Na última segunda-feira, dia 1º de agosto, aconteceu um dos mais importantes eventos do agronegócio do país, o 21º Congresso Brasileiro do Agronegócio. Sendo uma realização da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), em parceria com a B3 – a bolsa do Brasil, o evento contou com a participação de renomados especialistas em diversas áreas para tratar as vertentes do tema “Integrar para Fortalecer”.
Em formato híbrido, o Congresso reuniu 750 pessoas presencialmente em São Paulo e mais 5 mil inscritos online para acompanhar os debates em quatro grandes painéis e reforçar a relevância do evento para o agro brasileiro. O presidente do Conselho Diretor da ABAG, Luis Carlos (Caio) Corrêa Carvalho, conta que após dois anos de pandemia e de eventos online, as pessoas estavam ansiosas para rever-se, interagir, saber das novidades, trocar informações pessoais e profissionais. “Durante as palestras, pudemos avaliar o alto grau de interesse e as reações emocionais do auditório e, posteriormente, durante os intervalos e almoço analisarem e comentarem sobre o que foi dito e debatido pelos palestrantes. Foi grande o número de questões formuladas pelos participantes do auditório e no online. Com certeza, o rico conteúdo de informações, alertas e propostas levantadas durante o evento deverão ser ouvidas e levadas aos que irão governar o País, e serão uma grande contribuição para que o Brasil se mantenha como um dos maiores players na produção de alimentos e energia renovável do mundo”.
Na cerimônia de abertura, Luiz Carlos Corrêa e Gilson Finkelsztain, CEO da B3, receberam o governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Marcos Montes, o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, e o secretário da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Francisco Matturro.
Na ocasião, Marcos Montes destacou que o Brasil, como um dos principais fornecedores de alimentos, se coloca como um participante importante para garantir a segurança alimentar mundial. “Somos produtores de alimentos, mas não produzimos alimentos do nada, precisamos dos insumos. Então, cada um tem a sua participação, o Brasil pode carrear tudo isso, mas precisamos que todos realmente entendam o seu papel”, disse, destacando que a questão da sustentabilidade não pode ser usada para prejudicar a competitividade brasileira.
Em seguida, compondo o painel de Geopolítica, Segurança Alimentar e Interesses, Alexandre Parola, representante permanente do Brasil junto à OMC; Gedeão Pereira, vice-presidente de Relações Internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA); e Jacyr Costa, presidente do Conselho Superior do Agronegócio (COSAG) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), destacaram a importância do meio ambiente para o produtor rural e como isso poderá impulsionar o Brasil a se tornar a maior agricultura do mundo daqui 10 ou 15 anos.
Jacyr Costa reforçou a necessidade do setor se unir para se tornar mais forte. “Imaginar que o agro é só agricultura é um pensamento antigo, o agro é muito maior que isso, envolve muitos setores e fatores”. Além disso, ele explica que a fome aumentou no mundo e para garantir a segurança alimentar é preciso mais comércio. Não é só exportar, é saber importar e estimular a produção regional.
Logo após, Fabiana Perobelli, superintendente de Relacionamento com Clientes da B3; professor Gonçalo Pereira, coordenador do Laboratório de Genômica e Bioenergia da UNICAMP; embaixador José Carlos da Fonseca Júnior, cofacilitador da Coalizão Brasil – Clima, Florestas e Agricultura; e Liège Correia, diretora de Sustentabilidade da Friboi/JBS e vice-presidente da Abag, apontaram os caminhos para que o agro brasileiro se torne ainda mais sustentável, no painel Agronegócio: Meio Ambiente e Mercados. A moderação será de
André Guimarães, Diretor Executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e mediador do painel trouxe o mercado de carbono para o centro das discussões. “Devemos ambicionar ser um país carbono negativa, se transformando um objeto alvo dos investimentos mundiais, principalmente de países e setores que tem dificuldade nesse sentido”. Ainda, integração lavoura-pecuária foi abordada como grande tendência.
Por que trazer o tema Integrar para Fortalecer para o centro das discussões do Congresso?
“A nova realidade geopolítica, no pós-pandemia e Guerras (fria e quente), despertou a relevância dos temas segurança alimentar e energética ao nível global. No caso brasileiro, um modelo que não integre os setores público e privado, que não gere intensa cooperação entre cadeias produtivas e que estimule o protagonismo do Agro, está fadado ao fracasso. Era necessário que a cadeia do agronegócio voltasse a dialogar para reencontrar e defender as grandes causas que propiciam a manutenção sustentável de crescimento, dentro dos elevados patamares técnicos, econômicos e sociais, de forma integrada e continuamente fortalecida. Esse foi o propósito do tema da 21ª edição do CBA, plenamente atingido pelo nível dos atores e dos participantes presenciais e online do evento.
DESAFIOS E HOMENAGENS
Na parte da tarde, o painel Agronegócio: Tecnologia e Informação, moderado por Celso Moretti, presidente da Embrapa, contou com a participação de Ana Helena de Andrade, presidente da ConectarAGRO; Luis Pogetti, presidente do Conselho de Administração do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC); e Renato Ribeiro Rodrigues, conselheiro da Rede ILPF.
No debate, a conectividade foi o foco. Analisando o atual cenário rural do país, foi destacado viabilizar o caminho que permite com que a tecnologia leve produtividade ao campo. Assim como, discutido os desafios de implementar o 5g onde, muitas vezes, nem o 4g conseguiu chegar.
