O designer Fred Gelli, cofundador e CEO da Tátil Design, encerrou o primeiro dia da Semana da Competitividade 2025 com uma palestra inspiradora sobre branding, identidade e a construção de marcas com propósito. O evento, promovido pelo Sistema OCB, segue até quarta-feira (11) e reúne lideranças cooperativistas, especialistas e influenciadores em torno de debates sobre inovação, sustentabilidade e protagonismo na comunicação e no marketing das cooperativas brasileiras.
Responsável pela identidade visual dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016 e eleito pelo Fórum Econômico Mundial como um dos dez designers mais influentes do mundo, Fred destacou a evolução do cooperativismo brasileiro como um ecossistema engajado e com forte conexão emocional com seu público. “Logo na chegada, vi uma galera empolgada tirando fotos, filmando e dizendo ‘SomosCoop!’. Isso não se compra com consultoria nem se inventa em planilha. Isso é construído com história, com entrega de valor real”, afirmou.

Durante sua apresentação, o designer abordou os desafios e oportunidades para o cooperativismo na construção de marcas relevantes, destacando que vivemos um momento propício para organizações com propósito claro e impacto positivo. “Existe uma geração inteira com apetite por transformação. E transformação é evolução. Isso o cooperativismo tem de sobra”, disse.
Fred também refletiu sobre o tema central do evento. “Quando ouvi pela primeira vez o nome Semana de Competitividade’, achei curioso ver essa palavra em um encontro de cooperativas. Parecia contraditório — mas não é. É provocativo. O que estamos dizendo é: como podemos competir cooperando?”, questionou.
Em sua fala, ele defendeu ainda uma abordagem mais sensorial e emocional para o branding. “O design é a alma visível do produto. Marcas não podem ser genéricas. Se você tapa o logo e não sabe quem está falando, essa marca não tem uma voz própria”, afirmou. E compartilhou experiências internacionais com design emocional e sustentável, ressaltando a importância da cultura e da autenticidade na criação de marcas memoráveis.
Segundo Fred, as marcas possuem três estágios de maturidade:
- Fortes: quando são lembradas por sua consistência e confiabilidade;
- Amáveis: que conquistam espaço afetivo e fidelizam emocionalmente o público.
- Campainistas: aquelas que existem para provocar transformação no mundo, com forte engajamento social e propósito.
Fred considera que o branding deixou de ser um “apêndice do marketing” e passou a ser uma ferramenta estratégica fundamental. “Branding é estratégia. É liderança. É cultura. É identidade. É a bússola que orienta o negócio”. E apresentou as quatro dimensões essenciais de uma marca: produto e serviço – a base de tudo é a qualidade; cultura – aquilo que se vive internamente reflete na percepção externa; relacionamento – como a marca se comunica e se posiciona; e simbologia – o lugar que ocupa no coração das pessoas.
Ao final, o designer reforçou que as cooperativas já possuem uma vantagem competitiva poderosa: a alma. “O mundo está cheio de coisas incríveis que não emocionam. O que emociona tem alma. E isso, vocês, cooperativistas, têm de sobra. Façam disso sua maior vantagem competitiva”, concluiu.
Inteligência artificial e o futuro das cooperativas
O segundo dia da Semana de Competitividade 2025 começou com um convite à reflexão profunda: como as cooperativas estão se preparando para o impacto transformador da Inteligência Artificial (IA)? A palestra Como a IA está moldando a nova lógica da competitividade, ministrada por Ricardo Cavallini, especialista em inovação e membro da global faculty da Singularity University, trouxe uma mensagem direta: ou evoluímos, ou ficamos para trás.
Com uma linguagem acessível e exemplos práticos, Cavallini alertou para a urgência do uso estratégico da IA. “Tudo o que a gente faz acabou de ficar medíocre. Porque agora existe um software novo, acessível, que pode deixar tudo mais inteligente, mais econômico, mais atrativo. E se a gente esperar cinco anos para usar, aí sim estaremos muito atrasados”, destacou.
Durante a apresentação, ele reforçou que a revolução tecnológica não está no futuro — ela já está acontecendo. “Tem drone colhendo fruta, robô fazendo distribuição, IA ajudando operadores no campo. Se até a Apple e o Google ficaram para trás, por que uma cooperativa não ficaria se não se atualizar?”, provocou.

A mensagem de Cavallini foi além do impacto tecnológico: ele enfatizou os riscos de aplicar Inteligência Artificial com um viés corporativo que não condiz com os princípios do cooperativismo. “Essas ferramentas foram treinadas com dados gringos, validadas por empresas com lógicas diferentes. A IA que está aí fora, foi feita para um mundo de comando e controle, e não para o modelo colaborativo das cooperativas. Se a gente usar do jeito errado, ela muda quem somos, em vez de nos ajudar a ser melhores”.
Para o especialista, o desafio é usar a IA sem renunciar à essência. “O cooperativismo é o que há de mais moderno em gestão. Vocês representam um modelo que preza por escuta, pertencimento e propósito. Não faz sentido adotar uma tecnologia que apague tudo isso”, declarou.
Cavallini apresentou ainda exemplos inspiradores de pequenas inovações feitas com IA que geraram impactos reais — desde curadoria de vídeos para economizar tempo até sistemas que economizam milhões em operações comerciais. “A grande virada está nas pequenas aplicações. A IA não precisa ser algo gigantesco. Muitas vezes, são soluções simples aplicadas com inteligência que transformam o negócio”.
Ele também desmistificou o uso da IA por pessoas que não são nativas digitais. “Quem tem mais de 30 anos pode achar que está em desvantagem, mas está em vantagem. Porque sabe fazer as perguntas certas e validar as respostas. Isso é o que faz toda a diferença no uso dessas ferramentas.”
A mensagem final de Cavallini foi clara: a IA não é inimiga, é ferramenta. Mas o cooperativismo precisa se apropriar dela de forma crítica, estratégica e consciente. “A dor de vocês é o que vai apontar onde aplicar a IA. Só vocês sabem onde ela pode transformar de verdade”, concluiu.
Fonte: Sistema OCB, com adaptações da MundoCoop