Segundo a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), o cooperativismo nasceu oficialmente em 1844, no interior da Inglaterra, fundado por 28 trabalhadores que, como outros britânicos, foram drasticamente afetados pela Revolução Industrial. A perda dos empregos tornou difícil adquirir o mínimo necessário à sobrevivência e a urgência por uma solução trouxe a ideia de unir esforços para que juntos ganhassem mais poder de barganha nas compras nos mercadinhos locais. Após 12 anos, eram 3.450 integrantes, ou melhor, sócios. Na mesma proporção dos benefícios gerados pela força de um grupo como aquele vêm a complexidade e a responsabilidade de gerir uma organização em que todos são donos e têm poder de decisão.
Está aí um dos maiores diferenciais da Cocamar Cooperativa Agroindustrial, de Maringá (PR), que tem 16 mil cooperados inscritos. “Trabalhar para esse tanto de gente é uma grande missão. É como administrar uma enorme fazenda com cerca de 1 milhão de hectares que tem de apresentar resultados e melhorias”, disse o presidente da organização, Divanir Higino, referindo-se às áreas produtivas dos associados. É por isso que também há muita transparência nessa relação, sobretudo quanto à remuneração dos agricultores. “Os cooperados recebem o preço mais justo do mercado. Fazemos questão de mostrar a eles as planilhas com as cotações das bolsas internacionais.”
Mesmo com uma gestão profissional, moderna e digitalizada, há espaço para o aprimoramento. Quando se tornou concessionária da John Deere, a Cocamar teve de atender ao rígido padrão de controle da montadora e cresceu em digitalização. Com a expansão da conectividade, a assistência aos cooperados ganhou mais precisão, agilidade e comodidade. Além de contarem com 150 agrônomos, os sócios podem utilizar a plataforma da cooperativa para acompanhar mapas climáticos e direcionar o plantio.
Já as máquinas conectadas são monitoradas pela equipe técnica da Cocamar, que pode até fazer ajustes de forma remota sem interromper a operação. A meta é chegar ao ponto de, ainda durante a colheita da soja, já se ter ideia do volume a ser entregue e dos níveis de umidade e impurezas. Melhorias assim potencializam fatores como o modelo de compliance, o patamar de inovação e as auditorias independentes com parâmetros internacionais.
Essa administração segura e colaborativa é a bússola que guiou a Cocamar a um faturamento de R$ 9,63 bilhões em 2021, 37% acima do registrado no ano anterior, apesar de problemas climáticos que levaram a uma quebra de 35% na colheita do milho dos cooperados. Para 2022, os bons resultados devem se repetir. A estimativa de receita é de R$ 11 bilhões, 12,5% a mais que em 2021, a despeito de problemas climáticos que impactaram a produtividade da soja.
Foi preciso mais precaução nos planos de investimento. A ideia era manter o aporte de R$ 1 bilhão entre 2021 e 2025, como nos cinco anos anteriores, priorizando melhorias e infraestrutura. “Mas como o custo total por tonelada de soja processada aumentou de R$ 1 milhão para R$ 2,2 milhões, decidimos segurar um pouco”, afirmou Higino. O tom é de cautela, mas não de interrupção. Muitos dos projetos em andamento não podiam parar. É o caso da usina de biodiesel, que teve investimento de R$ 45 milhões e, em agosto, recebeu todas as liberações necessárias para funcionar.
Com capacidade de produzir 100 mil toneladas de óleo por ano, a unidade abre uma nova frente de negócios para a cooperativa, que hoje esmaga 1 milhão de toneladas de soja por ano. Desse volume, 20% viram óleo de cozinha. Agora será possível direcionar esse processamento conforme a rentabilidade do óleo comestível ou do biodiesel. “Quando os dois estiverem favoráveis, podemos comprar óleo bruto e industrializar. E caso tenha excedente, exportamos”, disse Higino.
Fonte: IstoÉ Dinheiro
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