O conceito de ESG (Environmental, Social and Governance) surgiu como uma resposta à crescente conscientização sobre os impactos das empresas no meio ambiente. Embora a ideia de responsabilidade social corporativa tenha existido por décadas, o ESG representa uma abordagem mais estruturada e holística para avaliar o desempenho das organizações. Para as empresas, adotar práticas de ESG pode trazer uma série de benefícios, incluindo maior resiliência, menor risco e maior reputação.
O surgimento do conceito de ESG tem raízes em uma série de eventos e movimentos. A década de 1960 foi marcada por uma série de protestos e movimentos pelos direitos civis, que levaram as empresas a considerarem seu papel na sociedade. Nessa época, a ideia de responsabilidade social corporativa começou a surgir, com instituições percebendo que tinham responsabilidades para além de apenas gerar lucro. Na década seguinte, a conscientização sobre as questões ambientais começou a crescer, e muitas dessas companhias começaram a enfrentar pressão para contribuir com as questões ambientais. Nessa época, alguns desastres e grande repercussão mundial impulsionaram a ideia de que as empresas precisavam assumir uma responsabilidade mais ampla em relação ao meio ambiente.
Nos anos 1990, surgiram iniciativas como o Pacto Global das Nações Unidas, que incentivavam empresas a adotarem práticas mais responsáveis e a relatarem publicamente suas ações. A década seguinte viu o surgimento do conceito de investimento socialmente responsável (SRI), que incentivava os investidores a considerarem não apenas o retorno financeiro, mas também o impacto social e ambiental de seus investimentos.
O conceito de ESG começou a tomar forma na década de 2000. Em 2004, o então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, convocou os principais bancos do mundo para criarem um conjunto de princípios para orientar os investimentos responsáveis. Esses princípios incluíam a incorporação de questões ESG nas decisões de investimento.
Desde então, o conceito de ESG tem crescido em importância, à medida que as preocupações ambientais e sociais se tornam cada vez mais urgentes. Investidores têm considerado cada vez mais práticas de ESG na hora de tomar decisões de investimento, e empresas têm sido pressionadas a adotarem práticas mais sustentáveis e responsáveis.
A adoção de práticas de ESG nem sempre é fácil. Para algumas organizações, pode ser necessário fazer grandes mudanças em seus modelos de negócios e operações para se tornarem mais sustentáveis e responsáveis. Além disso, medir e avaliar práticas de ESG pode ser um desafio, já que os impactos são frequentemente difíceis de quantificar e podem ser de longo prazo. A evolução do ESG tem sido impulsionada por avanços em tecnologia e dados. As empresas agora têm mais capacidade de medir e avaliar seus impactos sociais e ambientais, o que ajuda a informar suas práticas e tomadas de decisão. Além disso, a internet e as mídias sociais tornaram mais fácil para os consumidores e investidores monitorar e pressionar as instituições a agir de forma responsável.
De certa forma, no geral, a evolução do ESG tem sido lenta, mas constante. À medida que as preocupações ambientais e sociais se tornam cada vez mais urgentes, é provável que a abordagem ESG continue a evoluir e se tornar ainda mais central para os negócios e investimentos no futuro.
Nos anos mais recentes, em especial por ocasião da pandemia do Coronavírus, percebe-se ainda com mais evidência um aumento significativo na adoção de práticas de ESG por organizações em todo o mundo. Essas práticas buscam criar valor para as empresas e, ao mesmo tempo, ter um impacto positivo na sociedade. Embora inicialmente associado principalmente àquelas listadas em bolsa de valores, o ESG também tem sido adotado por organizações sem fins lucrativos, incluindo as cooperativas.
O cooperativismo é um modelo de negócio baseado na cooperação, onde os membros trabalham juntos para atingir objetivos compartilhados. As cooperativas podem ser encontradas em uma ampla variedade de setores, incluindo agricultura, finanças, serviços públicos e consumo. E, como organizações baseadas em valores, as cooperativas têm uma vantagem natural na adoção de práticas de ESG.
No que diz respeito ao “E” do ESG, as cooperativas são frequentemente fundadas em torno de práticas sustentáveis de produção e agricultura. Muitas cooperativas agrícolas, por exemplo, incentivam práticas agrícolas orgânicas e sustentáveis. As cooperativas de energia podem fornecer fontes de energia renovável e promover a eficiência energética. As cooperativas de consumo podem apoiar a produção local e reduzir o desperdício de alimentos.
Em relação ao “S” do ESG, as cooperativas também têm um histórico forte de apoiar as comunidades locais. Elas podem fornecer serviços e produtos acessíveis aos membros, incluindo aqueles que de outra forma seriam excluídos do mercado. As cooperativas de crédito podem fornecer serviços financeiros inclusivos para membros de comunidades subatendidas. As cooperativas de habitação podem ajudar a fornecer moradia acessível para membros de baixa renda.
No que se relaciona ao “G” do ESG, as cooperativas são conhecidas por seu modelo de governança democrático e transparente, onde cada membro tem uma voz e um voto igual. Esse modelo de governança pode fornecer uma forma de equilibrar os interesses dos membros e as preocupações sociais e ambientais mais amplas. As cooperativas também podem criar estruturas de liderança que incentivam a tomada de decisões responsáveis, éticas e transparentes.
O ESG e o cooperativismo compartilham muitos valores e práticas comuns. Como organizações baseadas em valores, as cooperativas estão bem posicionadas para liderar o caminho na adoção de práticas de ESG. E, como as cooperativas são frequentemente mais próximas das comunidades, podem ser particularmente eficazes em abordar os desafios sociais e ambientais enfrentados.
O ESG é uma abordagem importante para as cooperativas, tem tudo a ver com o propósito, com os princípios e valores cooperativistas, principalmente com a busca pela criação de valor e impacto positivo na comunidade e no meio ambiente. Embora a adoção de práticas de ESG possa ser um desafio, o aumento na conscientização dos cooperados, dos dirigentes e dos colaboradores de cooperativas, de maneira responsável, sinaliza que a abordagem é cada vez mais importante para garantir um futuro sustentável para todos.
*João Bezerra Júnior é Presidente do Conselho de Administração da Sicredi Evolução
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