Após o terceiro painel, o presidente do Conselho de Administração do IPA,Nilson Leitão, entregou o Prêmio Ney Bittencourt de Araújo – Personalidade do Agronegócio à Arnaldo Jardim, Deputado Federal e criador do Fundo de Investimentos para o Setor Agropecuário – Fiagro. Na cerimônia, a Superintendente do Sistema OCB, Tania Zanella, fez a entrega do Prêmio Norman Borlaug – Sustentabilidade à Mariangela Hungria da Cunha, pesquisadora da Embrapa Soja.
Encerrando as discussões do evento, o painel Agronegócio: Perspectivas 2023/2026, recebeu o ex-presidente da República Michel Temer, e os ex-ministros da Agricultura Alysson Paolinelli, Francisco Turra, e Roberto Rodrigues para compartilharem suas avaliações sobre o futuro do setor no curto prazo.
COOPERATIVISMO
O cooperativismo, grande atuante do agro brasileiro, também marcou presença no Congresso Brasileiro do Agronegócio. Seja com representantes ou como tópico abordado, o movimento encontra muitas oportunidades para se destacar ainda mais perante as tendências e perspectivas desse setor que almeja um crescimento constante e significativo.
Para reforçar esses pontos cruciais para o setor cooperativista e para o agro brasileiro, a MundoCoop esteve no Congresso e conversou com exclusividade com a Superintendente do Sistema OCB, Tania Zanella.
Confira abaixo:
A OCB acabou de lançar o AnuárioCoop 2022. Quais as principais novidades dessa edição?
Sim, o Anuário foi lançado na última sexta-feira (29) e podemos destacar que nossas cooperativas continuaram crescendo apesar do cenário marcado pela pandemia e pelo isolamento social também em 2021. O número de cooperados registrados chegou 18,8 milhões de pessoas, o que representa aproximadamente 8% da população e é 10% superior ao de 2020, quando o movimento registrou mais de 17 milhões de cooperados.
O mercado de trabalho também cresceu e atingiu 493,3 mil empregados, com evolução anual de 8,4%. No acumulado de dois anos, nossas cooperativas incorporaram 15,4% a mais de trabalhadores. Nossos ingressos também subiram para R$ 525 bilhões, 26% a mais do que em 2020. Em dois anos, esse crescimento foi de 70%.
Boa parte desses recursos voltou para os cooperados. No ano passado a distribuição das sobras do exercício somou R$ 36,7 bilhões, 60% a mais do que em 2020 e 148% no acumulado de dois anos. Outro dado importante é o crescimento da participação feminina. As mulheres já são 49% dos cooperados e ocupam 20% dos cargos de liderança.
Esses resultados são fruto da resiliência histórica das cooperativas e do trabalho assertivo do sistema para enfrentar os problemas e desafios que se impõem constantemente.
O cooperativismo é um grande representante do agro brasileiro. O que as cooperativas agro podem esperar daqui pra frente? Quais são as novas oportunidades no setor?
Sim, o setor agropecuário reúne o maior número de cooperativas do país. São 1.170, que têm 1 milhão de cooperados e empregam 240 mil trabalhadores, o maior número entre as demais atividades ligadas ao cooperativismo. Ao olharmos para a frente, podemos afirmar que o setor continuará sendo precursor, até porque ele envolve outros segmentos também como os de transportes, serviços, infraestrutura e crédito, por exemplo.
Um grande diferencial do cooperativismo, incluindo as do ramo agro, é sua capacidade de adaptação. Por isso, conseguimos manter as coops funcionando em plena pandemia e garantir o abastecimento doméstico e externo.
Sobre as novas oportunidades, posso dizer que será necessário buscar uma diversificação da atividade, agregar mais valor e garantir uma inserção maior do setor no mercado externo. A produção deverá ser feita com rastreabilidade e sustentabilidade, e isso deve ocorrer em um período de custos e inflação mais elevados.
Além disso, as mudanças tecnológicas estão em passos acelerados nos últimos anos e a tendência é que essas alterações sejam cada vez mais rápidas e profundas. Para o cooperativismo, acreditamos que teremos os ramos interconectados e a intercooperação disseminada e complementar. Imaginamos o agro automatizado e conectado entre robôs, drones, tratores autônomos e colheitas automáticas.
Durante o Congresso Brasileiro você entregou o prêmio Prêmio Norman Borlaug – Sustentabilidade para a Mariangela Hungria da Cunha. O que representou esse momento para você? Qual mensagem isso pode trazer para o agro atual?
Foi uma honra ter sido convidada para homenagear, em nome do Sistema OCB, essa grande cientista. Ela merece esse reconhecimento porque seus trabalhos na área da pesquisa trazem orgulho, inovação e aprendizados únicos e significativos para a agricultura brasileira. Ela contribuiu para iniciar a revolução verde e, ao longo dos anos, seus estudos apresentaram várias soluções para manter nosso agronegócio pujante. Só podemos agradecer por seu trabalho incrível e por ser essa grande referência para o setor e também como mulher.
Pessoalmente, tenho muito orgulho de ver uma representante feminina alcançando esse destaque em um segmento que durante muito tempo foi dominado pelos homens. Acredito que essa representatividade contribui para incentivar ainda mais a presença das mulheres no agro. Não apenas como produtoras, mas também como líderes.
Por Redação MundoCoop
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