Sou apaixonada por pesquisas de comportamento. E tenho uma predileção por estudos que consigam derrubar conceitos e estereótipos. Foi assim que, em 2023, conduzi um sobre longevidade na Almap, que surpreendeu o mercado ao revelar um envelhecer mais ativo e cheio de desejos e sonhos.
O estudo, que chamamos de “A Revolução da Longevidade”, teve uma repercussão maior do que imaginávamos e nos trouxe muita alegria e consciência dessa causa. Isso nos animou a explorar um novo tema que também fosse fundamental para o País, para as pessoas, para a economia e que pudesse trazer novas perspectivas e projeções futuras. Foi assim que decidimos estudar o agro, tema sugerido pelo Sergio Katz (enquanto ainda trabalhava na Almap) e prontamente aceito pelos outros líderes da agência.
Estamos na etapa exploratória, mas já deu para ver muita coisa. Passamos cinco dias na maior feira de agronegócios do Brasil, a Agrishow, e quatro dias na Festa do Peão de Boiadeiro, em Barretos. Nessas imersões, pudemos conversar com diferentes segmentos de pessoas que têm suas vidas direta ou indiretamente conectadas com o agro.
É possível perceber no tom de voz dessas pessoas, na animação, na crença e no amor infinito pela terra, mas principalmente pelos números desse mercado, que o agronegócio está em franca expansão. Nós identificamos sete vetores de expansão do agro:
1. O poder feminino
2. A geração-futuro
3. Serviços
4. Agricultura familiar
5. Sustentabilidade
6. Tecnologia
7. Cultura sertaneja
Nesse artigo, vou falar sobre um deles: a expansão do poder feminino no campo, um ambiente onde predomina o machismo. Uma das últimas barreiras que nós, brasileiras, precisávamos quebrar. E elas vêm com força, a força das outras esferas sociais em que já se sentem mais confortáveis, como o judiciário, o congresso, o mercado profissional ou os movimentos sociais e culturais. Agora, chegou a vez do agronegócio abrir suas portas para as brasileiras.
Atualmente, são 14 milhões de mulheres trabalhando com o agro, o que representa 30% do mercado de trabalho do agrobusiness, e quase 1 milhão delas comandam 19% das propriedades rurais. Elas também ganham voz na política: é a primeira vez que a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) tem uma presidente, a Silvia Massruhá.
Outro exemplo de influência feminina é a Teka Vendramini, conselheira da Embrapa e do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável do Governo Federal. Suas pautas são a equidade de gêneros e a sustentabilidade. A Teka é uma potência e um encanto.
Mas o mais interessante é que, além de mudar a cara do agro, deixando-o mais feminino, as mulheres representam também uma transformação de comportamento: elas têm trazido novas visões de vida e formas inovadoras de atuar no agronegócio, contribuindo para que ele se torne mais tecnológico, inclusivo, colaborativo e sustentável.
Elas buscam implementar práticas agrícolas que minimizem o impacto ambiental e lideram cooperativas e associações. Na Agrishow, encontramos algumas estudantes da inovadora Harven Agrobusiness School, que estavam na feira em trabalho voluntário para apresentar o agro aos estudantes de escolas públicas. “Eles têm que sentir que o agro é deles”, me falou a Paola Fleury, aluna de Direito voltado ao agro.
Temos muito mais para descobrir sobre o crescimento da influência e presença feminina no agro brasileiro, mas essa já nos parece ser uma transformação de alto impacto que merece ser fortalecida. A próxima revolução no campo é feminina.
*Rita Almeida é Head de estratégia na AlmapBBDO