Nesta segunda-feira aconteceu em São Paulo o 22º Congresso Brasileiro do Agronegócio. Realizado pela Associação Brasileira do Agronegócio – ABAG, em parceria com a B3 – a bolsa do Brasil, o evento no Sheraton WTC Hotel recebeu mais de 800 participantes, que puderem conferir insights sobre as principais tendências do agronegócio brasileiro e mundial. A MundoCoop, apoiadora desse ecossistema, esteve presente acompanhando os principais destaques.
Com o tema “Brasil Agro: Inovação e Governança”, o evento recebeu diversas autoridades do setor. Entre eles Carlos Fávaro, Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil. Em sua fala, o representante do governo destacou papel das cooperativas, que já representam 54% do PIB do agro. “A cooperativa sempre terá um grande papel de protagonista na agropecuária brasileira”, destacou. Confira a fala completa a seguir:
Demais representantes do setor também abordaram o cenário de oportunidades que o agronegócio oferece ao Brasil, com grande potencial de se consolidar como polo de segurança alimentar e abastecimento a nível mundial. Além disso, citaram a necessidade de garantia de seguro rural mais robusto aos produtores rurais brasileiros.
O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, ressaltou a importância da parceria entre indústria e agricultura. “Quanto mais forte o agro, mais ajuda a indústria, e quanto mais desenvolvida for a indústria, mais tecnologia para o agro”, disse. Ele mencionou que está otimista com o acordo entre o Mercosul e a União Euopeia, e afirmou que o BNDES vai disponibilizar R$ 5 bilhões com juros de TR para pesquisa, inovação e digitalização, e que o Brasil está liderando o combate às mudanças climáticas.
Agro brasileiro está na vanguarda
Para atender a demanda de proteína animal, carboidratos e fibras, levando em consideração o sequestro de carbono e a proteção de biomas, será preciso uma quantidade de terras em hectares equivalente ao território do Brasil. Essa informação foi divulgada pela consultoria McKinsey durante o congresso, durante a participação do sócio sênior e líder global de Agricultura da Mckinsey & Company, Nelson Ferreira. “Existe terra disponível, mas será muito mais cara devido à recuperação de terras degradadas. E, o Brasil tem competitividade e potencial para contribuir com essa demanda”. Uma pesquisa da consultoria com 5,5 mil produtores agrícolas revelou que o agro brasileiro está na vanguarda de digitalização, com as propriedades rurais utilizando os canais digitais para aquisição de produtos, insumos e máquinas.
Em agricultura regenerativa, o Brasil está liderando essa aplicação, tanto no plantio direto, na Integração Lavoura-Pecuária, como no uso de fertilizante de taxa variável. Da mesma forma, na área de controle biológico, bioestimulante e biofertilizante, o país é quem mais aplica esse tipo de tecnologia.
Entre os principais desafios citados estão a taxa de juros, custos de transação, tempo de processamento e exigência de garantia. “Por isso, as fintechs no setor de financiamento para o campo estão crescendo”, pontuou. Em termos do uso de tecnologia de agricultura de precisão, o Brasil fica em terceiro lugar, com 50%, atrás da Europa, com 62%, e da América do Norte, com 61%. Contudo, o país lidera quando se trata do uso de hardware para agricultura de precisão e de tecnologias relacionadas à sustentabilidade.
Ingo Plöger, vice-presidente da ABAG, ressaltou a importância da inovação dentro do processo produtivo. “O mundo conta hoje com 8 bilhões de pessoas, sendo 800 milhões em insegurança alimentar. Com inovações é possível aumentar a produção e dar maior acessibilidade a um público que hoje não tem essa opção. Esse é o motor com o qual construímos mercados e o futuro”, disse Plöger.
Inovação é fundamental para ampliar a produtividade
Um ecossistema colaborativo entre as cadeias produtivas do agro, os institutos de pesquisa e a academia e os investimentos em inovação são fundamentais para atender as demandas de consumidores, países e mercado financeiro por informações sobre a produção sustentável do agronegócio. “Quando se trata de inovação na indústria, pensamos em novos produtos e tecnologias, mas precisamos ir além, pois apenas os produtos não são mais suficientes. A digitalização e o papel dos dados têm sido pontos chave”, afirmou Malu Nachreiner, CEO da Bayer Brasil.
Alexandre Bernardes, vice-presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores – ANFAVEA, citou a revolução contínua pela qual o segmento do agro vem passando com o foco em maior eficiência na produção de alimentos para o mundo. “A conectividade é hoje o oxigênio para essa transformação. Hoje não conseguimos dar o próximo passo de produtividade se não houver essa interligação”, salientou. Para ele, o agro está passando por uma grande revolução que traz cada vez mais benefícios, principalmente porque o cliente é digital, bem como nossos produtos e o mercado. “Toda inovação tem a premissa de trazer mais eficiência na produção de alimentos. Nossas máquinas hoje pensam, falam e abordam toda a tecnologia existente”, explicou.
