PROPÓSITO EM MOVIMENTO: Raízes, Rumos & Reflexões
Você é membro de um importante colegiado de sua cooperativa/seu sistema e, há tempos, temas delicados persistem prejudicando o alcance do propósito desejado pelos cooperados. Apesar da ciência do problema, ninguém o aborda nas reuniões, temendo ferir reputações ou criar conflitos.
Assuntos relevantes ficam apenas nos olhares, ganham vida em ciclos orbitais, mas ficam velados nas decisões centrais, encortinados e ignorados como se não existissem. Os membros têm ciência das questões sensíveis, nos bastidores demonstram interesse em solucionar, mas não avançam no debate durante o processo deliberativo.
Uma vez perguntei a um amigo, com muito trânsito efetivo nestes ambientes, por que isto ocorria. Com muita propriedade, ele me respondeu que, na visão dele, era excesso de respeito entre as pessoas.
Entendi que, pela forte pessoalidade do cooperativismo, essa aura de respeito tão elevada não permitia aos membros do colegiado inserirem temas que pudessem colocar em xeque a competência de alguém ou os efeitos de alguma decisão ou ainda, a conduta de determinado membro/diretor ou cooperativa integrante. Logo, qualquer risco imaginário de ferir a reputação ou pôr dúvida sobre um tema e correr o risco de ser interpretado como ovelha negra do colegiado e se tornar um pária dentro daquele ambiente, era fator de inércia.
Ou seja, deixemos as coisas como estão, ninguém se machuca e em algum momento da história os temas delicados e sensíveis irão se auto resolver!!!! Será? Quanto isso pode custar? O cooperado lá na ponta concordaria com isso?
Um colegiado forte e assertivo precisa essencialmente de excelente preparo, espírito curioso e instigante, com muito respeito e confiança entre os membros e que saiba tratar os temas no âmbito das ideias e não da pessoalidade. Isso difere da interpretação de que, se opor a uma situação, seja declaração de combate a quem a está conduzindo.
Talvez precisemos de mais ímpeto das lideranças e das pautas de debate dos colegiados para descortinar temas delicados, que não deveriam continuar como invisíveis e indizíveis, sob o risco de se tornarem irreversíveis e irreparáveis na medida do tempo. Afinal, é exatamente em respeito ao próprio colegiado, à cooperativa, a todos os seus cooperados e comunidade, que é inevitável fazer o enfrentamento aos temas sensíveis, propor e construir as devidas soluções. Afinal, como diria a música de Geraldo Vandré: quem sabe faz a hora, não espera acontecer!
*Por Silvio Giusti, Consultor sênior, palestrante e articulista em cooperativismo

Coluna exclusiva publicada na edição 123 da Revista MundoCoop