A Cooperativa dos Produtores de Gengibre da Região Serrana do Espírito Santo (CoopGinger) vive uma nova fase de crescimento e reconhecimento internacional. Sob a liderança da presidente Leonarda Plaster, a entidade está registrada desde abril junto à Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB/ES) e conseguiu renovar, em janeiro, para mais um ano, a certificação Global G.A.P, essencial para a exportação do gengibre dos cooperados.
O certificado garante que os produtores seguem boas práticas de manejo e cultivo, cumprem toda a legislação trabalhista e respeitam o meio ambiente. Segundo Leonarda, sem a certificação, a exportação seria inviável, pois o mercado externo não tolera resíduos de agrotóxicos, valoriza a qualidade acima do preço, entre outras questões.
Atualmente, cerca de 60% da produção de gengibre do Espírito Santo é exportada, mas a presidente da CoopGinger acredita ser esse número ainda maior, considerando as remessas enviadas para outros estados brasileiros, que também acabam exportando. “Acho que chega a 90%”, afirma. Leonarda também destaca a necessidade de aumentar o consumo de gengibre no mercado interno, onde a demanda ainda é pequena. “As vendas no mercado interno foram apenas de mudas no ano passado”.
Fundada no final de 2021, a CoopGinger enfrentou desafios significativos em 2022 devido à baixa produção no Brasil, o que dificultou as exportações até mesmo para os produtores mais experientes. Mesmo assim, a cooperativa, com sede em Santa Leopoldina, continuou a investir na divulgação e na atração de novos cooperados. O esforço começou a dar frutos no ano passado, quando, no primeiro ano com a certificação Global G.A.P, a CoopGinger conseguiu fidelizar os associados e conquistar novos clientes internacionais, que reconheceram a qualidade do gengibre capixaba.
“No início de 2023, o sócio tirou do próprio bolso para poder pagar a certificação. Passamos a oferecer gengibre aos clientes que já tínhamos contato e a procura foi grande. Embora poucas pessoas acreditassem, a partir do primeiro cliente que deu chance à cooperativa, após conhecer a qualidade do nosso gengibre e reconhecer o diferencial do nosso trabalho, fomos conquistando outros clientes e firmando parcerias. Agora, as pessoas passam a enxergar a CoopGinger com outros olhos, inclusive os próprios produtores. Praticamente toda semana tem sócio novo entrando”, comemora Leonarda Plaster.
O quadro social conta atualmente com produtores de quatro municípios: Santa Leopoldina, Santa Maria de Jetibá, Domingos Martins e Santa Teresa. As visitas in loco e o controle rigoroso de qualidade realizados pela cooperativa têm garantido um gengibre de excelente qualidade, apto para exportação, ressalta a presidente. “Isso desperta ainda mais entusiasmo no grupo. A qualidade do gengibre está muito boa graças a um trabalho junto aos cooperados, desde o plantio até o processamento, com todo o cuidado no manuseio, selecionando o que serve para exportação…”.
A CoopGinger não tem exclusividade de parcerias e trabalha com comissões para profissionais que indicam novos clientes. As exportações diretas e as negociações com exportadores têm sido uma estratégia eficaz para manter a sustentabilidade da cooperativa. Apesar das dificuldades até outubro passado, a CoopGinger conseguiu estabilizar a situação, cobrindo os altos custos da certificação e outros gastos operacionais. “De janeiro até maio ficamos sem comercializar. E temos custos de galpão, de contabilidade, de pessoal, mas a gente conseguiu arcar com todos esses custos”, relata.
Leonarda destaca o papel das mulheres na cooperativa, que, embora em menor número, estão sempre à frente, trazendo suas famílias para participarem ativamente. A diretoria da CoopGinger é composta por três mulheres e três homens, com Natália Plaster responsável pelo controle de qualidade e orientação aos sócios em campo.
“Os sócios estão animadíssimos, cada vez mais próximos da cooperativa e trazendo mais associados. Começamos com 33 e agora são praticamente 80, todos confiantes de que a cooperativa é a esperança para o produtor, pois já promove melhorias. Os cooperados estão felizes com o andar da cooperativa”, salienta a presidente da CoopGinger.
O produtor rural Ademilson Braun, um dos sócios-fundadores da CoopGinger, destaca os obstáculos enfrentados e os sucessos alcançados com a cooperativa. “Em 2021, enfrentamos desafios significativos na cultura do gengibre devido aos preços abusivos dos intermediários. O custeio para preparar áreas para cultivo é bem alto. Por isso, decidimos nos unir como cooperativa para buscar preço justo para os pequenos produtores rurais. Vimos na cooperação uma porta de saída para driblar e se livrar do sistema praticado pelo mercado local que nos mantinha reféns. Hoje, orgulhosamente, vemos nossos esforços gerando não só renda, mas valor para nós como produtores rurais. Nossa cooperativa cresce com a ideia de preços justos e qualidade superior, e estamos felizes em continuar plantando estas raízes tão interessantes”, declara Braun.
