Na semana passada, participei de uma palestra com o Marcelo Gleiser. Físico, astrônomo, professor, escritor, pesquisador, mas acima de tudo uma pessoa inspiradora de reflexões.
Falou de um tema que me instiga muito. O tempo. A passagem do tempo. Tempo de oportunidades, de desafios, com suas cicatrizes, memórias e esperanças. Algo que queremos controlar. Não conseguimos, ficamos ansiosos.
Falou da imensidão do universo e nossa insignificância cósmica. De como a tecnologia é algo inseparável do que somos. O celular é uma extensão do corpo. Nossa escolha de Apps nos define e criamos cada vez mais vínculos de dependência. E a tecnologia? Cuidado com o que se pede à ciência fazer. Ela é meio e está a serviço de instrumentalizar nossos interesses.
A vida é uma sequência de escolhas e novos caminhos se abrem. As escolhas repercutem e nos moldam. E nessas escolhas podemos ser passivos, vítimas do tempo; ou podemos ser protagonistas das nossas próprias histórias. Podemos moldar nossa vida para ter significado.
Devemos ser um dos únicos animais que têm consciência do ciclo da vida. Dádiva ou maldição? Depende de nossa missão.
Falou sobre os custos do crescimento econômico. Sobre a construção de uma sociedade baseada na extração. Falou da importância de viver o nosso planeta. Do nosso papel único de promover, pelas nossas escolhas, a diversidade, de deixar um mundo melhor para quem fica.
Somos também os únicos animais contadores de histórias. Precisamos, cada um de nós, descobrir os gatilhos que nos levem a ter uma atitude ativa na construção de um mundo melhor. A agir diferente e definir nossas intenções.
Precisamos repensar o estar vivo. Nos reconectarmos com a natureza e sua biodiversidade. E não é à toa que, quanto mais velho ficamos, mais falamos que o tempo está passando rápido.
Finalizo com a passagem do livro “Arroz de Palma”, de Francisco Azevedo, que me trouxe reflexões sobre o tempo.
Ter 88 anos me dá o direito de viver o hoje como se fosse primeira folha de caderno novo e bem encapado. Caneta-tinteiro cheia. Azul real lavável. O cabeçalho no alto, com o nome da escola, a letra caprichada. A determinação de mantê-la assim, redonda, caligráfica, os tês bem cortados, até a última linha da última página. Determinação nunca levada a cabo. Vida é professora que dita rápido. Não espera. Pode sacudir o braço já adormecido, pode pedir para ir mais devagar. Ela não ouve, não está nem aí. Ela imprime o ritmo. Acompanhe quem puder. Por isso, nossos humanos e infantis garranchos aparecem cedo. Dou de ombros. Tenho 88 anos. Amanhã, abrirei outro caderno. Será que nas escolas ainda usam cabeçalho antes de cada lição e do dever de casa?
E você, está fazendo seu dever de casa?
Por César Gioda Bochi, Diretor Presidente do Banco Cooperativo Sicredi e Confederação Sicredi