A adoção da I.A melhora todos os processos produtivos, facilita a vida das organizações, atrai novos cooperados e clientes
A inteligência artificial chegou para ficar, e será a tendência para os próximos anos nas cooperativas do mundo inteiro.
Ela seguirá presente em todas as suas ações, que vão desde o momento da contratação dos colaboradores até as melhorias em seus processos produtivos.
Fabíola Nader Motta, gerente-geral do Sistema OCB, lembra que a tendência global aponta para uma rápida adoção da inteligência artificial, e as cooperativas precisam estar atentas a essa evolução para permanecerem competitivas.
“O compromisso com a inovação e a eficiência não só fortalece o modelo de negócios, mas também garante uma gestão mais sustentável e integrada, alinhada com as diretrizes de ESG que definimos para o nosso setor”, diz Fabíola.
As pesquisas indicam que essa tecnologia potencializa a eficiência e ajuda na fidelização dos clientes, entre outras vantagens.
Segundo o Gartner, empresas que implementam a IA em suas operações percebem um aumento de até 25% em suas operações e uma melhoria significativa na satisfação do cliente.
Fora disso, seu uso permite que a organização automatize processos repetitivos, liberando os colaboradores para se dedicarem a atividades mais relevantes, gerando os benefícios da automação inteligente.
De acordo com o primeiro Barômetro Global de Empregos em IA de 2024 da PwC, setores de trabalhos mais expostos à Inteligência Artificial registraram um crescimento de 4,8 vezes na produtividade.
Além disso, em alguns mercados, empregos que exigem competências especializadas em IA oferecem salário até 25% maior.
O relatório analisou mais de meio bilhão de anúncios de emprego de 15 países da Europa, América do Norte, Ásia e Oceania, e sugeriu que essa tecnologia permite que as nações superem um persistente quadro de baixo crescimento na produtividade, gerando desenvolvimento econômico, salários mais elevados e melhores padrões de vida.
Camila Cinquetti, sócia líder da área de Workforce da PwC Brasil lembra que garantir uma abordagem de recrutamento, que coloque as competências em primeiro lugar, bem como o investimento contínuo na melhoria das competências da força de trabalho, é essencial, uma vez que nenhuma indústria ou mercado passará ileso ao impacto da transformação da IA.
Os projetos que usam o IA melhoram vários aspectos do negócio, desde os seus monitoramentos até a diminuição do tempo em suas fases de execução. A inovação oferece mais do que ganhos de eficiência, mas formas de criar valor ao serviço e produto.
“Em nosso trabalho com os clientes, vemos empresas usando IA para ampliar o valor que seus funcionários podem oferecer. Neste momento, existe uma demanda de mercado por profissionais como desenvolvedores de software, médicos e cientistas de dados para atender a áreas”, explica Denise Pinheiro, sócia da PwC Brasil especialista em Transformação Digital.
Cooperativas internacionais firmam parcerias
Nas cooperativas internacionais, a inteligência artificial tem se tornado objetos de parcerias com empresas, centros de pesquisas e multinacionais.
Um exemplo disso, é a cooperativa financeira canadense da América do Norte, Desjardins, que firmou uma parceria com o centro de pesquisas Mila para estudar os assuntos relacionados à inteligência artificial.
Outras, como a cooperativa agropecuária americana Land O´ Lakes fechou um acordo com a Microsoft para se tornar pioneira em inovações no campo e aprimorar a sua cadeia de suprimentos de maneira sustentável. Como o auxílio da tecnologia e do machine learning, a organização pretende otimizar os testes e a coleta de dados para encontrar as formas mais eficientes de produção.
A Federação Nacional de Cooperativas Agrícolas do Japão Zen-noh tem empregado a inteligência artificial para dar conta da falta de mão de obra na produção de arroz. Ela desenvolveu, em parceria com a multinacional BASE, uma tecnologia que auxilia na gestão do tempo.
Já a cooperativa neozelandesa Fonterra e a agritech holandesa Connecterra se uniram no uso de uma assistente movida a IA. Sua função é coletar dados e elaborar recomendações personalizadas a cada produtor.
Nas cooperativas brasileiras a situação não é diferente, elas têm descoberto nessa ferramenta um apoio para a inovação, automatização de processos, análise de dados e a melhoria na tomada de decisões.
