A participação do cooperativismo brasileiro na 29ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP29), em Baku, no Azerbaijão, mostrou a importância do segmento para uma economia mais verde e com menos impacto para o planeta. As cooperativas brasileiras participaram de painéis sobre combate às mudanças climáticas no setor agrícola e finanças sustentáveis. Realizado de 11 a 22 de novembro, o evento reuniu representantes de mais de 200 países em uma extensa agenda de negociações sobre ações para limitar o aquecimento global e mitigar seus impactos.
“É parte da estratégia do Sistema OCB participar das Conferências do Clima das Nações Unidas como uma forma de destacar a atuação do cooperativismo como um instrumento de combate às mudanças climáticas”, explica o coordenador de Meio Ambiente do Sistema OCB, Alex Macedo.
No painel “O Papel das Cooperativas no Combate às Mudanças Climáticas”, vinculado ao Centro de Comércio Internacional, organismo associado às Nações Unidas, o Sistema OCB apresentou iniciativas de produção sustentável do setor agrícola, com a participação de duas grandes cooperativas brasileiras, a Cooxupé e a Coopercitrus.
Já o evento “Cooperativismo e Finanças Sustentáveis”, realizado no pavilhão do governo brasileiro na COP29, ressaltou a responsabilidade das cooperativas de crédito no financiamento de iniciativas verdes. A apresentação incluiu cases do Sicredi, Cresol Minas Gerais e Sicoob, além da participação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
“A COP29 é uma oportunidade única para mostrar como as cooperativas brasileiras lideram os quesitos inovação e responsabilidade na agenda da sustentabilidade, além de apoiar metas globais. São inúmeros os exemplos de que é possível desenvolver iniciativas de impacto econômico e social positivo, sem abrir mão de preservar o planeta”, afirma a superintendente do Sistema OCB, Tania Zanella.
Agricultura coop e sustentável
No agronegócio, um dos setores com maior potencial de ações de mitigação de emissões de gases de efeito estufa (que agravam o aquecimento global), o cooperativismo tem sido protagonista em produzir com sustentabilidade. Na COP29, cooperativas brasileiras mostraram que é possível construir uma cadeia tecnológica para emitir menos carbono na atmosfera e, ao mesmo tempo, contribuir para a inclusão de pequenos produtores no mercado.
O presidente do Conselho de Administração da Coopercitrus, Matheus Kfouri, afirma que o cooperativismo tem possibilitado a entrada de agricultores brasileiros nesse novo modelo de produção, por meio de suporte técnico e acesso a tecnologias verdes. “A principal barreira para adoção de tecnologias que terão impacto ambiental positivo é o conhecimento. A cooperativa agrícola consegue demonstrar para o agricultor que as tecnologias vão entregar resultados positivos e os ensina a adotá-las. Em uma empresa privada isso dificilmente acontece”, pondera.
Maior cooperativa de café do mundo, a mineira Cooxupé apresentou no Azerbaijão seu projeto Protocolo Gerações, de sustentabilidade econômica, social e ambiental, e outros programas que dão suporte a pequenos produtores de café. Entre as ações, a cooperativa prepara os agricultores para atender a padrões internacionais de certificação e rastreabilidade do café, garantindo acesso a mercados.
“Apesar de sermos a maior coop do ramo, somos formados por pequenos produtores. O mundo pensa que a gente, por fazer parte do setor cafeeiro brasileiro, é enorme, que todos os nossos produtores são gigantes e não precisam de apoio. Mas ressaltamos que eles são pequenos produtores, dentro dos padrões nacionais, e que precisam sim de apoio, principalmente de reconhecimento para que toda a produção seja sustentável”, afirma a gerente de ESG da Cooxupé, Natalia Carr.
Crédito para transformação
Em outra contribuição do cooperativismo brasileiro para uma economia de baixo carbono, as cooperativas de crédito têm se destacado como agentes financiadores de projetos sustentáveis em várias áreas. Com regras específicas, os recursos viabilizam a geração de energias renováveis, apoio a agricultores familiares, inclusão produtiva de comunidades extrativistas, entre outros.
“O cooperativismo de crédito trabalha com públicos vulneráveis com uma margem que, às vezes, não é tão rentável quanto a de uma grande instituição financeira. O setor está presente nas comunidades e financia projetos voltados à restauração de ecossistemas, à produção agrícola sustentável, ao empreendedorismo feminino e à inclusão de jovens e de mulheres”, ressalta Alex Macedo.
