A redução da taxa Selic – de 13,75% para 13,25% ao ano – determinada nesta quarta-feira (2/8) pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom/BC), tende a reduzir o custo do crédito rural para o produtor. Principalmente o dos financiamentos a juros livres, negociados diretamente entre as instituições financeiras e seus clientes. A avaliação é de economistas ouvidos por Globo Rural.
“No crédito livre, o efeito da Selic é imediato”, explica o economista da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Antonio da Luz.
Ele lembra que a Selic é referência para a taxa DI (Depósito Interbancário), que, por sua vez, baliza o que as instituições financeiras pagam para captar dinheiro e o que cobram nos empréstimos. Se o chamado spread (diferença entre o que é pago e o que é cobrado do cliente) não muda, o custo de capital cai.
“A redução da taxa de juros altera essa relação entre os juros de captação e os juros do empréstimo. No momento em que a referência cai, no caso o DI, o banco tende a pagar menos, mas também tende a cobrar menos”, explica o economista.
Já nos financiamentos controlados, com taxas equalizadas pelo Tesouro Nacional, a situação não muda nem para o produtor rural nem para a instituição financeira que opera crédito rural. Antonio da Luz explica que as condições já estão dadas pelo governo, nas taxas a serem aplicadas nas diversas linhas e nos volumes de financiamento a serem subvencionados às instituições financeiras.
“A redução da taxa Selic diminui o custo de captação do banco, mas a diferença é mínima e não necessariamente vai diminuir o custo do governo (com a equalização das taxas de juros) por que o banco pode aumentar o spread”, pontua.
Para o economista Roberto Troster, no entanto, há possibilidade de redução média do spread bancário, o que, segundo ele, costuma acontecer em um cenário de retomada da economia. Ele reforça que o corte na taxa básica de juros reduz o custo do crédito para o produtor rural. Mas deve ser pouco, porque ainda é grande a diferença entre a Selic e as taxas médias aplicadas pelo sistema financeiro.
“Vai baixar, mas não é nada que entusiasme e venha a ter um boom de crédito. Tem que dar um passo de cada vez. Não é uma decisão tão grande assim para ter um grande impacto. Não faz muita diferença para o agricultor pagar 13,25 ou 13,75”, avalia.
Entre 0,5 e 0,25
A decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central não foi unânime, diferente de ocasiões anteriores. Que a taxa Selic seria reduzida, era consenso. O ponto de divergência foi a intensidade da medida.
Votaram pela redução de 0,5 ponto o presidente Roberto Campos Neto, além dos diretores Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Gabriel Muricca Galípolo e Otávio Ribeiro Damaso. Votaram por uma redução de 0,25 ponto percentual: Diogo Abry Guillen, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, Maurício Costa de Moura e Renato Dias de Brito Gomes.
Antônio da Luz, da Farsul, avalia que a decisão do Copom encontra respaldo no atual cenário econômico brasileiro. Ele lembra que, no ano passado, a inflação acumulada em 12 meses chegou a bater em 12%. Atualmente, está em menos de 4% considerando o período de um ano. Ao mesmo tempo, índices que medem os preços no atacado apontam deflação, que devem refletir na ponta do consumidor.
“Mesmo que a inflação reacelere neste segundo semestre, estamos bem próximos do centro da meta. E as expectativas do mercado para um período mais longo, estão ancoradas na meta de inflação. Sem essas duas condições, não dá para baixar juros. E agora temos essas condições”, explica. “A política monetária cumpriu seu papel”, acrescenta.
O economista pondera, no entanto, que, se fosse do Comitê de Política Monetária, teria votado por um corte mais moderado da taxa, de 0,25 ponto porcentual. A explicação está no cenário externo, com bancos centrais de diversas regiões do mundo – como Estados Unidos, Grã-Bretanha, Japão e União Europeia – fazendo um movimento contrário, de elevação de taxas.
“Eles demoraram para começar o ciclo de alta. Tem uma inflação persistente lá fora, resiliente, exigindo novas altas. Os juros vão continuar em alta lá fora e o Brasil não é uma economia isolada. E isso nunca foi testado antes, o Brasil reduzir juros quando o mundo está subindo”, diz ele.
Como o Brasil, neste momento, atua em direção contrária ao dos principais mercados, há uma preocupação com a possibilidade de uma fuga de capitais do mercado brasileiro para outros países. Havendo esse movimento, o dólar pode encontrar suporte e a taxa de câmbio pode subir.
“Por isso, eu baixaria 0,25, para ver como o mercado vai reagir, nem que eu tivesse que baixar 0,75 na próxima para compensar. Se houver uma escalada no câmbio, voltamos a ter problema inflacionário porque nossas importações ficam mais caras”, pontua o economista da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul.
Roberto Troster avalia que o corte de meio ponto percentual foi uma decisão racional, mas ainda não pode ser considerado muito relevante. O economista afirma que é preciso aguardar a sequência de decisões do Banco Central para se ter uma visão mais clara do rumo a ser dado pela política monetária. “Ainda não quer dizer nada. Vai depender da evolução dos indicadores.”
Para ele, o principal efeito da redução da Selic neste momento é melhorar as expectativas em relação ao desempenho da economia, o que pode beneficiar, inclusive, o produtor rural. “Se consegue baixar juros e acelerar a economia é mais crescimento e mais demanda por produtos agrícolas”, destaca.
Fonte: Globo Rural
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