COOP É TECH, COOP É POP
Pense por um instante: por que é mais fácil colaborar com certas pessoas do que com outras? O que faz com que a parceria flua melhor com um colega específico, enquanto com outro tudo parece mais travado? Pois bem, no mundo atual, essa reflexão precisa ir além das relações humanas. Uma nova pergunta se impõe: por que é que, em alguns casos, conseguimos colaborar com a Inteligência Artificial de forma mais natural e eficiente, enquanto em outros sentimos resistência ou até desconfiança?
Afinal, a IA já é – e será cada vez mais – uma aliada estratégica para as cooperativas. Mas para que ela realmente assuma esse papel, é preciso que seja compreendida, aceita e integrada às rotinas com confiança. Isso não acontece por acaso: exige uma mudança de mentalidade, investimento em capacitação e, acima de tudo, o cultivo de uma cultura de adoção da IA.
Neste artigo, vamos explorar quais são os elementos fundamentais que determinam o sucesso (ou o fracasso) dessa relação entre humanos e máquinas. E mais do que isso: como sua cooperativa pode se preparar, desde já, para transformar a IA em uma parceira real de colaboração e crescimento.
Os principais elementos surgem do estudo “Investigando a Relação entre IA e Confiança na Colaboração Humano-IA”, de Gert-Jan de Vreede, da University of South Florida, mostra que a confiança é um fator central para determinar se os membros de uma equipe aceitam ou rejeitam sistemas de inteligência artificial durante a colaboração. Sem confiança, mesmo as ferramentas de IA mais avançadas tendem a ser recebidas com hesitação ou resistência.
O estudo destaca, em especial, que a confiança — mesmo nos sistemas de IA mais poderosos — não é automática. Ela é moldada por uma combinação de respostas cognitivas e emocionais que surgem durante a interação em tempo real, e os pesquisadores identificam duas dimensões principais que influenciam nossa confiança na IA durante a colaboração.
A primeira é a percepção cognitiva — ou seja, como avaliamos mentalmente a utilidade e a confiabilidade do sistema. Dois fatores são fundamentais nesse processo: a complexidade da interação — se a IA é difícil de usar, confusa de navegar ou complicada de entender, nossa confiança começa rapidamente a se deteriorar — e o custo de coordenação. Se trabalhar com a IA exige mais esforço do que vale a pena — com ajustes constantes, necessidade de explicações ou supervisão frequente —, é muito menos provável que a vejamos como uma parceira real na colaboração.
Depois, há a percepção emocional — mais difícil de medir, mas igualmente poderosa. Um fator-chave aqui é o conforto: nos sentimos à vontade ao interagir com a IA ou ela nos deixa tensos, inseguros ou julgados? Outro fator é o prazer: a experiência é emocionalmente satisfatória, envolvente, até agradável — ou nos deixa frustrados, desconectados ou indiferentes?
É por isso que, se quisermos construir uma cultura em que as equipes vejam a IA como confiável o suficiente para apoiar a tomada de decisões e a execução de tarefas, precisamos investir no treinamento das pessoas para usá-la de forma eficaz. Quando as equipes compreendem como interagir com a IA, a complexidade percebida diminui, a coordenação se torna mais fluida e a experiência como um todo se torna mais intuitiva — e até prazerosa.
O desafio, no entanto, é que o treinamento formal em IA ainda é surpreendentemente escasso. Com minha equipe, rodamos uma pesquisa com 247 líderes empresarias no mundo, e apenas 38% dos entrevistados afirmaram que sua empresa possui um processo formal de capacitação em IA. Isso evidencia uma lacuna significativa entre o ritmo de adoção da IA e o suporte necessário para desenvolver a confiança e a segurança exigidas para usá-la de forma eficaz.
Mas há mais. O estudo vai além e revela que a forma como a IA é implementada — e o papel que ela desempenha — molda profundamente a maneira como os usuários a percebem e confiam nela. Quando a IA é posicionada como uma facilitadora, atuando silenciosamente em segundo plano, os usuários tendem a avaliá-la com base em fatores cognitivos: Ela é útil? Eficiente? Fácil de coordenar?
Mas quando a IA assume o papel de membro da equipe — se engajando em diálogos semelhantes aos humanos, fazendo sugestões proativas ou se apresentando como um agente autônomo — a avaliação muda. Os usuários passam a se concentrar mais em fatores emocionais: Gosto de trabalhar com ela? Ela me parece acessível? Confiável?
A jornada para integrar a inteligência artificial às rotinas das cooperativas não é apenas tecnológica — é, antes de tudo, humana. Confiança, como vimos, não se impõe: ela se constrói. E essa construção passa por diminuir a complexidade percebida, reduzir o esforço de coordenação e, principalmente, gerar experiências positivas e intuitivas com a IA.
Mais do que escolher ferramentas, se trata de moldar uma cultura. Uma cultura em que a IA não seja vista como ameaça, mas como aliada; não como algo que substitui, mas que potencializa. E isso só é possível com investimento das cooperativas em capacitação, clareza nos papéis que a IA deve assumir e, acima de tudo, sensibilidade para entender que a adoção bem-sucedida da tecnologia começa com as pessoas.
*Por Andrea Iorio, palestrante, escritor best-seller e especialista em Transformação Digital e Inovação

Coluna exclusiva publicada na edição 123 da Revista MundoCoop