O segmento das cooperativas de consumo é um modelo de cooperativismo que tem movimentado cerca de R$ 400 milhões por ano em Minas Gerais, o que representa um crescimento de 32,9% nos últimos cinco anos.
Os dados são da última edição do Anuário do Cooperativismo Brasileiro do Sistema OCB. Apesar do desempenho positivo, algumas instituições do setor têm enfrentado dificuldades para se manter no mercado.
O estudo também aponta que o segmento reúne mais de 236 mil cooperados e gera 1,3 mil empregos diretos no Estado. Dentre as entidades presentes em Minas, três têm se destacado como as maiores do segmento, conforme dados da última edição do Ranking da Associação Brasileira dos Supermercados (Abras).
A pesquisa realizada pela NielsenIQ, em parceria com a Abras, aponta que a Cooperativa de Consumo dos Empregados da Usiminas (Consul) registrou um faturamento bruto de R$ 198,5 milhões ao longo de 2023. Atualmente, a cooperativa conta com oito unidades de supermercado, cinco de drogaria e quatro de ótica.
Os demais destaques mineiros no levantamento são a Cooperativa dos Produtores Rurais de Abaeté e Região (Cooperabaeté) e a Cooperativa de Consumo dos Moradores da Região dos Inconfidentes (Cooperouro), com R$ 66,7 milhões e R$ 55,2 milhões de faturamento, respectivamente.
As cooperativas de consumo se dividem em dois modelos:
- cooperativas fechadas, exclusivas para pessoas ligadas a uma mesma profissão ou organização;
- e as cooperativas abertas, que admitem qualquer pessoa que queira se associar à instituição.
Elas também estão distribuídas por oito segmentos, como os supermercados e os serviços educacionais.
Conforme o Anuário do Cooperativismo Brasileiro 2024, o segmento conta com 221 cooperativas em atuação no Brasil. Juntas, elas reúnem 2,3 milhões de cooperados e são responsáveis pela geração de 16 mil empregos diretos no País, além de possuírem R$ 3,6 bilhões em ativos. Essas organizações também registraram mais de R$ 689 milhões em salários e benefícios para funcionários.
O presidente do Sistema Ocemg, Ronaldo Scucato, destaca que a principal diferença dessas cooperativas para as empresas convencionais está no objetivo de cada organização.
“Uma cooperativa de consumo tem foco em ajudar as pessoas a adquirirem um produto ou serviço de forma mais econômica. Já um supermercado ou farmácia tem foco no lucro e não nas pessoas”, explica.
Ele ainda afirma que essas organizações são, na prática, as precursoras dos chamados “clubes de compras”.
“Nessas organizações, um grupo de pessoas se une para comprar, juntas, algum produto ou serviço. Como elas somam os recursos que têm, acabam ganhando mais poder de negociação e adquirem o que precisam a preços muito mais competitivos”, explica.
O diretor-presidente da Consul, Adilson Suda, aponta outro grande diferencial de uma cooperativa de consumo: o sistema de sobras, que permite a devolução desse crédito ao associado. Conforme a última edição do anuário, as cooperativas deste tipo no Brasil registraram mais de R$ 67 milhões em sobras.
Outro diferencial destacado por ele é a possibilidade de atuar em diferentes áreas. Dentre as organizações presentes no País, a maioria trabalha com serviços educacionais (32%), supermercados (24%) e produtos alimentícios (20%).
Crescimento e desafios para as cooperativas de consumo
Suda destaca que as grandes redes farmacêuticas, por exemplo, têm ampliado as áreas de atuação e o número de lojas para atrair o maior número de consumidores possível. Já os supermercadistas têm buscado, junto ao Congresso, a autorização para comercializar medicamentos que não exigem prescrição médica.
Segundo ele, para manter a competitividade e reter novos cooperados em um cenário como este, as cooperativas de consumo têm dado maior importância na qualidade da gestão e no atendimento ao consumidor, além de apostar em um determinado nicho de mercado. “Além de tudo isso, temos feito parcerias com outras empresas”, completa.
