A sucessão rural é um tema que vem sendo discutido com frequência no Paraná por entidades representativas do setor rural, autoridades do governo estadual e os próprios proprietários de terras cultiváveis.
Um grupo de jovens produtores rurais acaba de reivindicar na Câmara dos Deputados a necessidade de políticas públicas que tornem a zona rural tão atraente quanto as grandes cidades, para que não haja esvaziamento o campo.
Para o ex-secretário de Estado da Agricultura e assessor da presidência do Sistema Federação da Agricultura do Estado (Faep – Senar), Antonio Poloni, essa visão de que o jovem agricultor quer abandonar o campo e ir para a cidade, dificultando o processo sucessório na propriedade rural, não representa a realidade no Paraná.
Para ele, a permanência do jovem no campo depende de sua visão de futuro em relação à propriedade e a vontade do atual gestor, no caso os pais, em “abrir o jogo” e ter disposição em passar suas experiências e aceita-los como o novo administrador. Com isso, há um estímulo e o jovem não vai embora por entender, também, que a propriedade é rentável e que precisa compartilhar com toda a família.
HERDEIRO DO CAMPO
No Paraná, o Senar-Paraná criou um curso – Herdeiros do Campo – onde, na primeira etapa, filhos, genros e noras, são preparados para a sucessão, através de um planejamento e, na segunda etapa, o trabalho é voltado para treinamento e preparo do sucessor. Na França, explica Poloni que morou em propriedades agrícolas naquele país, há um programa chamado Projeto Casas Familiares Rurais que objetiva formar o jovem produtor, nos moldes parecidos ao do Herdeiros do Campo.
Desde 2016, o Programa Herdeiros do Campo, criado pelo Sistema Faep/Senar – Paraná, atua para despertar na família rural a importância do planejamento sucessório na propriedade, do ponto de vista dos negócios. Nos últimos anos, o programa entrou no radar das cooperativas paranaenses. Como essas entidades trabalham com planejamentos de longo prazo e realizam grandes investimentos na produção agropecuária, a indefinição em relação à troca de comando nas propriedades dos seus cooperados pode significar prejuízos no futuro. Afinal, as produções agrícolas e pecuárias abastecem a atividade agroindustrial destas instituições.
“Olhar para a sucessão familiar nas propriedades é uma forma de garantir longevidade e segurança dos sistemas de produção e de integração. Isso resulta na viabilidade econômica tanto individual quanto coletiva”, observa o consultor do Sistema Faep-Senar – Paraná, Antônio Poloni.
O superintendente do Sistema Faep-Senar, Carlos Augusto Albuquerque observa que muitos jovens que migram para a cidade buscam a profissionalização e depois voltam para o meio rural. Esses jovens, filhos de proprietários de terras, fazem suas faculdades e voltam como engenheiros agrônomos ou técnicos rurais justamente para dar continuidade ao trabalho na propriedade.
PREPARO DOS JOVENS
O curso Herdeiros do Campo, diz Albuquerque, é um instrumentos de ensinamento e preparo para esses jovens que pretendem introduzir novas tecnologias no meio rural. O Senar Paraná possui dezenas de outros cursos para melhorar a produção agropecuária, a renda e a qualidade de vida da família rural paranaense.
Entre os cursos do Senar Paraná, cultivo do café, forragicultura, cana de açúcar, tabaco, floricultura, fruticultura, prestação de serviços, silvicultura, agricultura de precisão, tratores agrícolas, grãos, máquinas pesadas, aplicação de agrotóxicos, segurança no trabalho, gestão, alimentos, avicultura, suinocultura, bovinos de corte e de leite, equinos, ovinos e caprinos, piscicultura, condutores de veículos, turismo rural e inclusão digital, entre outros.
O PAPEL DO AGRINHO
Entre os programas de apoio ao homem do campo, o presidente do Sistema Fae-Senar-Paraná, Ágide Meneguette, destaca, além do Herdeiro do Campo, o “Agrinho” que leva às escolas da rede pública de ensino proposta pedagógica levando informações sobre saúde e segurança pessoal e ambiental principalmente às crianças do meio rural.
Meneguette explica que o Agrinho envolve a participação de mais de 800 mil crianças e perto de 50 mil professores da educação infantil, do ensino fundamental e da educação especial, estando presente em todos os municípios paranaenses. “O Agrinho é, também, um incentivador às crianças nascidas no campo e um estímulo para que permaneçam no campo”, pontuou o presidente do Sistema Faep-Senar-Paraná.
