Não foi por falta de alerta. Como o governo federal insiste em empurrar com a barriga o aperto fiscal, a inflação está subindo e se distanciando do centro da meta de 3%. Há, inclusive, o risco de o IPCA, índice oficial de preços, estourar neste ano o teto da meta de 4,5%. Para 2025, o mercado financeiro projeta uma inflação de 4%, ou seja, índice novamente acima do centro da meta.
Sem saída, o Banco Central (BC) passou a elevar a taxa básica (Selic) a partir de setembro, num ciclo de aperto monetário que deve se estender ao longo do ano que vem. O remédio utilizado é amargo, encarece o crédito, desaquece a economia e gera desemprego, mas é extremamente necessário para combater a inflação. Melhor seria, é claro, que o governo cortasse gastos e poupasse a sociedade desse sacrifício econômico.
É imperioso notar que a arrecadação de impostos vem batendo recordes todos os meses e, ainda assim, o déficit público não para de aumentar. Está claro, portanto, que o tão propalado ajuste fiscal precisa ser feito pelo lado das despesas. Afinal de contas, o Brasil já tem uma das maiores cargas tributárias do mundo e nós, consumidores e empresários, não aguentamos mais pagar impostos.
O efeito colateral do desequilíbrio fiscal é a alta do dólar, pois os investidores estrangeiros tendem a tirar recursos do País num cenário de desconfiança. Não é à toa que a moeda americana vem ganhando valor frente ao real nas últimas semanas. Quanto maior a cotação do dólar, mais a inflação fica pressionada, pois o Brasil importa insumos e produtos do mundo inteiro.
Os juros para consumo e investimento já estão subindo, o que desestimula a tomada de crédito por consumidores, empresários e empreendedores. Com receio de alta na inadimplência, os bancos apertam os cintos e passam a negar crédito para as micro e pequenas empresas. Neste contexto, surge uma enorme oportunidade para cooperativismo de crédito ganhar fatia de mercado. Com um modelo de negócio completamente diferente daquele adotado pelos bancos comerciais, as cooperativas financeiras tendem a serem protagonistas neste ciclo de aperto monetário, oferecendo crédito a quem mais precisa e com taxas justas.
Historicamente, o cooperativismo financeiro pratica as menores taxas de juros do mercado. Isso decorre de vários fatores. Em primeiro lugar, as cooperativas têm no seu DNA a inclusão social, colocando as pessoas no centro do negócio. Como o cooperado é um sócio, o lucro pelo lucro não é o objetivo final deste relacionamento. Claro que os bons resultados financeiros nas cooperativas são bem-vindos, pois garantem a sustentabilidade do sistema e a alegria dos associados, que recebem as sobras.
Aliás, esse relacionamento íntimo com os cooperados também explica os juros mais baixos. Na hora de aprovar uma operação de crédito, o gerente da cooperativa consegue mensurar o risco dos associados de forma muito mais assertiva, o que reduz o risco de inadimplência. Enquanto isso, os bancos normalmente mal conhecem os seus clientes. Vale salientar ainda que o associado tende a evitar um calote num negócio do qual ele também é socio.
Por mais oportunista que possa parecer, é nesses momentos de alta de juros que o cooperativismo de crédito se destaca. Quanto maior a Selic, maior o abismo entre as taxas cobradas por bancos e cooperativas. Trata-se de mais uma grande oportunidade de a sociedade conhecer as vantagens do cooperativismo financeiro. Que tal cada um de nós ajudar a propagar essa mensagem?
*Luís Artur Nogueira é economista, jornalista e palestrante. Atualmente é comentarista do programa “Faroeste à Brasileira” no Youtube da Revista Oeste e colunista da MundoCoop
Coluna exclusiva publicada na edição 120 da Revista MundoCoop