Um exemplo da atuação sustentável do cooperativismo financeiro levado à COP29 é o apoio do Sicredi para a construção de pequenas unidades de energia solar. Desde 2017, mais de R$ 12 bilhões em crédito foram destinados a esse tipo de projeto. “As cooperativas de crédito têm a oportunidade de promover soluções que estejam conectadas com a preservação ambiental. É nosso papel como instituição financeira com foco nas pessoas e nas comunidades”, afirma o diretor executivo de Sustentabilidade, Administração e Finanças do Sicredi, Alexandre Englert Barbosa.
A diretora e superintendente da Cresol MG, Mayara Viana Ribas, que também participou da COP em Baku, afirma que a conferência foi uma grande oportunidade para demonstrar como o cooperativismo pode liderar a transição para uma economia sustentável. “Esperamos que o cooperativismo de crédito saia ainda mais fortalecido e reconhecido pela sua atuação estratégica e presença nos territórios, principalmente nos mais vulneráveis.”
Segundo Ênio Meinen, diretor de Coordenação Sistêmica, Sustentabilidade e Relações Institucionais do Sicoob, a presença do cooperativismo de crédito brasileiro na Conferência reforçou o comprometimento do setor com as agendas globais de sustentabilidade. “Essa representatividade na COP29 também evidencia a contribuição ativa do cooperativismo para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável [ODS], consolidando-o como uma alternativa real e essencial para enfrentar as demandas e desafios do século XXI”, afirma.
Conheça algumas iniciativas de sustentabilidade apresentadas pelas cooperativas brasileiras nos painéis na COP29:
Cooperativa: Coopercitrus
Ação: A Coopercitrus, que conta com mais de 42 mil cooperados, alia tecnologia e práticas sustentáveis, contribuindo para a preservação de florestas nativas, a fim de promover uma agricultura regenerativa e mitigar mudanças climáticas.
Cooperativa: Cooxupé
Ação: A Cooxupé criou o Protocolo Gerações, uma ferramenta de melhoria contínua que conta com auditorias independentes e fornece suporte aos pequenos produtores, tanto no quesito organizacional como para a obtenção de certificados de produção sustentável.
Cooperativa: Cresol
Ação: A Cresol promove a sustentabilidade por meio do crédito a projetos verdes, em especial no setor de bioeconomia e agricultura familiar. Além disso, internamente, a cooperativa trabalha a diversidade como valor fundamental e promove a inclusão de mulheres em cargos de liderança.
Cooperativa: Sicredi
Ação: O Sicredi possui iniciativas de financiamento de energia renovável e agricultura sustentável. A cooperativa também apoia o empreendedorismo feminino por meio do programa Donas do Negócio.
Cooperativa: Sicoob
Ação: A parceria entre o Sicoob Credisul e indígenas Mamaindê, de Rondônia, fomenta negócios que geram renda e autonomia para a comunidade, também promove capacitação para que possam autogerir o seu negócio.
Os exemplos de alinhamento do cooperativismo brasileiro à agenda climática apresentados na COP29 são apenas uma parte das milhares de iniciativas desenvolvidas em todos os ramos de atuação do coop no Brasil. Para dar visibilidade a esses projetos e inspirar outras cooperativas, o Sistema OCB criou o site Cooperação Ambiental, que reúne cases e reportagens especiais sobre a atuação sustentável do segmento cooperativista.
Rumo à COP30 no Brasil
Para o coordenador de Meio Ambiente do Sistema OCB, Alex Macedo, a presença na COP29 também mostrou a importância de estimular a implementação de práticas ESG (ambientais, sociais e de governança) nas cooperativas. “O mundo passa por um processo de mudanças climáticas sério, que já acomete várias comunidades. Como cooperativistas, temos a oportunidade de mitigar impactos e conscientizar as pessoas a fazerem sua parte”, pondera.
De acordo com Macedo, a presença do cooperativismo em eventos internacionais aumenta a visibilidade do setor e gera novas oportunidades de negócios. “Um resultado prático dessa participação é o aumento do conhecimento sobre o cooperativismo por atores de organismos vinculados às Nações Unidas, centros de comércio, Banco Mundial. Isso tem reverberado do ponto de vista de negócios, de acesso a recursos financeiros internacionais”, explica.
Em 2025, a Conferência do Clima será realizada em Belém, capital do Pará, e o cooperativismo já se prepara para ter uma participação expressiva. “A COP 30 no Brasil, juntamente com o Ano Internacional das Cooperativas, será um momento muito rico para gerarmos mais conhecimento sobre os benefícios à sociedade que o nosso modelo promove”, ressalta Alexandre Englert Barbosa, do Sicredi.
Fonte: Sistema OCB/ES