A participação feminina no cooperativismo fluminense vem crescendo ano a ano. De acordo com relatório da pesquisa do Sistema OCB/RJ, de 2022, as mulheres somam cerca de 1300 cooperadas em todo o Rio de Janeiro, nos diferentes segmentos de atuação. Outra boa notícia é que elas também estão em posições de liderança, superando preconceitos e desafios, com excelentes resultados de gestão.
Esther Araújo, formada em Letras, é um exemplo de como a garra e a competência femininas podem vencer grandes obstáculos. Presidente da Cooperativa Educacional Escola Fribourg, em Nova Friburgo, desde 2011, Esther ingressou em 2008 na cooperativa, ocupando a função de professora de português. Ela confessa que pouco sabia sobre o modelo de negócio na época, mas como já tinha experiência de trabalho em uma ONG, dois anos após se tornar uma cooperada passou a ocupar uma cadeira no conselho fiscal. Ela lembra que a cooperativa passava por dificuldades, mergulhada em dívidas, e precisava de um choque de gestão.
O então presidente saiu do cargo. Um grupo de sete cooperados decidiu se unir para formar um novo conselho e eleger um presidente. “Assumi a presidência aos 28 anos. Sem uma noção ampla do negócio, eu e os outros colegas fizemos uma série de cursos de capacitação no Sescoop-RJ para fazer com que a escola desse a volta por cima”, recorda Esther. O desafio era grande. Com a mudança da diretoria, cerca 150 alunos, dos 370 que tinha, deixaram a instituição de ensino. Alguns professores também foram embora, acreditando que a Fribourg não sobreviveria.
“Enfrentei preconceitos e barreiras até na minha família, pois abri mão de duas matrículas no estado para me dedicar à cooperativa, porque sempre acreditei que nosso projeto daria certo. O esforço valeu a pena”, diz a presidente. Para reerguer o negócio, a nova gestão decidiu mostrar para a comunidade que a escola era uma cooperativa, baixou seus muros, saiu em campo panfletando pelo bairro, implantou um sistema de bolsas para novos alunos. Tudo para tornar a escola, localizada em um bairro onde estão instaladas muitas confecções, acessível. “Queríamos mostrar para as costureiras e outras mães do bairro que era possível matricular seus filhos em uma instituição particular, tradicional na cidade e de boa qualidade. Nossa estratégia funcionou”, relata Esther.
Hoje, a Cooperativa Educacional Escola Fribourg tem visibilidade na cidade. “Temos 600 alunos, 90% deles do próprio bairro. Se antes sobravam vagas, agora há uma fila de espera. Ampliamos nosso escopo, passando a oferecer também a educação infantil, um segmento bastante concorrido na nossa região, e somos referência como escola de inclusão”, destaca Esther, pontuando que os consultórios de psicologia recomendam a Escola Fribourg para os pais, justamente por seu perfil inclusivo. “Temos diferentes classes sociais aqui e todos convivem muito bem. Somos rígidos com a padronização do uniforme e do material”, afirma. O corpo docente, antes formado por 20 cooperados, também cresceu. Atualmente, são 65 cooperados ativos, 10 funcionários e 10 estagiários. “E seguimos fortes. Sobrevivemos à pandemia e conseguimos até crescer nesse período”, comemora Esther.
A presidente da cooperativa de dentistas Uniodonto Resende, Aline Fernandes Chaves, iniciou no cooperativismo em 2004. No auge da pandemia, uma nova diretoria, formada apenas por mulheres, assumiu a cooperativa e ela foi eleita presidente, a primeira mulher no cargo. A cooperativa, que já estava em um cenário financeiro ruim antes da pandemia, tinha então uma prova de fogo pela frente.
