Uva branca, vermelha e preta. O Rio São Francisco, o clima, a tecnologia e o cooperativismo, estão ajudando a transformar o semiárido nordestino num verdadeiro mar de uvas de variado colorido, sabores, crocância e aromas únicos.
Navegando ao sabor destes ventos favoráveis, uma cooperativa de produção de uvas de mesa sem sementes, de Petrolina, no Vale do São Francisco, vem se revelando pelo exemplo de empreendedorismo, produtividade, desenvolvimento sustentável com equilíbrio ambiental, união e empoderamento feminino.
A Cooperativa de Produtores Exportadores do Vale do São Francisco (Coopexvale), nasceu há 20 anos, da visão empreendedora de 27 produtores rurais, somada à necessidade comum de uma estrutura comercial e de logística, que fizesse chegar as uvas nos quatro cantos do país. “No início, enfrentamos dificuldades em todos os sentidos, mas a partir das primeiras operações de compra e venda bem-sucedidas tudo foi se ajustando naturalmente“, lembra o presidente da organização, Álvaro Solano.
Localizada na maior região produtora de uvas de mesa do Brasil, onde estima-se ter, atualmente, 12 mil hectares em produção e responder por cerca de 95% das exportações nacionais da fruta, a cooperativa não demorou a chamar a atenção do mundo.
Em 2005, começou a exportar para mercados como os Estados Unidos e Continente Europeu. Atualmente, além destes, são contemplados os mercados da Inglaterra, Holanda, Espanha, Irlanda, Argentina, Canadá e Alemanha. No mercado interno, já se consolidaram os sabores inconfundíveis com as marcas: Gota de Mel, Doçura do Vale e Uvas do Campo.
Tudo parecia estar em perfeita sintonia, até que chega 2008, e na bagagem, uma forte crise econômica, gerada nos Estados Unidos, com reflexo direto no dia-a-dia dos produtores de frutas do Vale.
Com a insatisfação generalizada entre os cooperados, tornou-se inviável a comercialização das frutas no mercado exterior e alguns cooperados preferiram deixar a organização. A saída de quadros importantes abalou as estruturas e deixou um rastro de insegurança e incertezas no núcleo forte da organização. Mas foi por pouco tempo. Passado o sufoco, não demorou muito para a cooperativa ampliar o número de cooperados, retomar investimentos e recuperar o ânimo do sonho sonhado junto.
A combinação do clima com as tecnologias de irrigação, transformou o Vale do São Francisco na única região do mundo capaz de produzir duas safras e meia de uva de mesa por ano. Os parreiras irrigadas com as águas fartas e férteis do Velho Chico, são alimentados através de uma moderna, eficiente e precisa distribuição de água.
Exemplo de cooperativismo
Sistemas de irrigação, a exemplo de gotejamento e microaspersão, garantem o controle e a redução do consumo da água, aumentando a produtividade e permitindo às plantas uma maior absorção dos nutrientes através da fertirrigação. Acostumadas com a irrigação controlada, as uvas não suportam água em excesso e sofrem muito nos períodos chuvosos. Em novembro de 2022, outro episódio marcou a história de união, tenacidade e determinação dos associados da Coopexvale.
Depois de uma semana de fortes chuvas, com precipitações de até 187 mm em um mesmo dia, seis hectares de parreirais de dois dos cooperados foram ao chão, gerando a possibilidade de um prejuízo inicial de R$ 980 mil, caso não fossem levantados a tempo. O que aconteceu nos dias seguintes passou a ser conhecido como um dos maiores exemplos de cooperativismo em todo país.
Os cooperados se uniram em mutirão, e em surpreendentes dois dias e meio de intenso trabalho, conseguiram levantar manualmente os parreirais, planta por planta. O produtor e consultor de uvas Augusto Prado, recorda emocionado da determinação e altruísmo de cada um dos seus parceiros durante o duro trabalho braçal. “O desespero deu lugar à esperança quando a ajuda foi chegando, de perto e de longe, com muita força de vontade e disposição, mesmo embaixo de chuva. Um momento emblemático“.