INCLUSÃO DOS JOVENS
O presidente da Ocepar, José Roberto Ricken, relata que a vitalidade natural dos jovens pode ser potencializada quando eles se reconhecem nos valores e princípios do cooperativismo. Diversas pesquisas mostram que o jovem não quer apenas prosperar individualmente e que a juventude almeja por bons propósitos que promovam a igualdade e o desenvolvimento sustentável. O futuro da cooperativa está diretamente ligado à inclusão dos jovens nas cooperativas. “Qualificar as novas gerações é uma ação estratégica para garantir o futuro e a perenidade das cooperativas”.
Embora a ExpoLondrina 2023 tenha, através de Seminário, revelado que o campo paranaense perde cinco mil famílias por ano no êxodo rural, o deputado federal e presidente da Frente Parlamentar do Agronegócio na Câmara, deputado Pedro Lupion, sustenta que esse quadro de fuga de jovens do campo não existe em grande escala e hoje a realidade é bem diferente de alguns anos atrás.
Lupion observa que, hoje, com alta tecnologia no campo, bem como a profissionalização de seus atores, através de incentivos, cursos, integração e cooperativismo, “a molecada está deixando de procurar oportunidades nos grandes centros e se fixando cada vez mais no campo, principalmente em propriedades familiares, promovendo a sucessão agropecuária”.
NO CAMPO, A OPORTUNIDADE
– Esses jovens, afirma o parlamentar, estão vendo no campo uma boa oportunidade de aumento de renda e qualidade de vida. Com treinamento e preparo, os jovens estão optando em ficar no campo e muitos que saíram para estudar, também estão represando às origens. “Hoje, um operador de uma máquina de colheita com alta tecnologia tem que estudar e entidades como o Senar-Paraná e as próprias cooperativas estão proporcionando cursos técnicos para isso”, disse Lupion.
Na ExpoLondrina, o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná) apresentou teses em que mostram que a Agroecologia, um modelo de agricultura alternativa baseada na integração e aplicação de conceitos ecológicos e sustentáveis na produção de alimentos, tem contribuído para a sucessão familiar no campo.
Relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), mostra que “a agroecologia ajuda a apoiar a produção de alimentos e a segurança alimentar e nutricional enquanto restaura os serviços ecossistêmicos e a biodiversidade que são essenciais para a agricultura sustentável”.
“A agrofloresta é uma importante ferramenta de sucessão familiar, porque tem uma rentabilidade muito interessante e isso tem motivado muita gente”, disse o coordenador estadual do Programa de Agroecologia do IDR Paraná, André Luis Alves Miguel. Atualmente, o Paraná é o estado com maior número de produtores certificados do país, quase 4 mil produtores que adotam a agrofloresta. Eles representam 16% dos produtores certificados do País.
DIFERENCIAL PARA OS JOVENS
“Cada ano, o estado se destaca como o maior crescimento da produção orgânica do país e é responsabilidade do IDR contribuir com o produtor para que ele continue na sua propriedade gerando renda”, explicou a diretora do IDR Paraná, Vânia Cirino.
“A agroecologia é um dos caminhos possíveis para que os jovens permaneçam no campo. E a produção orgânico mostra que os jovens estão fazendo uma transição inversa, da cidade para o campo, para se dedicarem a sistemas de produção de alimentos “, definiu o coordenador estadual do Programa de Agroecologia do IDR Paraná, André Luis Alves Miguel.
REDUÇÃO DA PENOSIDADE
Para o diretor regional Curitiba do IDR, médico veterinário Orival Stolf, hoje existem mais de 600 extensionistas percorrendo todos os municípios paranaenses auxiliando agricultores no uso de novas tecnologias procurando dar a eles uma redução da penosidade que é trabalhar no campo, de sol a sol e com chuva. Com o apoio desses técnicos, a propriedade passa a ser mais produtiva e a estimular os jovens a permanecerem no campo, disse.
Hoje, observa Stolf, 13% da população paranaense ( 2 milhões de habitantes) estão no campo e a tendência é de redução. Por isso, destaca, é preciso políticas públicas, como estradas, energia elétrica, escolas e até saneamento básico, para promover o desenvolvimento no campo e fixar o jovem no campo promovendo a sucessão da agricultura familiar.
POLÍTICAS PÚBLICAS
Para o grupo de jovens que foi a Brasília, uma das exposições aos parlamentares foi a necessidade de estradas de qualidade, de internet, de assistência técnica, de apoio à produção e à comercialização, de crédito e de acesso à terra. Destaca ainda a necessidade de apoiar a organização das cooperativas, das associações de jovens, para poder ampliar a produção e garantir a sucessão rural e a soberania alimentar.
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Fonte: Paraná Portal
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