O potencial do Open Finance é colocar, de fato, o cliente no centro e no controle de suas decisões, acima de qualquer instituição. Ao criar um ambiente em que o relacionamento passa a ser aberto, o cliente terá muito mais liberdade e facilidade para acessar as melhores condições do mercado para cada produto que precisar. Por exemplo, ao invés de ficar restrito às ofertas de crédito do seu banco ou das instituições com quem já tem relacionamento, será possível compartilhar dados com outras instituições e obter propostas específicas para o seu perfil e histórico, podendo assim optar por algo compatível com a sua realidade financeira.
Nesse sentido, temos três efeitos principais que deverão ser observados à medida que o projeto avança e se desenvolve. Primeiro, o aumento da competição no setor, criando melhores condições para o cliente. Isso aumenta a competitividade de grandes bancos, uma vez que os dados poderão ser compartilhados. A grande sacada é que a modalidade coloca fintechs que estão iniciando no mesmo patamar de grandes bancos que processam folhas de pagamento há décadas.
Outro ponto é que cria-se uma maior relevância da experiência entregue ao usuário final. Hoje, o relacionamento está centrado no banco e nos seus produtos, mas com o avanço do Open Finance, surgirão agregadores cada vez mais sofisticados que entregarão melhor experiência e produtos que os próprios bancos.
De certa forma, é possível fazer o paralelo com marketplaces, como no caso do Mercado Livre no Brasil: o Mercado Livre entrega uma experiência de compra tão melhor que muitas vezes o consumidor prefere comprar o produto que deseja pela plataforma do que no site de alguma loja. A fidelidade do cliente acaba acontecendo automaticamente e nós veremos isso acontecer com bancos e instituições agregadoras em um futuro não muito distante.
Tudo isso se deu por meio do avanço tecnológico financeiro que o país está vivendo. Podemos observar isso claramente com a criação do Pix, por exemplo. Hoje, a tecnologia nos ajuda a lidar com dados, o que será crucial para a sobrevivência das instituições. De nada vale um ambiente aberto com toda essa possibilidade de troca de informações se o banco ou fintech não estiver apto a trabalhar essas informações da melhor forma.
Isso se traduz na habilidade de lidar com os dados, mas também na flexibilidade das aplicações que dão suporte a sua operação. Ter a habilidade de entender um cliente e criar um produto moldado para ele – e não mais para um perfil socioeconômico, classe social ou qualquer outro critério que “pasteuriza” todo um público – será a diferença entre a sobrevivência e extinção.
Bancos e fintechs precisam desenvolver suas capacidades de análise de dados e também contar com plataformas de core banking flexíveis para lidar com estes desafios. O compartilhamento de informações é peça central para o sucesso no ambiente aberto. No entanto, também representa um dos maiores desafios.
Além da própria padronização de informações – naturalmente estruturadas de formas diferentes entre as instituições – ainda há as preocupações relacionadas ao sigilo e segurança dos dados. Felizmente, o projeto conta com diversos mecanismos de segurança, como controles de consentimento, padrões tecnológicos e todo um processo de certificação. Apenas entidades autorizadas pelos órgãos reguladores poderão ter acesso aos dados.
Há, no entanto, um elo que sempre é o mais fraco: o usuário final, que terá que lidar com uma complexidade extra. Aqui cabem diversas oportunidades na criação de jornadas e experiências que reduzam a fricção e dá, definitivamente, poder para o cliente.
Por Bruno Samora, Matemático pela Unicamp, com especialização em gestão e estratégia de empresas, está na Matera desde 2004, foi Gerente da área de Sistemas de Gestão e Gerente da área de Retail e hoje ocupa o cargo de CPO. Especialista em Open Finance, meios de pagamento e fintechs, está há mais de 15 anos no mercado, desenvolvendo projetos inovadores.
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