Depois de uma safra recorde de trigo no Rio Grande do Sul, é hora de olhar o mercado para a próxima temporada. A Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (FecoAgro/RS) reuniu dirigentes de forma virtual para falar sobre os cenários para o cereal. O convidado para falar sobre o assunto foi o analista de Safras e Mercado, Élcio Bento.
Segundo o especialista, neste início de fevereiro o mercado de trigo está lento. Ele salientou que os moinhos estão abastecidos e na defensiva. “Eles sabem que tem uma safra recorde no Rio Grande do Sul, que os preços para exportação a partir do mês de janeiro, com a queda do dólar, travou a exportação e que o iminente ingresso da safra de verão pode trazer necessidade de venda para produtores que precisam abrir espaços em seus armazéns”, destacou.
Na outra ponta, conforme o analista, os produtores estão voltados para a safra de verão e não têm o interesse de vender o produto aos atuais patamares de preços neste momento. Bento reforçou também que houve quebra de qualidade no trigo do Paraná, o que deve abrir as fronteiras interestaduais para as negociações do cereal, além da baixa disponibilidade na Argentina, que também vem sofrendo com os efeitos climáticos. “Essa ausência argentina em grande parte das compras aqui no Brasil é que vai abrir espaço para a comercialização”, observou.
Sobre o cenário internacional, Bento reforçou, citando dados de janeiro do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), que a oferta já está definida. “O que está se definindo e pode ter alguma alteração no relatório de fevereiro, é que podemos ter mudança no Hemisfério Sul, pois o pessoal lá para cima já terminou a colheita em setembro. E agora o pessoal que terminou em janeiro é que ainda pode ter algum balanceamento, de ajuste fino nessa produção. O que pode mudar é a questão da demanda, como alguma coisa nas exportações dos Estados Unidos que têm muito pouco trigo”, frisou, acrescentando que os norte-americanos vivem uma situação complicada na safra de inverno devido ao excesso de frio e isso deve determinar as cotações do cereal daqui para frente.
Sobre a situação da guerra entre Rússia e Ucrânia, o analista lembrou que o plantio da safra nos dois países já estava definido quando o conflito iniciou. “Tivemos tombos de produção na Ucrânia, na Argentina e na Índia. Na Ucrânia sabemos os motivos de uma quebra de 12 milhões de toneladas. Foi a dificuldade de manejo que fez com que tivesse essa quebra e agora a safra está sendo plantada com o país invadido”, avaliou, acrescentando que o mercado já precificou o fator guerra.
Em compensação, na outra ponta, a Rússia aumentou em 16 milhões de toneladas e vindo para o mercado com preços competitivos. “O preço na Rússia no FOB Mar Negro estava despencando. Toda essa incerteza que se tinha sobre o abastecimento da Rússia no pós-guerra estamos vendo que não se consolidou. Não se tem sanções em cima do trigo, um alimento básico para a população”, avaliou.
Sobre a Argentina, Bento explicou que a perspectiva era de uma colheita de 20 milhões de toneladas, mas o país vizinho colherá apenas 11 milhões de toneladas do cereal. “No ano passado a Argentina vendeu 90% de todo o trigo que o Brasil comprou. Essa fraqueza da Argentina no mercado de exportação vai trazer a necessidade de o Brasil buscar mais trigo em outras origens, em especial da Rússia que neste ano comercial já é o segundo maior vendedor de trigo”, afirmou.
No cenário brasileiro, o analista de Safras e Mercado destacou que o Rio Grande do Sul se salvou dos problemas climáticos que atingiram outros Estados do Sul. Com isso, o Estado pode se tornar fornecedor do cereal para mercados internos que não tiveram o mesmo potencial dos gaúchos. “É um ano que temos bastante excedente e teremos que colocar no mercado internacional. Só que boa parte deste excedente do trigo de boa qualidade foi prejudicado no Paraná, que vai precisar comprar muito de fora. Comprar da Argentina está caro, trazer da Rússia é longe. Então esta fronteira do Rio Grande do Sul pode se abrir de forma interestadual. O que prejudica é o frete que já está alto e com a colheita da safra de verão deve ficar mais caro, e a questão do ICMS alto que também trava”, complementou.
Fonte: FecoAgro/RS
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