Um apoio à inteligência artificial foi que no 15º Congresso Brasileiro do Cooperativismo foram estabelecidas as diretrizes claras para orientar as organizações nesse caminho.
“Observamos o quanto nossos dirigentes entendem a importância de expandir o uso de novas tecnologias e inovação, como a inteligência artificial, para gerar automações, ganhos de eficiência e impulsionar o crescimento das cooperativas. Além disso, nas diretrizes gerais de ESG, destacamos a necessidade de ampliar esse uso nos processos de gestão, inclusive de forma intercooperativa”, exemplifica Fabíola.
Usabilidade no dia a dia
Alguns exemplos do uso da inovação pelas cooperativas é o Projeto Áreas Agricultáveis, que usa satélites, com o auxílio da inteligência artificial, o chatbot IRIS na identificação de terrenos com potencial produtivo da Integrada Cooperativa Agroindustrial.
A cooperativa começou a integrar a IA em seus programas e projetos em 2020, com a primeira versão da IRIS.
Desde então, segue expandido continuamente suas capacidades, integrando novas tecnologias e funcionalidades para atender às necessidades de seus cooperados.
As iniciativas têm gerado resultados significativos no engajamento e satisfação, com os registros de mais de 1000 conversas mensais.
Emerson Zanotti, gerente de tecnologia da informação da Integrada Cooperativa Agroindustrial, conta que além da modernização da IRIS, implementaram a OCI Vision para reconhecimento de imagens de cães e gatos, permitindo aos cooperados receberem recomendações personalizadas de alimentos para seus animais e o OCI Functions para geolocalização, que ajuda a indicar o distribuidor mais próximo.
Um dos projetos recebeu o Prêmio de Inovação da Oracle Cloud pela América Latina no ano passado.
Nele o chatbot IRIS-Integrada, em funcionamento desde fevereiro de 2023, interagia com os cooperados e os consumidores, quando acessado via site ou WhatsApp.
O cliente envia uma foto do seu pet e a IRIS indica o alimento mais apropriado para o gato ou o cachorro, por meio do uso de um modelo customizado de inteligência artificial no OCI Vision.
Se o consumidor desejar comprar o produto, a IRIS calcula a quantidade recomendada, fornece informações nutricionais, os valores e indica os distribuidores mais próximos.
Os resultados foram de um aumento de mais de 700% de engajamento do público já nos primeiros meses de seu uso.
O projeto mais recente da organização está sendo realizado em parceria com a Embrapa. Nele a IRIS foi treinada para responder 500 perguntas sobre soja.
“O objetivo é disseminar conhecimento técnico e operacional aos nossos cooperados sobre o alimento. Também estamos explorando novas integrações com IA generativa para melhorar ainda mais a capacidade de resposta da IRIS e dar uma ferramenta poderosa para nossos atendentes”, conta Zanotti.
A Integrada tem notado que a implementação de IA tem proporcionado uma melhoria em sua eficiência operacional, desde a qualidade do atendimento, capacidade de resolução de problemas, satisfação do cliente até nas interações com os cooperados.
“A adoção da tecnologia é essencial para o futuro do cooperativismo e da agricultura. Ela nos permite ser mais eficientes, oferecer um melhor serviço aos nossos cooperados e tomar decisões mais informadas”, finaliza Emerson.
Impacto na produção
A Cooperativa Agropecuária Coopavel, que tem uma produção voltada para grãos e carnes, chegando a abater diariamente 250 mil frangos, resolveu usar a inteligência artificial na tarefa.
Um dos desafios do processo é a sangria dos animais, que precisa seguir exigências sanitárias. Se os requisitos não forem obedecidos, a organização pode receber multas e autuações do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA).
Após muitas discussões, e a criação de um departamento de inovação em 2021, a cooperativa decidiu testar uma solução de IA para fazer o processamento de imagens e fiscalizar a sangria dos frangos em 2022.
A implementação da inovação, que custou R$25 mil, consiste no uso de uma câmera, um hardware de processamento e um sistema de sinalização. A inovação usa técnicas de machine learning.
Caso ocorra algum problema com a sangria do frango, um alerta luminoso comunica o colaborador para a necessidade de se refazer o processamento corretamente.
Para que a tecnologia desse certo foi necessário vencer alguns desafios, como o de fazer o aprimoramento contínuo do equipamento, verificar as regulagens, altura na identificação das variações de tamanho, de peso dos animais de cada lote e na limpeza das lentes das câmeras.
