Em abril de 2024, foram divulgados os resultados de uma pesquisa sobre percepção do cooperativismo no Brasil, encomendada pela OCB – Organização das Cooperativas Brasileiras e disponível na internet. Os dados mostram um crescimento significativo do conhecimento (awareness) do cooperativismo: em 2018, apenas 44% dos entrevistados diziam conhecer o cooperativismo e, em 2023, esse número subiu para 77%, destacando-se o Sicoob, em primeiro lugar, seguido pelo Sicredi, entre as marcas mais citadas, numa amostra robusta e representativa de todas as regiões do país.
Esses resultados vêm demonstrar que as cooperativas e suas marcas têm um potencial enorme de atração e expansão diante de uma crise profunda dos modelos de negócio das organizações, incluindo aí até as modernas big techs, que demonstram cada vez mais limitação para interagir e dialogar de fato com os anseios e demandas do nosso tempo.
A despeito do turbilhão de informações e dados que circulam na internet e nas redes, nota-se um certo vazio ou ausência de sentido que vem se instalando no circuito e que decorre, em boa medida, dessa enorme incapacidade de diálogo e interlocução das organizações estabelecidas com o público. Nesse vácuo, aparecem movimentos como cultura de propósito, creator economy, brand influencers e outros, todos buscando requalificar ou preencher a produção de conteúdos e significados no ambiente digital e na vida em geral.
Estava mais do que na hora do cooperativismo se oferecer como alternativa de significado e conteúdo. O professor Yochai Benkler, da Harvard Law School, diz tratar-se de uma necessidade incontornável: tendo em vista as diversas oportunidades colocadas pelo atual ambiente tecnológico e cultural, as cooperativas podem e devem jogar um papel mais ativo e transformador nesse momento do que elas teriam feito ao longo de sua história ( The Realism of Cooperativism, incluído em Our to Hack and to Own, edited by Trebor Scholz e Nathan Schneider).
Por muito tempo, as cooperativas falavam pouco de si e, quando o faziam, era um discurso mais voltado para a própria comunidade cooperativista. Agora é hora de encarar o ato de comunicar como uma forma de cooperar, de repartir oportunidades, de compartilhar caminhos e possibilidades.
Há sinais evidentes de mudanças e algumas cooperativas começam a se apresentar não só como um modelo diferenciado de associação democrática e participativa, com capacidade comprovada produzir bens, prestar serviços e facilitar trocas, realizando objetivos coletivos, mas também como provedoras de uma comunicação mais propositiva e um diálogo mais aberto com públicos, segmentos, atividades e territórios variados.
Assim, essa pesquisa recente aqui citada reflete um processo de mudança que está em curso e tende a expandir. A própria OCB – Organização das Cooperativas Brasileiras lançou e atualizou a campanha SomosCoop, destacando bons exemplos de cooperativas que ajudam a desenvolver a vida de pessoas e comunidades em diferentes lugares e situações. Com certeza, é uma campanha que merece mais divulgação, mas estimulou e segue estimulando que o cooperativismo ocupe mais a cena e o debate contemporâneos.
A coisa vai só crescendo e, mais recentemente, o Sicoob colocou em andamento, a partir de 2023, uma verdadeira plataforma articulada de comunicação que projeta o cooperativismo e a marca da cooperativa num novo patamar com presença simultânea em grandes arenas de repercussão nacional: os campos de futebol (participação no Campeonato Brasileiro); os palcos dos grandes shows (com o patrocínio de artistas); e os espaços de maior audiência da TV, a teledramaturgia (com entrada em novelas e seus intervalos). Tudo com enorme impacto e boa recepção entre telespectadores, nas redes sociais e em diversos fóruns e veículos temáticos, por configurar um esforço articulado e pertinente de divulgação do cooperativismo, alcançando mais de 150 milhões de pessoas.
Também o Sicredi tem ampliado a sua presença e desempenhado papel importante na propagação do cooperativismo e de seus vantagens para a parceria econômica e financeira, com presença tanto nos canais de rádio e TV como nos espaços virtuais, por meio de campanhas reunindo diversos personalidades da música e das artes.
Outras cooperativas, entidades cooperadas e veículos do meio, em âmbito nacional, regional ou mesmo local, passaram a falar mais do cooperativismo e dar uma contribuição positiva no debate atual sobre o rumo das organizações e da vida das pessoas nesse mundo em transformação.
Todo esse avanço fortalece a convicção de que as cooperativas têm potencial para viabilizar arranjos que sejam soluções para as demandas coletivas que não encontram eco em outros modelos de negócio. E, num círculo virtuoso, isso confere mais impulso à próprias cooperativas para seguir produzindo mais comunicação e conteúdo.
De maneira dinâmica, vai crescendo esse movimento de produção de sentido e geração de valor. E tudo indica que as cooperativas, indo além do conhecimento, serão cada vez mais consideradas, incorporadas, recomendadas e – por que não – “principalizadas” nas escolhas das pessoas e das comunidades como parceiras e interlocutoras. Em outras palavras, quanto mais as pessoas e grupos conhecem o cooperativismo, mais consideram e escolhem o caminho do diálogo, da cooperação e da boa convivência.
*Levi Carneiro é Brand Advisor da Loggia