Após dois anos de pandemia, muitos negócios ainda estão recuperando seu lugar no mercado. Mesmo os consolidados, como da Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (Coopercuc), fundada há 18 anos, sentiram o impacto econômico negativo em 2020.
“Tivemos uma queda de cerca de 78% do faturamento das nossas receitas. Isso obrigou a gente a se reposicionar no mercado e buscar novas estratégias para poder sobreviver diante de toda essa dificuldade”, explica Dailson Andrade, gerente geral da cooperativa.
A principal estratégia da Coopercuc é o fortalecimento da agricultura familiar, visto que a cooperativa é fruto da organização popular dos agricultores de Canudos, Uauá e Curaçá, que tinham como objetivo principal valorizar o bioma da caatinga aproveitando suas potencialidades.
São 283 cooperados que dedicam seu tempo, conhecimento e força de trabalho para produção de doces, geleias, polpas e bebidas alcoólicas oriundos de frutas nativas desse bioma, especialmente o umbu e o maracujá da Caatinga. Esses produtos são comercializados em mercados do Brasil e de países europeus, como França e Alemanha, além da loja online.
Apesar das dificuldades e contando com a dedicação de cada cooperado, a Coopercuc conseguiu ampliar seu lugar no mercado privado, abrindo Centros de Distribuição em Brasília, São Paulo e Salvador, ainda em 2020, e adquiriu novos equipamentos para fortalecer sua agroindústria, em 2021. Assim, a cooperativa já recuperou 63% do faturamento. “Esses números são importantes porque mostram que, mesmo na dificuldade, com tudo que foi a pandemia, o cooperativismo se reinventa”, analisa Dailson.
Essa retomada econômica reflete nos índices do cooperativismo a nível estadual. Em 2021, os ingressos – também chamado de faturamento – das cooperativas baianas apresentaram acréscimo de quase 20% em relação a 2020, totalizando R$ 6,4 bilhões. Os dados são do Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado da Bahia (Oceb), órgão que representa as cooperativas do estado perante o poder público e a sociedade civil, e também é sindicato patronal.
De acordo com o presidente do Sistema Oceb, Cergio Tecchio, o cooperativismo na Bahia apresenta constante potencial de expansão. “Nós crescemos em média quase 20% em todos os nossos indicadores econômicos nesse período [de pandemia]. A perspectiva é crescer cada vez mais, pois nosso trabalho dentro do Sescoop/BA e da Oceb para capacitação da governança e da gestão, e dos profissionais que trabalham no cooperativismo, vem crescendo e está começando a dar resultado”, afirma.
O presidente também destaca que dentre os sete ramos estabelecidos dentro do cooperativismo, o Agropecuário, de Crédito e de Saúde se mostram mais resilientes e continuaram crescendo no estado. “Eles se destacaram devido à postura dos dirigentes das cooperativas, dos seus gestores, enfim, dos próprios cooperados que procuraram as cooperativas, principalmente na área de crédito, para realização de negócios. O agropecuário pela sua característica de produção de alimentos, essa atividade não pôde parar e o cooperativismo cresceu junto com seus cooperados, junto com sua comunidade, para gerar alimentos para a população. Saúde também se destacou, pois os cooperados fizeram parte fundamental para superação dos problemas causados pela pandemia”, explica.
Outro indicador financeiro positivo de 2021 foi o de lucro – ou sobras, na linguagem cooperativista. Foram R$ 99,6 milhões, um acréscimo de 24% em relação a 2020. No cooperativismo, essas sobras representam o resultado positivo anual e devem ser distribuídas aos associados/cooperados proporcionais aos serviços utilizados. Ou seja, em uma cooperativa de crédito, por exemplo, quanto mais o cooperado utiliza os produtos ou serviços, como conta corrente, investimentos e operações de crédito, mais ele ganha.
Com a volta da normalidade no pós-pandemia, as expectativas para os índices de 2022 são boas. “Continuamos fazendo nosso trabalho, nossos cursos e eventos, com isso nós vamos ganhando, cada vez mais conhecimento para ter mais competitividade e levar as cooperativas, de uma forma sustentável, para atender a sua comunidade, aos seus cooperados e seus familiares”, pontua Cergio Tecchio.
Lá na Coopercuc, Dailson garante que os planos já estão sendo traçados. “Para 2023 a 2025, o nosso planejamento é ultrapassar a meta de R$ 4 milhões de faturamento ao ano. E, em 2025, também queremos chegar a 500 cooperados e consolidar a Coopercuc com uma cooperativa modelo para agricultura familiar no Brasil”, complementa.
Panorama nacional do cooperativismo
O cooperativismo também cresceu a nível nacional. Em 2021, o ativo total, que é a soma dos recursos que existem dentro das cooperativas ao final de cada ano, alcançou a marca de R$ 784,3 bilhões, um aumento de 20% em relação a 2020. Os ingressos somaram R$ 524 bilhões, 26% maior na comparação. Os dados são do Anuário Coop 2022, divulgado pelo Sistema OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras), órgão máximo de representação do cooperativismo no país.
Os destaques nacionais entre os sete Ramos são Crédito e Saúde, assim como na Bahia, mas também vale ressaltar o Ramo Infraestrutura:
- Crédito: As cooperativas do ramo somaram R$ 518 bilhões em ativos totais. As sobras (lucros) totalizaram mais de 10 bilhões.
- Saúde: As cooperativas do ramo somaram R$ 53 bilhões em ativos, um aumento de 9% em relação a 2020. Os ingressos foram de R$ 89 bilhões, 17% a mais que no ano anterior.
- Infraestrutura: As cooperativas do ramo somaram R$ 6 bilhões em ativos totais, um aumento de 23% em relação a 2020. Os ingressos totalizaram R$ 4 bilhões, 16% a mais que no ano anterior.
Outro ponto positivo que ajudou na retomada econômica do cooperativismo foi a geração de empregos. Enquanto a taxa média de desocupação no Brasil atingia 11,1%, resultando em mais de 12 milhões de pessoas desempregadas, o movimento gerava 493.277 empregos diretos, um aumento de 8% frente a 2020. Com destaque para o Ramo Agropecuário, que criou 16,1 mil empregos, e o Ramo Saúde, com 10,2 mil, somente em 2021.
“É um movimento que traz muitos impactos positivos para vida dos brasileiros. Ele impacta o cooperado, ou seja, o associado da cooperativa, os colaboradores, ou seja, os funcionários que trabalham na cooperativa. Aonde ele está inserido ele traz benefícios para todas as pessoas que estão, de alguma forma, envolvidos nesse movimento de cooperação”, afirma Samara Araújo, gerente de comunicação do Sistema OCB.
Por fim, o cooperativismo injetou mais de R$ 17 bilhões em tributos nos cofres públicos, que são revestidos em melhorias e avanços para toda sociedade. Outros R$ 18 bilhões foram destinados ao pagamento de salários e benefícios, impulsionando o poder de consumo dos colaboradores e de suas famílias.
Para mais informações, acesse somoscooperativismo-ba.coop.br e as redes sociais do Sistema Oceb.
Fonte: Brasil 61
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