Com iniciativas de engajamento e capacitação, as cooperativas de diferentes ramos de atuação podem ter papel fundamental para o aumento da participação feminina no campo. A estrutura dessas organizações é uma facilitadora para a ampliação da diversidade de gênero no agronegócio, avaliam produtoras rurais e lideranças que participaram do Encontro Nacional das Mulheres Cooperativistas (Enmcoop).
Luciana Martins, diretora executiva do Grupo Conecta, que realiza o evento, destaca o equilíbrio preconizado pelas cooperativas, especialmente por meio de núcleos femininos e atividades sociais.
“O Sistema S, do qual o Sescoop (Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo) faz parte, tem plataformas de capacitação gratuita que são geradoras de transformação. Muitas vezes, as propriedades familiares têm a presença apenas do casal e dos filhos, ou seja, essa qualificação é essencial para que a mulher conheça suas potencialidades e consiga gerir a empresa”. Para Luciana, o conhecimento amplifica a autoestima e, consequentemente, incentiva o aprofundamento da atuação das produtoras no campo.
Realizado pela primeira vez em alto-mar, o Enmcoop iniciou na terça (21) e termina hoje (24) a bordo de um grandioso transatlântico que navegou entre os litorais paulista e catarinense. Em torno de 2 mil participantes de todas as regiões do país estiveram reunidas no evento.
Uma das “comandantes” do navio, a produtora goiana Sônia Bonato acredita que a troca de experiências e o conhecimento que será levado às propriedades servirão de mobilização para outras mulheres. “A palavra ‘cooperar’ já diz muito. É o que estamos fazendo aqui, umas com as outras”, salienta.
Aline Beledelli, de 28 anos, é produtora de soja e milho em Sorriso (MT) e integra o conselho fiscal da Coacen – Cooperativa Agropecuária e Industrial Celeiro do Norte. Outras 45 mulheres ligadas à organização participaram do encontro. Ela afirma que percebeu, nos últimos anos, um maior envolvimento de jovens, filhas de agricultores, nos negócios rurais na região do município, que é o maior produtor de soja do país.
“Acredito que as cooperativas dão força a esse movimento, porque muitas vezes não temos condições para executarmos sozinhas determinado plano ou projeto, como fazer um curso, por exemplo”, define.
“Dentro do agro, a maioria ainda é homem, e é comum termos vergonha até de fazer perguntas em eventos do setor”, relata Aline.
A agropecuarista Gracieli Graminho Calgaro é filha de um dos fundadores da Codepa – Cooperativa de Desenvolvimento e Produção Agropecuária – de Mangueirinha (PR). Cooperada e atuante, ela conta que no último dia de campo promovido pela organização um grupo composto apenas por mulheres foi formado para a visitação das parcelas técnicas. “Alguns representantes de vendas tomaram um susto e disseram que nem sabiam como falar para um público 100% feminino”, revela.
Aos 40 anos e mãe de três crianças, Gracieli está cursando agronomia. Já graduada em administração de empresas, ela trabalhou por anos longe das propriedades da família, até que mudou de ideia e decidiu buscar qualificação para ser inserida nos negócios.
“Quando ingressei na faculdade de agronomia foi o momento em que me senti pertencente. Comecei a falar a mesma língua do meu pai e dos meus dois irmãos e passei a entender o que estava acontecendo na empresa”, declara.
No segundo ano do curso, a produtora que prefere cuidar da parte operacional das fazendas diz que está plenamente realizada e não se imagina mais trabalhando em outra área.
“Gosto de saber como as coisas acontecem, de acompanhar a lavoura crescer. Ao mesmo tempo, lido com os funcionários e recebo um retorno muito positivo deles. Acho que toda a mudança foi parte de um processo. Aprendi muito atuando em outras áreas, o que me ajudou na preparação para as funções que tenho hoje”, conclui.
Fonte: Globo Rural
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