O diretor-executivo do Sistema OCB/ES, Carlos André Santos de Oliveira, enaltece a trajetória inspiradora da Coopginger. “A Coopginger mostrou que é possível encontrar soluções para impulsionar um negócio encarando de frente as dificuldades. A resiliência, o preparo para lidar com desafios e a vontade de ir além permitem alcançar novos patamares e sair da estagnação. Portanto, as lições que as cooperativas podem aprender com o exemplo são: é preciso agir com celeridade e eficácia para solucionar um problema; fortalecer a base de cooperados é essencial para ganhar escala; e explorar novos mercados é necessário para ganhar novos clientes”.
Engajamento
A sede da cooperativa, em Caramuru de Baixo, e um galpão de carregamento, no Rio das Farinhas, ambos na zona rural de Santa Leopoldina, recebem a produção dos associados, estimada de 1.800t a 2.000 toneladas este ano. A cooperação entre os sócios e a diretoria são fundamentais para o sucesso da CoopGinger, que promove um verdadeiro cooperativismo de base, envolvendo todos os membros em ações comunitárias, como o mutirão na primeira quinzena de maio para limpar a estrada de chão de acesso à sede da cooperativa. Ao todo, 51 pessoas participaram, entre elas, 31 associados que utilizam a estrada de 12 km para chegar ao galpão.
A comunidade possui três grandes galpões, sendo um da cooperativa, todos com acesso pela mesma estrada. “O legal da CoopGinger é o cooperativismo raiz, porque a gente gosta de envolver o produtor, que quer participar, usar a camisa da cooperativa para mostrar ser parte dela. Não somos uma cooperativa onde diretoria e associados ficam distantes”, diz Leonarda.
A presidente faz um apelo às autoridades locais destacando a união da comunidade. “A gente precisa de mais apoio do município, porque damos um retorno grande na forma de impostos. Recolhemos certinho e precisamos dessa contrapartida para poder trabalhar. Neste ano, tivemos que alugar outro galpão para realizar os carregamentos de gengibre porque as carretas com contêineres não conseguem chegar ao nosso”, disse Leonarda.
O trabalho direto com a cooperativa é valorizado pelos exportadores, que preferem saber que o dinheiro gerado vai diretamente para os produtores. O contato próximo com os agricultores é também um requisito importante para os clientes europeus, que valorizam a origem e a qualidade do produto.
Caio Marcos Mesquita Carneiro, da Vix Global Trading, afirma que o seu compromisso é fazer a CoopGinger atingir o mercado externo. “Trabalhar com cooperativa é mais prazeroso porque você sabe para onde está indo o dinheiro, que é voltado para o produtor. A nossa empresa sempre teve esse objetivo: trabalhar diretamente com o produtor, o que não ocorre com empresas maiores. Quanto mais conseguimos negociar preço, mais isso vai influenciar diretamente na vida desse agricultor”, afirma.
Carneiro destaca que esse aspecto é valorizado especialmente pelos clientes europeus, que preferem ter contato direto com quem produz, evitando atravessadores ou exportadoras que compram dos produtores. “Faz toda a diferença saberem que trabalhamos com uma cooperativa fruto da união de mais de 70 produtores exportando sem intermediários. Então, fazemos essa ponte, possibilitando que os pequenos produtores exportem, cheguem ao mercado internacional. Isso é vantajoso tanto para os produtores quanto para os compradores internacionais, que valorizam saber exatamente de onde vem o gengibre”.
Sivaldo Kunsch, um dos 33 sócios-fundadores da CoopGinger e produtor de licores de gengibre em Santa Leopoldina, expressa seu orgulho e satisfação com a cooperativa. Ele ressalta a importância do cooperativismo para a sua experiência pessoal e profissional, permitindo o contato com diversos clientes e a participação em feiras, como a última Expo Gengibre, de 16 a 19 de maio, naquela cidade, o que tem sido uma experiência enriquecedora.
“Estou muito orgulhoso, porque hoje vejo a cooperativa firme e forte e crescendo a cada dia. É minha primeira experiência como cooperativista. Até então, não tive esse contato com o público. Passei a conhecer tantas pessoas diferentes, de várias regiões, isso para mim está sendo muito bacana e prazeroso”, diz Kunsch.
Gengibre capixaba
O Espírito Santo obteve o primeiro Registro de Proteção de Cultivar (RPC) de gengibre no Brasil com a variedade Imigrante, graças ao projeto Fortalecimento da Agricultura Capixaba (FortAC) e a parceria com o produtor Alexandre Lemke Belz, cooperado da CoopGinger. Este gengibre se destaca por sua maior altura e rizomas desenvolvidos. O estado, maior produtor e exportador de gengibre, espera alcançar 84 mil toneladas este ano. A caracterização da planta foi feita com apoio do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). A pesquisa envolveu diversos campi do Ifes e o Incaper, garantindo a variabilidade genética da cultivar. Iniciado em 2021, o projeto FortAC apoia 22 projetos para o desenvolvimento agrícola do Espírito Santo, com um investimento de R$ 4,5 milhões.
Fonte: Conexão Safra
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