Barreiros, na microrregião da Mata Sul pernambucana que engloba mais outros 23 municípios, começa a despontar com uma atividade que nunca teve tradição por aquelas bandas: a apicultura. A novidade surge com a promessa não só de diversificar os negócios da região, mas também como alternativa sustentável de geração de emprego e renda à comunidade local. Isso foi possível graças a uma iniciativa da Cooperativa Agrícola de Assistência Técnica e Serviços (Cooates), que tem 23 anos, trabalha com extensão rural, assistência técnica, elaboração de projetos e consultoria a pequenos agricultores familiares, mas resolveu diversificar os negócios.
O mel e o própolis vermelho, primeiros produtos a serem fabricados e comercializadas pela nova marca da cooperativa, a Vale do Una, chegam às prateleiras dos supermercados e farmácias locais e vão ser apresentados a pelo menos dois mercados internacionais ainda este mês.A marca irá participar de duas ações de promoção de seus produtos visando iniciar a exportação para os Emirados Árabes e a Coréia do Sul.
No primeiro país, os produtos serão apresentados a 50 potenciais compradores empresariais em uma rodada de negócios; no segundo, a outros 80 que participarão da Seul Food, feira anual que promove o encontro entre empresas com importadores, distribuidores e compradores da indústria de varejo, catering e hotelaria.
A apicultura começou a ser explorada pela Cooates no ano passado. De lá para cá, a primeira conquista da cooperativa, que nessa atividade conta com 23 cooperados, foi conseguir aprovar na Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (Adepe) o projeto para implantação, em Barreiros, da unidade de beneficiamento. Ao longo de um ano, a cooperativa conseguiu resolver todos os trâmites legais possíveis para registrar o negócio, incluindo o recebimento do selo S.I.F. (Serviço de Inspeção Federal), do Ministério da Agricultura.
“Inauguraremos a unidade ainda este mês. Temos hoje cem colmeias instaladas, com perspectivas de que este número chegue a 500 em dois anos”, diz o presidente da Cooates, José Cláudio da Silva, acrescentando que a produção de mel para este ano deve chegar a 10 toneladas.
De acordo com o presidente da Cooates, a cooperativa resolveu explorar a atividade com a perspectiva de desenvolver um arranjo produtivo local com um processo de industrialização e comercialização. “Naquela região, principalmente no município de Barreiros, há apicultores, mas que não trabalham no processo de exploração. É mais para segurança alimentar, com uma ou duas colmeias cada pessoa”, lembrou José Cláudio.
Três floradas
A Cooates conta com três apiários, cada um com uma florada (conjunto de plantas que oferecem o néctar às abelhas) diferente: Florada da Caatinga (em Moreilândia, no Sertão), da Mata Atlântica e do Manguezal, estas duas últimas em Barreiros, mas em áreas distintas. Uma das floradas está longe do munícipio para que se obtenham características organolépticas (cor, sabor, aroma) diferentes, que estão sujeitas à preferência e aceitação do consumidor.
Todo o processo depois da retirada das melgueiras (decantação, centrifugação, controle de qualidade, envasamento etc.), no entanto, é realizado na unidade de beneficiamento, em Barreiros. A atividade de apicultura da cooperativa está gerando, segundo José Cláudio, 150 empregos diretos e 350 indiretos, números que podem quintuplicar dentro dos dois próximos anos. O mel será comercializado em quatro tipos de embalagens que vão de 250 gramas a 700 gramas, com preços que variam de R$ 31,99 a R$ 79,90. O extrato de própolis vermelho terá frascos de 30 ml vendido por R$ 46,00.
A marca Vale do Una nasce com um diferencial. Todos os projetos procuram incentivar e ajudar a desenvolver iniciativas que protejam o meio ambiente, preservando a biodiversidade. Procura, ainda, promover o desenvolvimento sustentável com as comunidades locais e programas de educação ambiental, capacitar as comunidades e propor alternativas de geração de renda para reduzir o impacto ambiental dessas áreas.
“A gente já desenvolve ações de sustentabilidade, fazemos resgate das abelhas na áreas urbanas, de degradação ambiental e queimadas para dar a elas um destino de segurança, de proteção à espécie. Com isso, levamos ao consumidor um mel de excelente qualidade, produzido também por uma abelhas resgatadas dessas áreas”, esclareceu José Cláudio.
Segundo ele, o resgate de enxames em locais inapropriados que oferecem risco às pessoas ou em áreas de degradação ambiental é feito a partir de solicitações pelas redes sociais ou por chamadas telefônicas à Cooates. “A gente envia uma equipe para fazer o resgate, usando técnicas apropriadas, com toda a segurança para dar um destino correto à espécie”, lembrou.
Mercado internacional
A prospecção do mercado externo pela Vale do Una foi viabilizada graças a um acordo entre a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil), esta última entidade vinculada ao Ministério das Relações Exteriores. A formação para a Cooates se deu dentro do Programação de Capacitação e Exportação da Apex Brasil (PEIEX), que atende, atualmente, 25 cooperativas em todo o País.
A ideia dessa capacitação, que possui duração entre três e seis meses, é preparar as cooperativas para ingressarem no mercado internacional com um direcionamento que vise a um resultado promissor. “É um programa que considera mais de 20 assuntos referentes à exportação, trazendo conhecimentos administrativos, aduaneiros, comerciais, financeiros e logísticos sobre o mercado internacional”, afirmou Maurício Manfri, monitor do Núcleo de Cooperativas do PEIEX.
Manfri acrescenta que, dentro dessa capacitação, a cooperativa tem acesso a ações de promoção como missões comerciais, rodadas de negócios e feiras internacionais. A Cooates e demais cooperativas que integram o PEIEX ingressaram na formação por meio de uma seleção realizada em todo o Brasil. Elas não pagam pela formação, e, após o processo, que inclui encontros virtuais e consultorias, são direcionadas ao processo de levar seus produtos a mercados internacionais.
Para Manfri, o modelo de cooperativa no Brasil é a forma mais fácil para pequenos produtores chegarem ao mercado internacional. “O modelo cooperativo permite que os pequenos juntem as suas forças produtivas. Juntos, os cooperados conseguem quantidade adequada e recurso financeiro para pagar pelo processo de chegada no mercado externo”, explicou.
Pernambuco está entre os dez maiores produtores de mel do Brasil. No Nordeste, o Estado ocupa a quarta colocação no ranking. De acordo com os últimos dados levantados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Estado fabricou 1.248.005 quilogramas de mel em 2021. O País registrou, no mesmo ano, um recorde na produção de mel. Foram 55.828.154 quilogramas, um aumento de 6,4% na comparação com 2020, segundo a Pesquisa Pecuária Municipal, do IBGE.
Fonte: Folha de Pernambuco
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