Que o ano de 2020 foi histórico e desafiador para a população em todo o mundo não é mais uma novidade, todos tivemos que nos adaptar em diversos aspectos comportamentais e corporativos. O mercado de trabalho e as relações mudaram muito nos últimos anos. Tornou-se necessário entender diferentes realidades e contextos, para que a partir disso, líderes e liderados possam desenvolver uma relação saudável, principalmente dentro dos modelos de trabalho home office e híbrido, que se tornaram tão populares.
No entanto, como ficaram as relações corporativas com o home office? Será que líderes e liderados conseguem se comunicar entre ligações e calls? E será que essa comunicação de fato é assertiva e principalmente não-violenta de ambas as partes? Neste texto estão alguns pontos que pode apoiar nestas perguntas.
Um desafio do trabalho remoto: longe das pessoas, nos aproximamos da nossa imaginação
A nossa mente é capaz de gerar realidade. Quando estamos no contexto do home office, o que acontece é que estamos muito longe das pessoas e muito perto da nossa imaginação. É quando a nossa mente começa a criar histórias que nos fazem entender que: o chefe está insatisfeito com algo que dissemos, ou que já deveríamos ter feito tal atividade e diversos outros pensamentos que muitas vezes no contexto presencial não aconteceriam.
A Comunicação se torna fator chave para frear as histórias que criamos e evitar que outras sejam desenvolvidas, causando ainda mais confusão. Por isso, gostaria de apresentar as possibilidades da Comunicação Não-Violenta (CNV) e como esse conceito pode nos apoiar para que esse caminho de construção e desconstrução de nossas mentes possa ser mais leve, simples e efetivo. A CNV é uma prática que nos permite expressar nossa honestidade, de forma a aumentar as chances de que sejamos realmente entendidos. Ela também nos dá a capacidade de receber o que a outra pessoa diz sem que isso nos engatilhe, escutando o que é importante para ela e qual motivação está por trás da sua fala.
O combinado não sai caro, mas se o combinado não estiver bem feito pode custar muito
Outro fator que pode impactar as relações é a ausência de compreensão das prioridades de trabalho e da capacidade de cumprir os prazos estabelecidos para as atividades, o que pode gerar uma sensação de insegurança, tanto por parte de quem gerencia, quanto de quem executa.
Por vezes acreditamos que temos que ser perfeitos e não podemos de maneira alguma pedir para alterar o que foi inicialmente combinado. No entanto, trazer um recombinado é uma forma de cuidar da relação. Podemos utilizar os elementos da Comunicação Não-Violenta, para, antes do prazo inicialmente combinado, sugerir um novo combinado. Em vez de se desesperar, porque não conversar e dizer: “Percebi que tenho aqui dez atividades que estão com prazo para esta sexta e eu estou ficando preocupado querendo cuidar dos compromissos que fiz, penso que talvez eu não consiga te entregar esse projeto no horário que combinamos inicialmente. Para que saia tudo com qualidade, podemos combinar um novo prazo para segunda pela manhã?”
Sabendo que qualquer recombinação pode gerar impactos, precisamos também nos atentar a eles e abrir espaço para conversar sobre eles, buscando caminhos para minimizá-los. Uma forma de cuidar disso é perguntando: “Quais são os impactos que essa mudança causaria para você? Como podemos minimizar esses impactos?”. Isso também é CNV: quanto mais claros formos em relação ao que é importante para nós, mais provável se torna que o outro queira colaborar com nosso pedido.
Quanto mais rápido o meio de comunicação pior a conexão entre as pessoas
Outro ponto importante que pode ajudar muito nas relações corporativas dentro do contexto do trabalho remoto é organizar como será a comunicação durante o trabalho.
Um cuidado importante para o trabalho remoto é atentar-se para possíveis desafios com os meios de comunicação on-line. Aplicativos de mensagem instantânea, são excelentes meios de comunicação, porém, podem gerar uma sensação de urgência constante e interações a qualquer hora do dia (e da noite), o que pode impactar diretamente na produtividade do colaborador, além de desencadear crises de ansiedade. Inclusive, de acordo com pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), realizada em 2021, em uma lista de onze países, o Brasil lidera com mais casos de ansiedade (63%) e depressão (59%), seguido, respectivamente, da Irlanda e dos Estados Unidos.
Para evitar essas situações combinar qual será o propósito de cada meio de comunicação é essencial para que a comunicação flua de maneira a colaborar com a saúde das relações e do trabalho. É interessante lembrar que as pessoas são diferentes e têm necessidades diferentes, de acordo com o momento que estão.
De maneira simplificada, falar a partir da Comunicação Não-Violenta em qualquer contexto, principalmente no corporativo, não quer dizer ser doce ou calmo o tempo inteiro. A prática está relacionada ao nível de conexão que falamos, demonstrando para a outra pessoa que estamos compreendendo o que ela traz.
Líderes e liderados devem ter clareza sobre o que é importante para cada um deles, para então falarem sobre suas necessidades, sobre o que é importante e não sobre o que é certo ou errado. Essa reflexão faz com que o nosso foco esteja no querer cuidar do que é importante para nós, em harmonia com o que é importante para a outra pessoa. E isso faz toda diferença, seja dentro do escritório ou de uma sala do Zoom.
*Nolah Lima é Fundadora do Instituto CNV Brasil
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