Difícil de esquecer e imortalizado pela Câmara de Vereadores de Petrolina, que concedeu em junho de 2023, por unanimidade, uma Moção de Aplausos em reconhecimento ao exemplo de união, força colaborativa e solidariedade dos fruticultores. O mutirão também foi largamente divulgado pela imprensa nacional com a publicação de matérias em grandes veículos, a exemplo da websérie Somos Coop na Estrada, apresentada pela jornalista Glenda Kozlowski.
Sustentabilidade
Hoje, 34 cooperados produzem 18 mil toneladas de uvas em uma área de aproximadamente 600 hectares, transformando a Coopexvale na segunda maior produtora de uva da região e a primeira, entre as cooperativas, com maior produção desta fruta no Vale. Um modelo de negócios sustentável e com uma vitalidade econômica financeira que hoje é exemplo. A organização cresce aproximadamente 10% ao ano e gera 2.600 empregos diretos.
Para manter todo esse fluxo em perfeito funcionamento, a sociedade ampliou os investimentos em estrutura, adquirindo 9 câmaras frias para acondicionamento, 6 túneis de resfriamento, docas de embarque/recebimento das uvas e uma grande área para armazenagem. Foram feitos também investimentos no setor de vendas para o mercado interno e externo, assessoria e orientação na colheita e pós-colheita, controle de qualidade da fruta, compra e distribuição de insumos e embalagens.
Controle de qualidade
As uvas, colhidas à mão, cacho a cacho delicadamente, passam por um rigoroso controle de qualidade até a paletização e carregamento no caminhão. Entre as variedades produzidas, destacam-se a Arra 15, BRS Vitória, Cherry Crush, Sugar Crisp, Autumn Crisp e Cotton Candy.
O resultado de todos esses cuidados vem na forma de uma fruta saudável e sem resíduos. Todos os cooperados obedecem ao protocolo normativo das Boas Práticas Agrícolas (BPA), e possuem certificações internacionais como o Global G.A.P, GRASP, SMETA/ SEDEX, além de serem auditados diretamente pelos importadores e supermercados.
Em paralelo, uma política de capacitação e atualização, com a oferta de cursos, treinamentos, participação de feiras nacionais e internacionais, mantém a equipe em dia com os avanços e inovações tecnológicas do setor, viabilizando ainda a promoção no trabalho e o crescimento profissional. Exemplo maior dessa estratégia é a história de vida da colaboradora e gerente geral da cooperativa, Jucileide Vieira.
Nascida em Petrolina, ela começou a lida na roça ainda adolescente, como trabalhadora rural em uma empresa produtora de frutas. Depois de vários empregos em atividades distintas da agricultura, Juscy ingressa em 2004 na cooperativa como assistente financeiro. Com o olhar atento de quem acompanhou a organização desde seus primeiros passos, ela marca presença no dia-a-dia dos cooperados em praticamente todas as decisões. Seja nos detalhes da produção e comercialização das uvas ou nas ações de responsabilidade social.
Cooperativismo
A Coopexvale participa eventualmente de campanhas e projetos em prol da comunidade, a exemplo das comemorações do Dia Internacional do Cooperativismo (Dia C), quando são feitas doações à entidades filantrópicas de Petrolina. Formada em Administração de Empresas e pós-graduada em Cooperativismo, Jucicleide Vieira hoje é motivo de orgulho para a cooperativa.
Todos os pernambucanos a respeitam também pelo trabalho exercido como coordenadora da Comissão de Mulheres Cooperativistas de Pernambuco e representante do Estado no Comitê Nacional do movimento Elas pelo Coop.
Conquistas que refletem o empoderamento feminino, ampliando espaços e a crescente participação da mulher em cargos relevantes e com poder de decisão. A história da Coopexvale se confunde com a trajetória de cada um dos seus cooperados e colaboradores.
Um testamento com as letras todas da palavra cooperar, que une, move, eleva e converte habilidades individuais em resultados coletivos, transformando o doce sabor das uvas num legado de união e trabalho, entre o Velho Chico e a história.
Fonte: Blog Waldiney Passos
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