Os resultados foram percebidos nos primeiros meses, tanto no cumprimento mais efetivo da legislação, quanto nos retornos financeiros.
A organização registrou uma queda no percentual de frangos com sangria inadequada de 0,07% em 2021 para 0,046% no ano seguinte. Fora isso, a inspeção automatizada trouxe um aspecto mais ético ao processo de abate.
Dilvo Grolli, Administrador de empresas, Presidente da Coopavel Cooperativa Agroindustrial diz que tem observado no uso da IA uma maior agilidade, confiabilidade na execução e uma melhor entrega final.
“Observamos maior assertividade nas análises realizadas, o que nos dá mais tranquilidade quanto ao cumprimento das exigências do mercado. A Inteligência Artificial é uma ferramenta preciosa. Já fazemos uso dela há muitos anos sem nem mesmo percebermos. Ela reserva um futuro no qual poderemos cuidar daquilo que é realmente importante. Atividades rotineiras serão realizadas pela união entre a IA e a automação”, lembra Grolli.
Mais segurança e praticidade
Um dos maiores problemas dos hospitais é monitorar os pacientes, em especial para que não adquiram, entre outras coisas, as infecções hospitalares e a sepse.
Para melhorar os atendimentos e o acompanhamento dos internados, em julho de 2019, a assessoria de inteligência em saúde do Hospital UnimedGrande Florianópolis viu na criação do Robô Laura uma das soluções. Ele inclusive foi usado em 2020, durante a pandemia de Covid-19.
A Unimed tem planos de envolver o projeto em ações de Medicina Preventiva e de Atenção Integral à Saúde para ampliar ainda mais a atuação da plataforma de inteligência artificial.
Atualmente, o objetivo de Laura é monitorar os pacientes e alertar os colaboradores de qualquer risco que este corra, suprido a falta de profissionais nos estabelecimentos de saúde.
O robô fica responsável, em especial, por cuidar dos sinais vitais, entre outros pontos, com a finalidade de evitar problemas maiores.
A ferramenta integra a base de dados dos prontuários médicos com a plataforma de inteligência artificial para processamento das informações. A ideia é fazer um mapeamento exato dos pacientes com o maior risco de sepse e infecções.
Em campo, o Robô Laura, se torna uma enfermeira adicional, que faz dois tipos de alerta, de acordo com a gravidade do caso monitorado, além de ajudar na organização do fluxo de processos.
Para implantar e fazer o projeto funcionar, a cooperativa precisou investir na capacitação da equipe da saúde do hospital, ajustou rotinas profissionais, entre elas anotações em prontuários eletrônicos durante o dia do paciente.
Em três meses de seu funcionamento, o robô monitorou 605 pacientes, gerou 5.640 alertas, aumentou em 30% a quantidade de alertas atendidos em até uma hora, em 55% os atendidos em até três horas. Com isso, a proporção de atendimentos realizados a partir de pelo menos um alerta é de 51%.
Outro programa da cooperativa em inteligência artificial é o que usa a inovação para reduzir as fraudes nos reembolsos de saúde.
Um dos maiores problemas enfrentados pela organização eram as fraudes cometidas com o uso de documentos falsos.
Para isso, a Unimed Nacional resolveu se unir à Neurotech, que oferece uma tecnologia de análises de imagens digitais por IA e implementou um programa antifraudes em abril de 2023.
Um dos desafios foi treinar o algoritmo para lidar com a diversidade de documentos e a IA reconhecer a diferença entre as letras dos médicos.
O cliente envia uma foto ou arquivo em PDF do recibo do reembolso para a cooperativa, a IA recebe a imagem e os algoritmos criando uma espécie de DNA, excluindo a possibilidade de novo uso do documento. Caso a IA identifique adulteração ou reuso, ela cria um mapa de calor indicando o percentual de probabilidade de fraude.
O programa já analisou inúmeros recibos de reembolso, e evitou pelo menos o gasto de quase R$9 milhões.
Alguns desafios ainda são enfrentados no projeto, um deles é melhorar a assertividade da análise. Apenas os reembolsos que apontam entre 95% a 100% de chance de fraude pela IA são negados.
Para complementar a proposta estão sendo implementadas o reconhecimento facial do cliente com o objetivo de confirmar a identidade dos beneficiários e a autenticação por QR Code.
Por Priscila de Paula – Redação MundoCoop
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