As frutas, legumes e verduras que chegam fresquinhas nas gôndolas da lojinha de orgânicos da cooperativa Caroá, são colhidas no próprio local pelos agricultores e vão direto para a mesa dos consumidores. Esse é o lema que norteia a iniciativa, criada justamente para fazer essa ponte entre quem produz e quem consome
O trajeto é curto, já que os insumos vêm de municípios próximos de Fortaleza (CE); e a variedade é grande: são hortaliças, legumes e frutas que toda semana chegam para abastecer a loja. A médica dermatologista Lizete Pita faz questão de fazer suas compras semanais por lá, tanto para garantir a qualidade como também os benefícios do consumo de orgânicos
“Costumo consumir, sempre que possível. Só não consumo quando não se encontra, quando há dificuldade de encontrar. Essa opção não tem nem o que explicar: com o orgânico realmente a gente ganha em tudo, na saúde e até no próprio preço, pelo jeito que as coisas estão agora, realmente o orgânico faz você ganhar mais”, ressalta.
E há outra característica peculiar: no local, além de saber de onde vem os insumos, ainda pode-se bater um bom papo com quem produziu o alimento. “Isso é o que eu gosto, de chegar, conversar, me informar, saber de coisas novas. Então, assim, é maravilhoso”, complementa Lizete.
A opinião da médica é compartilhada pelo empreendedor Rivaney Alves Alencar. “A gente percebe o cuidado, porque no supermercado não se sabe de onde é que aquele tomate veio, como foi plantado… Mas quando você conversa com o produtor, você sabe exatamente o que acontece com a produção. Você vê o trabalho da pessoa, desde o plantio até chegar na prateleira, isso é importantíssimo”, destaca.
“Os produtos chegam, eles vêm dos cooperados, é uma cooperativa, são vários produtores, um traz banana, outro traz laranja, outro traz folhas, outro traz produtos como tomate, cenoura, etc. Então, a gente faz toda a separação, pesa, separa as caixas por produtos e agiliza o processo”, explica Claiuson Duarte, que integra a gestão da Caroá.
Mas para atingir o nível do processo dinâmico utilizado hoje pela cooperativa Caroá, foi preciso muito trabalho. A ideia surgiu com Vítor Esteves Vasconcelos, que desde criança já nutria o sonho de ser agricultor. Foi ele quem encabeçou a ideia de uma produção 100% orgânica.
“Em 2014 fizemos um curso na zona rural e os alunos fizeram seus planos de negócios Mas a questão era: para quem vender a produção? Descobrimos que o atravessador mataria a gente. Então, o que que nós decidimos? Vamos criar uma associação”, conta, orgulhoso.
Então, Vítor somou-se a uma turma para levar a ideia à frente. E foi então que jovens agricultores começaram a fazer o seu melhor: plantar. Mas, sem a formação necessária, administrar uma produção acabou se tornando um trabalho inicial difícil de conduzir. Eles tinham os insumos, mas na hora de escoar a produção, a coisa empacava.
“O problema maior foi a falta de assistência, nós não tínhamos nenhuma orientação. Então, sem orientação, é tentativa e erro. Sofremos muito, o caminho foi bem dolorido. A associação juridicamente não resolvia nosso problema, então decidimos criar uma cooperativa, um sonho que a gente concretizou em 2017”.
Atualmente, são 28 agricultores, que têm suas plantações divididas em 7 regiões do Ceará, que mesclam produtos 100% orgânicos e agroecológicos, que abastecem tanto a loja Caroá, como também o e-commerce, que foi bastante impulsionado pela pandemia.
E toda essa organização tem sobrenome: formação. O Programa Jovem Empreendedor Rural (PJER), desenvolvido pela Agência de Desenvolvimento Econômico Local (Adel), foi justamente o pilar que faltava para que os jovens empreendedores rurais pudessem estruturar seu negócio. “Foi ela que mobilizou o encontro desses jovens, foi o curso da Adel que detectou esses jovens, o ponta pé inicial, os primeiros cooperados, todos vieram desse programa”, reitera Vítor.
“O que a gente percebe é que a inexistência de políticas públicas, de programas, de iniciativas, que levem essa juventude a perceber, identificar, a conhecer verdadeiramente suas comunidades, seus territórios, as potencialidades e as vocações que existem naquele lugar faziam com que estes jovens tivessem buscando essas oportunidades em outros territórios”, afirma Aurigele Alves, diretora de programas Adel.
“A importância desse programa, que existe há 13 anos, é exatamente possibilitar que essa juventude consiga ajustar seu olhar para a realidade, para a comunidade onde estão vivendo e poder encontrar oportunidades para permanecer nesse território”, acrescenta Alves.
Hoje, a Caroá abrange cerca de 500 quilômetros de território e tem uma produção mensal de 60 toneladas de alimentos, variando quase sempre para mais.
Fonte: Brasil de Fato
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