País de superlativos, o Brasil avança cada vez mais na posição de líder na segurança alimentar mundial. A extensão territorial e os investimentos em pesquisa e introdução de técnicas avançadas vêm garantindo a produção anual de três safras, segundo analistas do setor do agronegócio.
De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) que estima uma produção recorde de grãos este ano acima de 300 milhões de toneladas, o calendário agrícola brasileiro é o mais dinâmico do mundo devido à dimensão continental que permite o cultivo de até três safras de grãos no mesmo ano agrícola, e, consequentemente, uma colheita que se estende durante, praticamente, todo o ano agrícola que vai de setembro a agosto.
O chefe-geral da Embrapa Soja, Alexandre Nepomuceno, concorda com a questão da extensão territorial, mas acrescenta ingredientes importantes ao sucesso, em especial a pesquisa e a introdução do cultivo de soja no Brasil. Ele afirma que 70% dos quase 77 milhões de hectares cultivados já utilizam o plantio direto, o que tem permitido a colheita de safras sucessivas sobre o mesmo terreno – levando a safras recordes. “Temos de levar em conta que a expansão da soja no Brasil contribuiu para essa evolução, pois, além de ser um grão altamente produtivo, a planta tem características que preservam e enriquecem o solo, evitando sua exaustão. Outros países produtores de grãos, como Argentina, EUA e toda a Europa, não conseguem isso porque têm invernos rigorosos”, explica Nepomuceno.
A tecnologia também incrementa a produtividade auxiliando em técnicas como plantio direto, irrigação e melhoramento genético. Um bom exemplo da evolução no manejo é o plantio direto em associação com maquinário. A técnica existe desde a década de 70 – o solo fica coberto por palha e resíduos da cultura colhida. Essa “capa protetora” enriquece o solo mantendo a umidade, fixa os adubos já utilizados, facilita o desenvolvimento de microrganismos, evita a erosão e também a compactação do solo. As máquinas atuais abrem sulcos no solo, depositam as sementes, junto com o adubo e equipamento cobre os sulcos, favorecendo a germinação, com isso, em associação à técnica, diminui a necessidade de arar, gradear ou adubar previamente a terra.
A Cooperativa Agrícola de Capão Bonito, no sudoeste paulista, com 102 agricultores associados se beneficia disso produzindo cinco safras em dois anos – um ano de três safras, outro de duas. O solo fica o ano inteiro com alguma lavoura – rotação com soja, milho, milho safrinha, sorgo, trigo, feijão e cobertura verde – aumentando a umidade, reciclando e repondo nutrientes. O feijão plantado entre agosto e setembro foi colhido em dezembro; na colheita do feijão, se iniciou o plantio da soja que será colhida em abril e, na sequência, será plantado o trigo, que ficará no ponto em setembro. As máquinas plantadeiras seguem o rastro de palha triturada deixado pelas colheitadeiras e abrem sulcos para depositar a semente com adubo.
Esse círculo virtuoso de sistema de produção intercalado pode dobrar, na próxima década, a já elevada produção brasileira de grãos (somos o terceiro produtor mundial) e ainda recuperar o solo. “Temos uma área de 120 milhões de hectares de pastagens, e metade disso é de pastagem degradada. Dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) mostram que vamos aumentar, só de soja, de 10 milhões a 15 milhões de hectares, e a soja é uma grande recuperadora de solos, por isso recupera também as pastagens.”, resume Alexandre Nepomuceno, da Embrapa.
Fonte: SNA
Discussão sobre post