Em painel moderado por Silvia Massruhá, presidente da Embrapa, Ricardo Scheffer, CEO da Sonda Brasil, disse que a tecnologia já é uma realidade do agro e uma aliada fundamental ao crescimento do negócio e da economia do setor como um todo. “A principal discussão é como, efetivamente, levar essa tecnologia ao campo. Existe uma oportunidade de 75% de cobertura de agro em território nacional com algum nível de carência de comunicação de dados. Como levar a tecnologia para o campo sem essa conectividade? Esse é um grande desafio”, salientou. Para Scheffer, a discussão dentro do universo de inclusão digital do agro, mais que a tecnologia em si, deve incluir o caminho de entrega e disponibilização dessa tecnologia ao produtor.
Os pequenos e médios produtores devem contar com tecnologia e práticas sustentáveis, para Luiz Lourenço, presidente do Conselho de Administração da Cocamar, inserindo-os na chamada revolução digital. “O cooperativismo é indispensável para o pequeno e médio produtor levando, não apenas recursos, mas apoio técnico e comercial. É como uma luz suficiente para que ele possa enxergar os problemas e buscar soluções em conjunto”, disse. Lourenço abordou também a Integração-Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) como uma estratégia de produção inteligente para elevar ainda mais a produtividade das pastagens, integrando culturas e trazendo resultados positivos ao produtor, a médio e longo prazo. “O valor bruto da produção da pecuária é um décimo do valor da produção de outras culturas”, afirmou.
Transição para a economia verde
Outro destaque do Congresso foi a transição para uma economia verde, demanda cada vez mais urgente no cenário mundial. Para Roberto Azevedo, ex-diretor-geral da Organização Mundial do Comércio – OMC), tal mudança é um caminho inevitável e sem volta. “A transição para a economia verde não tem mais volta, mas, como qualquer mudança nessa magnitude vai haver retrocessos no meio do caminho. Não podemos deixar que isso nos iluda, são apenas freios de arrumação. Transitar para a economia verde é algo complexo, trabalhoso, com algumas medidas são mais drásticas e outras menos”.
Em sua avaliação, as políticas ambientais redistribuem um custo na economia e necessariamente encarecem o parque produtivo e, para equalizar a situação com o mercado interno, pode haver um encarecimento do produto importado. Comentou também que não existe investimento no âmbito empresarial de países desenvolvidos que não se leve em conta as emissões de carbono. “Elas próprias se impuseram disciplinas e compromissos no quesito ambiental”, disse Azevedo.
Para Paulo Hartung, presidente-executivo da Indústria Brasileira de Árvores – IBA, o Brasil tem uma matriz energética diferenciada em relação ao mundo, com sol e ventos constantes e experiência notável com biomassa em processo de evolução. “Há desafios sim, mas há uma série de oportunidades como terra passível de ser convertida para a produção de alimentos sem derrubar floresta nativa”. A seu ver, há um arranjo novo no mundo que, junto com transição energética e emergência climática, traz desafios para o Brasil. “Precisamos ter um ativismo compatível com o tamanho das potencialidades do país, fazendo com que o mundo nos conheça pelo que somos”.
Homenagens
Grande personalidade do agronegócio brasileiro e mundial, o especialista em agro e membro editorial da Revista MundoCoop, José Luiz Tejon, foi um dos homenageados pelo 22º Congresso Brasileiro do Agronegócio.
Em sua fala mais que especial, Tejon destacou a transformação do agro brasileiro, que hoje ocupa uma posição de destaque no cenário mundial, sendo um dos principais produtores de alimentos e pilares da segurança alimentar mundial.
Para Tejon, Brasil aprendeu ao longo do tempo, e hoje é autossuficiente em diversos aspectos. O país é referência na agricultura sustentável, em sistemas produtivos altamente tecnológicos e um pioneirismo que se vê há décadas. “Há 50 anos atrás importávamos alimentos, hoje abastecemos 10% da demanda mundial, e 40% do consumo do proteína animal sai do Brasil. 160 países compram da gente”, lembrou.
Encerramento
No encerramento do 22º Congresso Brasileiro do Agronegócio, Luiz Carlos Corrêa Carvalho, presidente da ABAG, trouxe um balanço do evento, que retratou na parte da manhã a questão da competitividade, com um debate amplo sobre inovação em mercados e nas cadeias produtivas e, na parte da tarde, focou em governança como ponto fundamental para manter o posicionamento do setor no âmbito global. “O Brasil tem um desenvolvimento da ciência tropical, diferentemente de outros países que adaptaram a ciência temperada e não possuem a mesma competitividade. Precisamos liderar a regulamentação do mercado de carbono, além da produção de alimentos e energia. Por isso, é importante desenhar uma visão com foco nesse objetivo”.
Por Redação MundoCoop
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