ambiente mais sustentável. Pelo contrário, agrega novos impactos ambientais, sociais e de governança. Reparem: o que estão chamando de economia colaborativa tem promovido uma concentração sem precedentes de poder tecnológico, em quatro, cinco grupos de bigtechs.
Economia compartilhada, enquanto percurso para ESG, é aquela em que os resultados são de e para todos, não de um ou dois proprietários. E veja, não se trata de utopia. O cooperativismo há décadas nos aponta esse caminho. Blockchain e criptomoedas, por exemplo, em seu conceito raiz, produtos desta era tecnológica, criados para não terem donos, usando tecnologia compartilhada e colaboração. Não existe um “dono” de blockchain – ele é de todos os participantes.
Podemos, sim, ir por aí. Basta começarmos.
*Denny Mews é fundador e CEO da logtech CargOn
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