Um trabalho que rende frutos nos sentidos literal e figurado. Este é o resultado alcançado pela Rede de Sementes do Vale do Ribeira, que oferta sementes para a restauração de áreas degradadas de Mata Atlântica e gera renda para comunidades quilombolas dos municípios paulistas de Iporanga e Eldorado.
A Rede foi criada em 2017 a partir da reunião de quilombolas da região que iniciaram a coleta de sementes de espécies nativas de seus territórios para disponibilizar ao mercado de reflorestamento. O trabalho deu tão certo que, em 2023, foi formalizada a primeira cooperativa quilombola de coletores de sementes. E, desde então, o grupo extrativista só cresce.
Foi o que ocorreu durante o encontro anual da Rede, nos dias 6 e 7 de maio, quando novos integrantes foram incorporados à Cooperativa da Rede de Sementes do Vale do Ribeira, que hoje soma 52 cooperados. Ao longo dos dois dias, em assembleia, os coletores ainda deliberaram acerca dos valores praticados sobre as sementes; apresentaram seu estatuto, com as funções e tarefas de cada participante e socializaram o balanço de 2023, com os números de venda e coleta.
Ao todo, o grupo comercializou R$ 140 mil no ano passado, fruto da venda de mais de uma tonelada de sementes nativas da Mata Atlântica, que reflorestaram 35 hectares do bioma degradado a partir de uma variedade de 81 espécies como Jaracatiá, Araçá, Tapixingui, Guapiruvu e Mamica-de-Porca.
“Eu quero ser sócio porque eu acredito no trabalho que está sendo desenvolvido pela Cooperativa da Rede de Sementes. Não quero ser só mais um. Quero somar neste trabalho de restauração da floresta, porque, para mim, esta também é uma luta”, declarou o novo cooperado, Amarildo Meiri de França , coletor do Quilombo São Pedro.
A Rede de Sementes é um exemplo de como se realiza, na prática, a economia da sociobiodiversidade: o uso sustentável da biodiversidade em atividades que geram renda para os povos e comunidades tradicionais, baseadas numa respeitosa relação destas pessoas com a natureza, o que resulta na preservação do meio ambiente, incidindo desde a mitigação dos efeitos críticos resultantes das mudanças climáticas até a garantia da segurança alimentar, ou seja, na melhoria da qualidade de vida de quem historicamente habita e é guardião da floresta em pé.
Pensando em toda esta cadeia, a coletora e secretária da Cooperativa da Rede, Zélia Morato, do Quilombo André Lopes, provoca: “Quem é que fala que dinheiro não dá em árvore? Dinheiro dá em árvore de pé, sim! Aqui está o exemplo disso. Nós não derrubamos. Nós preservamos as árvores e, assim, sempre vamos ter sementes para coletar”.
“No início achei que isso era impossível. Pensei até que era uma brincadeira. Mas logo entendi o tamanho deste trabalho. E é por isso que estou aqui. Estou aqui para reflorestar, para levar árvores para onde não tem, para onde está degradado. E, desde então, além de ajudar a crescer novas florestas, minha família também tem uma nova fonte de renda. Todo mundo sai ganhando”, declara ela que é uma das primeiras coletoras e articuladoras da Rede.
Você sabia que a Economia Circular, a Bioeconomia, a Agroecologia, e Agrofloresta, a Economia Regenerativa e a Bioconstrução são praticadas pelos Povos e Comunidades Tradicionais há séculos?! E que elas são a base da Economia da Sociobiodiversidade?! Entenda o caminho apontado por indígenas, quilombolas, ribeirinhos e tantas outras comunidades como a possibilidade possível de um futuro sem escassez de água, desmatamento e destruição, reduzindo os impactos de devastação da emergência climática. Assista aqui!
Fonte: Portal Socio Ambiental
Discussão sobre post