O desenvolvimento do Open Finance (ou Sistema Financeiro Aberto) no Brasil tem proporcionado uma série de oportunidades e inovações no nosso mercado, promovendo a concorrência e ampliando o acesso da população a serviços financeiros. Esse movimento, que permitiu a entrada de fintechs e a criação de superapps – dentro de um grupo que, até então, tinha poucos players –, também acelerou a digitalização dessa indústria, de modo que hoje a grande maioria dos serviços financeiros é realizado por sites ou aplicativos de celular.
No entanto, temos notado que algumas instituições não conseguem acompanhar, com a celeridade necessária, as inovações e a transformação digital que permeiam o mercado. Muitas delas, inclusive, ainda atendem seus clientes no balcão, com um cafezinho e formulários de papel. O contato pessoal e personalizado é certamente um diferencial quando falamos em experiência do consumidor, mas se esta for a única opção para seus clientes, temos aí um importante alerta e uma enorme defasagem em comparação com o panorama atual.
Temos visto muito essa situação com as cooperativas de crédito e, aqui, recorro aqui ao ditado popular: elas estão com a faca e o queijo na mão. Uma vez que o Open Finance e as regulamentações do Banco Central as transformaram em instituições de pagamento, elas ganharam um potencial enorme para concorrerem frente a frente com as fintechs – o que ainda falta é absorverem a digitalização e utilizá-la como uma alavanca para impulsionar serviços já prestados há anos e dos quais tem total expertise.
Só para se ter uma ideia, esse segmento está em constante crescimento no Brasil e vemos aqui uma enorme oportunidade de digitalização, de levar as cooperativas de crédito ao mesmo nível tecnológico de uma fintech ou um banco digital – principalmente quando falamos das grandes instituições, que possuem milhões de cooperados. De acordo com o Panorama do Sistema Nacional de Crédito Cooperativo (SNCC), do Banco Central, o número total de associados no Brasil atingiu 17,3 milhões em dezembro de 2023, o que representa 7,2% da população nacional associada a pelo menos uma cooperativa de crédito – um aumento de 11,2% em relação ao mesmo período do ano anterior.
O mesmo estudo mostra o aumento de sua representatividade no Sistema Financeiro Nacional e o impressionante montante dos ativos que o SNCC movimenta, atingindo R$ 730,9 bilhões em dezembro de 2023, com taxa de crescimento superior ao do próprio SFN (23,9% ao ano no SNCC e 10,5% no restante do SFN). Essa evolução foi possível por conta da necessidade de alternativas de crédito mais acessíveis e menos burocráticas e, para manter esse crescimento de forma sustentável, a digitalização torna-se um movimento crucial para o sucesso e crescimento das cooperativas de crédito.
A digitalização oferece oportunidades de crescimento e inúmeros benefícios, incluindo a capacitação dos profissionais, que podem ser realocados para atividades mais estratégicas ou concentrarem-se em posições mais consultivas; a mobilidade e acessibilidade de seus serviços; e a segurança dos dados de seus clientes. Como estão inseridas dentro do SFN e debaixo do guarda-chuva do Banco Central, as cooperativas devem cumprir as demandas do mercado financeiro, que exige sistemas robustos e eficazes nesse quesito.
Quando uma cooperativa de crédito passa a usar tecnologias para automatizar seus processos, ela reduz drasticamente os erros e retrabalhos da equipe, além de diminuir os custos da operação. A eliminação de processos manuais e a otimização da eficiência dos sistemas resultam em um aumento nas chances de ampliar a sua rentabilidade. Com menos gastos em tempo e recursos, a instituição pode oferecer melhores taxas e serviços para seus associados, aumentando exponencialmente sua base de cooperados.
Como disse, a faca e o queijo: as cooperativas já têm toda a estrutura, todo o regulatório e toda a base de clientes para entrar no mundo digital. Seu desafio atual é encontrar parceiros que as ajudem a acompanhar as mudanças no comportamento dos consumidores e oferecer soluções financeiras ágeis e transparentes, que atendam às necessidades e expectativas do novo panorama de mercado. Além do onboarding e da carteira digital, imagine quanto um aplicativo para celulares poderia ajudar no atendimento de seus clientes e ampliar a oferta de produtos. Enquanto as operações mais simples podem ser realizadas em ambientes virtuais, sobraria mais tempo para tomar um café com o cliente e resolver as questões mais complicadas.
*Wagner Martin é VP de Relações Institucionais da Veritran no Brasil