“Encaramos aquela situação, fizemos treinamentos, buscamos crescer dentro do cooperativismo e com muito empenho conseguimos equilibrar as contas e tivemos até distribuição de sobras. Pela primeira vez, em 24 anos de existência, conseguimos fornecer, no fim de 2022, 13º salário para os cooperados”, destaca. Aline lembra que o resultado veio da persistência. “Fizemos um trabalho de formiguinha em todos os setores: vendas, área contábil, administrativo. Trocamos a papelaria pelo digital, enxugamos custos desnecessários, digitalizamos algumas atividades. As mudanças surtiram efeitos positivos”, pontua.
Aline conta que as mulheres da cooperativa também são solidárias. A Uniodonto Resende desenvolve um projeto social que abrange os municípios de Resende, Porto Real, Itatiaia e Quatis. “Montamos um consultório dentário em uma van e percorremos escolas públicas e abrigos de crianças para oferecer avaliação da saúde bucal, aplicação de flúor, orientação de técnica de escovação. Apenas mulheres se apresentaram para participar da iniciativa, doando uma tarde de trabalho”, conta.
Superadas as dificuldades financeiras, os planos da nova diretoria agora é arcar com o pagamento da taxa do Conselho Regional de Odontologia dos cooperados e fazer distribuições de sobras no meio e no fim do ano. “Estamos trabalhando para isso”, diz Aline com entusiasmo.
A história de Maria do Carmo Passos, presidente da Cooperativa Agropecuária do Carmo, começou de forma inesperada. Ela tornou-se uma empreendedora por uma questão de sobrevivência, pois precisava manter de pé o negócio da família. Casada com um produtor rural, que veio a adoecer, a então professora Maria do Carmo tomou as rédeas do negócio, acumulando os cuidados com três filhos pequenos à época. Sua propriedade fornecia leite para a Cooperativa Agropecuária do Carmo, que enfrentava dificuldades e estava perto de fechar. “Reuni então outros proprietários para assumir a cooperativa. Inicialmente, o objetivo era ficar pouco tempo, mas lá se vão 23 anos”, conta Maria do Carmo.
Em 2000, quando assumiu a presidência, a cooperativa devia R$ 600 mil. “As dívidas foram pagas. Recuperamos a imagem da marca dos produtos, que tem mais de 100 anos. A manteiga é o nosso carro-chefe”, diz com orgulho. E mais uma conquista da sua gestão foi a recente mudança para um novo prédio.
O cooperativismo entrou na vida da ginecologista Denise Damian como uma paixão avassaladora. Como cooperada da Unimed, a médica, com um currículo extenso e muito conceituada entre seus pares, foi convidada para representar o conselho técnico da ginecologia em um evento. “Lá, conheci e fiquei encantada com o cooperativismo de crédito, uma forma mais humanizada para lidar com o capital”. Ela conta que saiu do evento determinada a levar o cooperativismo de crédito para os médicos. Foram três anos tentando convencê-los da ideia.
“Nesse período me dediquei aos estudos da área, fiz pós-graduação em Administração de Empresas, MBA em Finanças. E a cada justificativa para eu desistir, eu rebatia com argumentos concretos na direção contrária”, conta Denise. Até que, por fim, ao verem que ela não desistiria, a ideia foi aceita e a cooperativa foi fundada, em 1992. Como a médica era quem mais entendia do assunto por ter estudado com afinco a área financeira, ninguém duvidou de que ela era também a mais capacitada para estar à frente do negócio.
Hoje, a médica preside a Sicredi Rio. A rotina de partos e atendimento a 50 pacientes por dia precisou ser abandonada para se dedicar à cooperativa de crédito. “Mas me mantenho na Medicina. Uma vez por semana, atendo no consultório, mas apenas a parte clínica da ginecologia”, diz. Ela afirma que, no início, não imaginava que o negócio iria ficar tão grande. “Mostrar solidariedade e cooperação é o melhor caminho para se construir uma sociedade. Sou apaixonada pelo cooperativismo, é a mola propulsora para enfrentar desafios”, ressalta.
Fonte: Assessoria de Imprensa do Sescoop/RJ
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