COOP É TECH, COOP É POP
Muito se fala da necessidade das cooperativas de inovar, e de como è preciso sempre olhar ao futuro, mas è curioso ver como um foco excessivo no futuro pode ser prejudicial.
Um exemplo claro vem da Nike: a gigante de calçados e roupa esportiva começou seu 2024 com um layoff de 1600 pessoas e um valor da ação em queda livre, porque focou excessivamente no futuro: investiu demais nos canais Direct-to-consumer (DTC, ou seja canais de comercio eletronicos diretos ao consumidor), que representam o futuro, sim, mas que trouxeram complexidade a operação e acabaram atrapalhando na relação com os varejistas – que eram um grande parceiro da Nike.
Ao mesmo tempo, è fundamental que as organizações foquem no presente – maximizando seu resultado e mantendo o que está funcionando. Afinal, o resultado vem disso, não è? O problema, è que também isso è contraprodutivo quando o foco no presente è excessivo. Pense no Starbucks: no dia em que o Brian Niccols, CEO do Chipotle trocou seu emprego de “fazer burritos” para “preparar café”, assumindo em Agosto 2024 como CEO do Starbucks, as ações do Starbucks dispararam mais de 14%, numa onda de otimismo: afinal, a receita da empresa caiu 1,8% no primeiro trimestre de 2024, impulsionada pela queda nas vendas em lojas nos Estados Unidos e no exterior. Simplesmente o foco em maximizar o resultado fez com que as filas nas lojas aumentassem – e isso gerou um grande problema de confiaça com o consuidor.
Finalmente, è também óbvio que empresas que se apegam demais ao passado, insistindo em práticas e produtos que foram bem-sucedidos em outras épocas, mas que já não atendem mais às necessidades dos clientes ou do mercado atual, vão ficar para trás.. Esse apego pode ser confortante, assim como foi para mim pensar no meu contexto anterior, mas pode impedir a empresa de evoluir e se adaptar às novas realidades. Pense em Kodak, Blackberry, Nokia, Blockbuster, e afins.
Está claro então ter foco excessivo em uma dessas 3 grandes áreas – presente, passado, e futuro – não funciona. O que funciona então, para gestores e líderes hoje em dia?
Igual um malabarista, o que mais funciona è manter as 3 “bolas” no ar ao mesmo tempo -o que em termos mais tecnicos e de negócios è chamado de ambidestria. O conceito de ambidestria organizacional é um termo que se refere à capacidade de uma organização em ser eficiente na gestão do seu negócio atual, enquanto, simultaneamente, é adaptável e inovadora para o futuro. O conceito de ambidestria foi discutido em profundidade por estudiosos como Charles O’Reilly e Michael Tushman. A ideia central é que as organizações precisam ser “ambidestras” para sobreviver e prosperar no longo prazo, equilibrando o foco no presente (eficiência operacional, melhoria contínua) com o foco no futuro (inovação, desenvolvimento de novos negócios).
Como ser ambidestros, porém?
O melhor modelo para ter ambidestria è o proposto em 2016 pelo professor da Tuck School of Business Vijay Govindarajam, que amplia o kit de ferramentas de inovação dos líderes com um método simples e comprovado para alocar a energia, o tempo e os recursos da organização—de forma equilibrada—através do que ele chama de “as três caixas”:
Caixa 1: O presente—Gerenciar o negócio principal na máxima lucratividade;
Caixa 2: O passado—Abandonar ideias, práticas e atitudes que possam inibir a inovação;
Caixa 3: O futuro—Converter ideias inovadoras em novos produtos e negócios.
Por muito tempo, vi com que frequência as organizações falham em investir de forma inteligente em seus futuros, enquanto colocam ênfase dominante no presente. Sem dúvida, a Caixa 1, que representa o presente, é vitalmente importante: ela é o motor de desempenho. Ela financia as operações diárias e gera lucros para o futuro. Os problemas surgem quando o presente ocupa todo o espaço e outras prioridades estratégicas são deixadas de lado—por exemplo, quando as únicas habilidades trazidas para um negócio são aquelas que servem ao core business.
No entanto, não é surpreendente que tantas organizações se concentrem principalmente—ou até exclusivamente—na Caixa 1. A Caixa 1, que representa o presente, é a zona de conforto delas, baseada em atividades e ideias que são comprovadas, bem compreendidas e firmemente enraizadas no negócio. A maioria das estruturas organizacionais das empresas foi construída sobre os sucessos do passado, refinadas ao longo do tempo para apoiar as prioridades do core business atual, e focadas em maximizar o fluxo de caixa e o lucro gerados pelo core business.
No entanto, senso de urgência é exatamente o que é necessário. Tornar-se desproporcionalmente devotado à Caixa 1, é um pouco igual ir na academia e só focar em uns determinados tipos de musculos: imagine que voje você malha para ser melhor no jiu jitsu, mas você vai correr a maratona daqui a 1 ano: manter o mesmo treino para as duas coisas não faria sentido. É o mesmo quando se foca demais no presente: é deixar “músculos organizacionais: vitais subdesenvolvidos; quando você precisar deles de repente, eles não estarão prontos. A única solução sensata é exercitar todos os grupos musculares da sua cooperativa regularmente, assim como você faria para manter sua forma física.
As três caixas, gerenciadas juntas e recebendo a devida atenção contínua, atingem um nível de equilíbrio que, a longo prazo, ajuda as cooperativas a evitar crises e ae a responder ás oportunidades futuras.
Por Andrea Iorio, palestrante, escritor best-seller e especialista em Transformação Digital e Inovação
Coluna exclusiva publicada na edição 119 da Revista MundoCoop
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