Produtores rurais do sul do país conseguiram melhorar seus resultados com o uso de uma ferramenta inédita: o aplicativo Demetra, da startup Elysios. Trata-se de uma espécie de caderno de campo digital que ajuda a registrar e organizar todos os dados relativos ao cultivo. Constam no app informações como datas de colheita, manejo, temperatura, precipitação (chuvas) para o dia, além de previsibilidade de produtividade da safra.
Matheus Ludwig, proprietário da Granja Ludwig, que produz morangos, além de outras frutas e legumes em uma área de 5 hectares em Bom Princípio (RS), conta que implementou a rastreabilidade da produção usando o aplicativo da Elysios – e isso aumentou em 20% as vendas de seus produtos.
E como Matheus chegou à startup? A ponte foi feita por meio de três cooperativas que compõem o Sistema Sicredi: Sicredi Caminho das Águas (que atua no litoral norte do Rio Grande do Sul), Sicredi Pioneira (que atua em 21 municípios entre o Vale do Sinos e a Serra Gaúcha) e o Sicredi Serrana (que atua em cidades do Rio Grande do Sul e do Espírito Santo).
As três se uniram à aceleradora Ventiur em maio de 2022 para criar seu fundo de Corporate Venture Capital, o Comunitá. Desde que o CVC foi lançado, foram analisadas mais de 170 startups. O primeiro aporte foi justamente na Elysios, no valor de R$ 1 milhão.
O segundo cheque foi de R$ 700 mil, para a Movestock, uma startup de Caxias do Sul que facilita o reuso de ativos excedentes e obsoletos de outras empresas por meio de um marketplace. No final de 2023, foi anunciado o terceiro investimento: de R$ 600 mil, na ESG Now, startup focada na implementação, operacionalização e monitoramento de estratégias ESG 360º.
“Queremos ser vistos como um hub inovador, no qual os associados do agronegócio têm a possibilidade de acessar soluções de startups por meio da conexão que o Sicredi traz”, afirma Sherlei Zucchetti, diretor-executivo do Sicredi Caminho das Águas. “E não falo de serviços da nossa atividade principal, que são os financeiros. É como se, dentro da nossa prateleira de soluções financeiras, a gente começasse a oferecer, por meio da inovação aberta, outros serviços que também são demandas do nosso quadro de associados”.
A ideia do fundo é que as startups selecionadas recebam investimentos a partir de R$ 500 mil, com a participação de coinvestidores. O CVC Comunitá também estabelece contratos comerciais preferenciais ou exclusivos entre as startups e os clientes do Sicredi.
“O fundo tem uma tese de investimentos fora do comum. Normalmente, o Corporate investe nas startups olhando para dentro, tentando melhorar a performance, resolver algum problema ou gargalo da corporação. No Sicredi, elaboramos uma tese muito mais aberta, de como a startup investida ajuda um cliente do Sicredi a melhorar seu desempenho”, diz Sandro Cortezia, CEO da Ventiur.
Startup leva tecnologia para o campo
A parceria também rendeu frutos para a própria Elysios. Depois do investimento feito pelo fundo, em 10 mese, a startup com sede em Porto Alegre (RS) aumentou sua base de usuários de 3 mil para 3,8 mil agricultores, um crescimento de 26%. Hoje, um terço da sua base de clientes é do sistema Sicredi. A agtech está presente em 17 estados brasileiros e tem mais de 100 mil hectares mapeados em sua plataforma.
A startup, que faturou R$ 1,9 milhão no ano passado, projeta chegar a um faturamento de R$ 5 milhões em 2024. Para isso, conta também com o avanço de outras soluções, como as tecnologias de monitoramento à distância, que ajudam o produtor a estar à frente — literalmente — da gestão das propriedades.
“Os produtores relatam que, sem as tecnologias de sensoriamento ou automação, alguns deles têm que subir quase que de 2 em 2 horas na estufa para trocar bombas. Quando ele automatiza, consegue acompanhar à distância. Temos um cliente de plantas medicinais no Paraná que diminuiu de 60 para 50 dias o tempo médio do ciclo para produção. Isso porque ele consegue monitorar à distância a qualidade das mudas e as condições ideais de desenvolvimento”, relata Mário Apollo Brito, cofundador e CCO da Elysios.
“Em muitas propriedades agrícolas, a realidade é que há um custo muito grande relacionado à falta de comunicação. Isso se reflete no alinhamento das atividades, na distribuição de tarefas, na organização da empresa rural. Quando o produtor consegue visualizar quanto gastou de insumo, que condições de clima ele teve, entre outras informações, ele coordena melhor a safra seguinte”, explica Mário.
Os cadernos de campo digitais e tecnologias de monitoramento climático e automação de processos da empresa prometem até 30% de aumento em lucratividade dos cultivos.
Fonte: Época Negócios
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