Com uma taxa de crescimento anual de 20% nos últimos dez anos, as cooperativas de crédito veem espaço para manter o ritmo em 2024 e 2025, independentemente dos indicadores macroeconômicos. Na contramão dos bancos tradicionais, que vêm fechando pontos de atendimento, as cooperativas abriram 1.010 agências desde 2020 e já somam mais de nove mil unidades no país, cobrindo 55% do território nacional. Em mais de 330 cidades, são as únicas instituições financeiras instaladas.
Para especialistas, ainda há muito a se explorar nesse modelo de negócio, cujo público é composto preferencialmente por micro, pequenos e médios empreendedores, produtores agropecuários e pessoas físicas de localidades distantes.
“Se fizer um sobrevoo no sistema de crédito nacional para ver a atuação do conjunto (das instituições financeiras), daria para ver lacunas (de atendimento), como no crédito a pequenos produtores rurais. É difícil fazer análise digital (nesses casos). Precisa ver a propriedade e verificar o que precisam localmente”, diz Marco Aurélio Almada, diretor-presidente do Sicoob.
Com mais de oito milhões de cooperados, o Sicoob está presente em todos os estados e no Distrito Federal e oferece, além de crédito, todos os serviços financeiros de um banco, com 4.600 pontos de atendimento.
Financiamento facilitado
Almada destaca ainda a dificuldade de financiamento para micro, pequenas e médias empresas que nem sempre cumprem os requisitos impostos pelos bancos para a concessão de crédito.
“A cooperativa, por estar no território, consegue enxergar as lacunas de maneira mais orgânica”, explica.
Ele lembra que, apesar de representar somente 7% do total das transações de crédito do país, o cooperativismo concentra 20% da carteira de micro e pequenas empresas e 22% das carteiras de agronegócio e pessoas físicas (desconsiderando o financiamento habitacional e o consignado).
A carteira de crédito da instituição cresceu 23% no ano passado, para R$ 169 bilhões, sem levar em conta a Cédula de Produtor Rural (CPR, título que representa uma promessa de entrega futura de um produto agropecuário). O total de ativos atingiu R$ 298,4 bilhões, o que representa um avanço de 25% sobre 2022.
O Sicoob é uma das quatro cooperativas de crédito, entre mais de 830 do país, que se destacam pelo tamanho das atividades. As outras são Sicredi, Cresol e Unicred.
“Na pandemia, enquanto o sistema financeiro cresceu 5%, o cooperativismo avançou entre 35% e 40% na concessão de crédito. É na hora em que o cooperado mais precisa que estamos ali presentes”, diz Adriano Michelon, vice-presidente da Cresol. “São esses fatores que fazem com que a gente cresça acima da média do sistema há mais de dez anos. A essência é a proximidade e a sensibilidade, com a necessidade de ter alguém para conversar”, conclui.
Também com cerca de oito milhões de associados e um crescimento de 23,2% no total de ativos em 2023 — para R$ 324,5 bilhões —, o Sicredi avalia que uma das forças de seu negócio é o relacionamento.
“A outra é a proximidade com os donos, que são os associados. Buscamos o que é melhor para o associado, o que faz sentido para ele e para a cooperativa”, diz Alexandre Englert Barbosa, diretor-executivo de Sustentabilidade, Administração e Finanças. “Vamos além dos serviços financeiros. Geramos renda, educação financeira, e trabalhamos na formação nas escolas”.
Desenvolvimento de cidades
Segunda maior instituição financeira na concessão de crédito rural, atrás apenas do Banco do Brasil, o Sicredi registrou uma expansão de 23% nos empréstimos concedidos de janeiro a abril de 2024, na comparação com o mesmo período de 2023, batendo R$ 222 bilhões.
O crescimento dessas instituições se reflete nas comunidades onde estão inseridas, de acordo com uma pesquisa da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), da Universidade de São Paulo (USP). O estudo apontou que a presença das cooperativas em municípios menores impulsiona o desenvolvimento do PIB per capita local em 5,6%, e o empreendedorismo em 15,7%. O levantamento foi feito em 2019 e comparou dados de 1.642 municípios que tiveram ou não abertura de cooperativas em 15 anos.
“Outra variável foi o emprego formal, cujo índice por habitante nos municípios com novas cooperativas de crédito aumentou 6,2%, no período analisado”, diz Alison Pablo de Oliveira, economista e pesquisador da Fipe e responsável pela pesquisa.
Segundo ele, o estudo “Benefícios Econômicos do Cooperativismo de Crédito na Economia Brasileira” deve ganhar uma nova versão nos próximos meses: A atualização vai mostrar o salto que o cooperativismo de crédito deu de 2019 para cá. No período, aumentou cinco vezes.
Fonte: Pequenas Empresas & Grandes Negócios
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