Já o presidente do Sistema Ocemg, Ronaldo Scucato, destaca o grande espaço para o crescimento das cooperativas de consumo no Brasil. Vale ressaltar que das 221 cooperativas deste tipo presentes no País, 33 são mineiras. “Acreditamos que existe muito potencial para crescer nos próximos anos”, projeta.
Veja como está a divisão das cooperativas de consumo no Estado:
- 18,9 % trabalham com o fornecimento de gêneros alimentícios;
- 11,3% com produtos diversos;
- 9,4% com vestuário;
- e 7,5% com a prestação de serviços educacionais.
Esta última é formada por pais de alunos que oferecem aulas de ensino fundamental ou a compra de material escolar.
Na visão de Suda, Minas Gerais tem ficado para trás em relação aos outros estados no que diz respeito ao desenvolvimento do segmento de cooperativas de consumo. Além disso, o dirigente lembra que o Estado tem registrado o fechamento de algumas organizações deste tipo, sem registro de surgimento de novas.
Ele lembra que, há algumas décadas, essas instituições foram criadas com o principal objetivo de oferecer benefícios para empregados de determinadas empresas, o que já não ocorre mais.
“Hoje, nenhuma empresa, seja ela qual for, vai abrir uma cooperativa. A tendência no mercado é diminuir [o volume de cooperativas]”, afirma.
O dirigente avalia que o cenário é de dificuldade não apenas em Minas, mas em grande parte do Brasil, com exceção de São Paulo e dos estados da região Sul.
“Os estados do Sul têm uma forte presença de descendentes de imigrantes europeus, com uma forte cultura do cooperativismo. Por lá, o modelo tem crescido e prosperado, diferentemente do que ocorre em Minas Gerais”, aponta.
Por outro lado, Scucato ressalta que o Estado é uma potência no cooperativismo brasileiro, com grandes exemplos em setores como o de crédito. “Outro indicador da nossa importância na economia local é o fato de o cooperativismo responder, hoje, por 12,6% do PIB mineiro”, completa.
Para exemplificar os desafios que o segmento enfrenta no mercado, o diretor-presidente da Consul ressalta que a cooperativa mineira ocupa o posto de maior do segmento no Estado, com um faturamento de aproximadamente R$ 200 milhões, valor muito abaixo se comparado com o registrado pelas grandes varejistas presentes no mercado mineiro.
Além disso, o rendimento da organização gira em torno de 3%, enquanto a margem de perda, por se tratar de produtos perecíveis, fica em 2%.
“Imagina trabalhar o ano inteiro para obter um resultado de 3%. É muito difícil equilibrar essas duas pontas”, reforça.
Expectativas para o futuro do cooperativismo de consumo
O presidente do Sistema Ocemg projeta que as expectativas para o futuro do cooperativismo de consumo em Minas Gerais e no Brasil são muito promissoras. Esse otimismo, segundo ele, é ainda maior ao considerar o histórico pioneiro e o papel fundamental do setor no fortalecimento da economia local e nacional.
“Vale destacar que a primeira cooperativa de consumo do Brasil nasceu em Minas Gerais há mais de 200 anos. Ela se chamava Cooperativa Econômica dos Funcionários Públicos de Ouro Preto, fundada em 1889, na cidade de mesmo nome”, relata.
Scucato acredita que ações como planejamento, investimento e políticas públicas adequadas podem contribuir para a consolidação de Minas como uma referência nacional no cooperativismo de consumo.
“O Estado tem o potencial de ser um exemplo de como o modelo cooperativista pode contribuir para economias locais, promover a sustentabilidade e oferecer soluções inovadoras para os desafios”, enumera.
Já para Suda, a única maneira de evitar um cenário mais catastrófico e manter as cooperativas do Estado em funcionamento é trabalhar a melhoria da gestão e apostar em inovação e criatividade como em qualquer outro negócio.
“É preciso gerir de maneira bastante realista e segura para que possamos dar passos maiores e crescer organicamente”, conclui.
Fonte: Diário do Comércio