As causas ocultas do endividamento
Segundo levantamento recente da Serasa, 78% da população adulta do Brasil está inadimplente — um índice 7,6% maior que o apurado em 2024. O endividamento pode ocorrer por diversos fatores socioeconômicos e financeiros ou ainda por questões individuais, como a falta de planejamento e de educação financeira básica — habilidades essenciais para a prosperidade. Mas pouco se fala sobre os fatores comportamentais do endividamento e, principalmente, sobre como o descontrole emocional pode engolir a planilha de gastos no café da manhã.
Nossa vida é formada por ciclos, e cada um desses ciclos exige habilidades específicas para enfrentar os desafios e aprendizados próprios de cada período. O bebê com seus saltos de desenvolvimento, a criança aprendendo a andar, o adolescente buscando aceitação e pertencimento — todos precisam desenvolver competências para avançar e continuar crescendo fortes e saudáveis. Na fase adulta não é diferente: cada transição impacta não só nossas emoções como também nossas finanças, e na maioria das vezes não fomos preparados para gerenciar nem uma coisa nem outra. Aprendemos que demonstrar emoções nos torna vulneráveis e que controlar as finanças exige renúncia às demonstrações de status tão valorizadas em tempos de redes sociais.
Imagine Arthur, 21 anos, que sai da casa dos pais para estudar em outro estado. Ele precisa trabalhar para se manter e pagar contas de água, luz, telefone, internet, alimentação e moradia. Além disso, enfrenta emoções novas, como a distância da família e dos amigos, a exigência da faculdade e a carga horária puxada no trabalho. Mora sozinho, gasta muito com fast food, engordou sete quilos, frequenta barzinhos para socializar e compra roupas melhores para impressionar as pessoas. No fim do mês, o salário não cobre as despesas fixas nem o cartão de crédito estourado. Ele pode até reduzir gastos por algumas semanas, mas a solidão do apartamento acaba sendo mais forte que a fatura do cartão.
Agora pense em Joana, 40 anos, dois filhos pequenos, recém-separada. Um novo ciclo de vida se impõe e ela precisa desenvolver competências para enfrentar essa realidade: fazer novas amizades, gerenciar a relação com o ex, ser suporte para os filhos, reorganizar a vida e as finanças. Era o marido quem provia a casa e pagava as contas. Diante de uma separação litigiosa, muitas vezes ela prefere parcelar o cartão de crédito, pagando juros altíssimos, a enfrentar a crise da separação ou tirar as crianças da escola particular e submetê-las a mais uma mudança dolorosa.
Por fim, veja Antônio, 58 anos, executivo prestes a se aposentar. O filho mais velho não consegue se firmar profissionalmente e mora com esposa e filhos na casa dos pais. Com a aposentadoria, a renda familiar cai, mas o padrão de vida permanece o mesmo. Antônio sente que ainda é sua responsabilidade ajudar o filho, pagar o plano de saúde e a escola dos netos. Isso se converte em vários empréstimos consignados, porque ele prefere empilhar dívidas a reconhecer sua vulnerabilidade financeira e devolver ao filho a responsabilidade por sua própria família.
No fim das contas, o tema vai muito além de dinheiro, planilhas ou programação financeira. É necessário compreender as causas ocultas do endividamento e de que forma emoções, experiências de vida, consumo compulsivo, expectativas sociais e dependência emocional influenciam silenciosamente a nossa relação com o dinheiro. As necessidades emocionais são reais e não podem ser ignoradas; é fundamental encontrar maneiras de atendê-las de forma consciente e equilibrada, sem transformar esse cuidado em prejuízos financeiros.
A solução começa ao reconhecer que cada ciclo de vida exige novas habilidades emocionais e financeiras. Aliar o planejamento financeiro ao controle emocional é essencial para transformar decisões impulsivas em escolhas conscientes. Na prática, antes de criar planilhas, orçamentos e metas, reconheça as emoções que motivam cada gasto e aprenda a suprir essas necessidades com ações que não prejudiquem seu orçamento. Muitas vezes a solução depende de alinhamento com a família ou de enfrentamento daquelas situações difíceis que você tem evitado por medo ou insegurança. Dessa forma, é possível atender às necessidades emocionais sem comprometer a saúde da sua carteira, tornando o dinheiro um aliado da qualidade de vida, e não uma fonte de estresse constante.
Arthur, por exemplo, entendeu sua necessidade de pertencimento e interação social: matriculou-se na academia, reduziu os custos com happy hour, fez novas amizades e passou a comprar marmitas fitness, reduzindo a despesa com alimentação. Joana teve uma conversa difícil com o ex-marido, estabeleceu uma pensão justa e, mesmo mudando os filhos para uma escola mais barata, ensinou-lhes que mudanças podem ser positivas. Antônio conversou com o filho, deixou claro que ele é adulto e deve assumir a responsabilidade pelas próprias escolhas — um passo difícil, mas essencial para uma vida mais leve.
No final, falar de endividamento é falar de gente, de emoções, de escolhas e de ciclos de vida. Ao reconhecer esses fatores e desenvolver competências emocionais junto às financeiras, podemos não só equilibrar a planilha, mas construir uma relação mais saudável e sustentável com o dinheiro.
Na COOPERFORTE, sabemos que cuidar do dinheiro é também cuidar de nós mesmos. Por isso, além de oferecer soluções financeiras com as melhores condições, promovemos iniciativas de educação financeira que ajudam nossos cooperados a reconhecer e transformar padrões emocionais que impactam o bolso.
Nosso compromisso é apoiar você em cada ciclo da vida — com ferramentas que fortalecem sua saúde financeira e com uma rede cooperativa que entende que prosperidade também é equilíbrio emocional.
Por Gisele Almeida, Gerente Geral da COOPERFORTE