O cooperativismo do Espírito Santo tem se destacado por seus altos índices econômicos e promete ir mais longe. Projeções indicam que o movimento deve passar dos R$18,8 bilhões, alcançando a marca de 942,9 mil cooperados e de quase 12 mil empregados até o ano de 2027.
Segundo o Anuário do Cooperativismo Capixaba, a movimentação econômica chegou a R$11,5 bilhões, o equivalente a 6,4% do PIB nominal. Além disso, R$589 milhões foram recolhidos pelas cooperativas com o pagamento de impostos e taxas. O estado conta com 115 cooperativas registradas no Sistema OCB/ES, que colaboram com o desenvolvimento por meio de negócios, aliando a competitividade à sustentabilidade, oferecendo produtos e serviços de boa qualidade e em condições vantajosas para a população.
Essas cooperativas empregam diretamente, 11,5 mil pessoas, que ajudam a oferecer todo o suporte aos 747 mil cooperados vinculados ao modelo de negócio. A taxa elevada de empregabilidade, o volume de cooperados e o fato de que as cooperativas atuam em ramos e segmentos variados contribuem para movimentar e reter as riquezas geradas no estado. Elas estão presentes em diversos municípios, favorecendo o acesso às cooperativas e estimulando um desenvolvimento mais homogêneo entre as diversas regiões do território capixaba.
Pedro Scarpi Melhorim, presidente do Sistema OCB/ES lembra que os indicadores revelam o protagonismo e a relevância do modelo de negócio para o desenvolvimento econômico e social do estado. “As cooperativas têm contribuído significativamente para a diversificação dos negócios nos setores agrícola, financeiros, serviços, movimentando a economia, gerando postos de trabalho, promovendo uma competição mais justa e recolhendo tributos”, diz Pedro.
A riqueza gerada pelas cooperativas retorna para a população, em forma de benefícios para os cooperados, na geração de empregos e na oferta de serviços e assistência para as comunidades. A história da economia da região se iniciou com a chegada dos imigrantes vindos de várias partes do mundo, em especial dos italianos e alemães.
Economia pautada pelo cooperativismo
A primeira leva de italianos, da Expedição Tabacchi, aportou em 1874, no porto de Vitória, deixando uma marca na trajetória cultural e histórica do estado. Segundo Cilmar Cesconetto, diretor do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (Apees), a bordo do veleiro La Sofia vieram 386 camponeses norte-italianos, a maioria da província do Trento,
Os dados do Projeto Imigrantes Espírito Santo apontam, que nessa ocasião entraram no estado 36 mil italianos, em sua maioria camponeses. Uma parte do grupo, menos de 145 imigrantes, decidiu ficar, na Colônia de Santa Leopoldina, onde hoje é Santa Teresa. Deste grupo se destacam Águia Branca, que teve o início da sua produção com Carlos Chieppe, filho de italianos.
Essa população de italianos foi bem representativa para o Brasil, significando o maior percentual de descendentes em proporção à população do país. Em termos de economia, os imigrantes colaboraram na construção da economia da região e com as cooperativas. Essa influência afetou em especial o turismo do Espírito Santo, em especial na culinária, festas, tradições, como por exemplo Santa Teresa, que se tornou a cidade mais italiana do Estado.
Também se destaca, Venda Nova do Imigrante, colonizada basicamente por italianos, conhecida como a Capital Nacional do Agroturismo. O local atrai pessoas do mundo inteiro para visitar as festas tradicionais. Bento Venturim, presidente do Sicoob Central ES, explica que a ascensão do agroturismo em Venda Nova do Imigrante é um exemplo claro de como a herança cultural dos descendentes de italianos, aliada ao apoio de cooperativas, associações, pode transformar e impulsionar o desenvolvimento regional.
“Famílias que chegaram há décadas na região encontraram no agroturismo uma nova forma de receber visitantes, oferecendo experiências únicas de vivência no campo, degustações e atividades como a colheita de frutas e legumes no modelo colha e pague. O Sicoob ES desempenha um papel fundamental no fortalecimento da cultura italiana e no fomento ao agroturismo em Venda Nova do Imigrante e região”, conta Venturim.
A cooperativa patrocina eventos culturais, como a tradicional Festa Polenta desde sua primeira edição, com a participação voluntária da diretoria, funcionários e associados na organização. A organização alcançou um resultado bruto recorde de mais de R$1 bilhão, investiu R$9,9 milhões em Responsabilidade Social, beneficiando mais de 520 mil pessoas em 112 municípios. Eles também foram reconhecidos como o Maior Grupo Empresarial do Espírito Santo pelo Anuário IEL e ocuparam a segunda posição no ranking das Melhores Empresas para Trabalhar no estado, categoria grande porte, pela GPTW. “Hoje, alguns dos desafios que ainda precisam ser superados são a conectividade no campo, a sucessão cooperativista, a falta de conhecimento dos órgãos públicos sobre os benefícios do cooperativismo e o desconhecimento da população sobre o modelo de negócio”, lembra Bento.
Sustentabilidade e novos negócios
A contribuição das cooperativas para a economia local vem desde a década de 1930. Elas começam a se multiplicar em diferentes ramos e segmentos de atividade, como o agro, o consumo, o crédito, a infraestrutura e o trabalho. De 1960 em diante, uma série de fatores geográficos, culturais e históricos impulsionaram esse modelo de negócio, a exemplo da imigração europeia.
Com o aumento do número de cooperativas na região, tornou-se necessário realizar mudanças e melhorias em suas legislações, com o objetivo de regulamentar as suas atividades econômicas. Criaram-se organizações, que pudessem representar e defender o interesse das cooperativas. Com esse amparo, o movimento ganhou ainda mais força no Espírito Santo e em todo o país.
Outros fatores que favoreceram as organizações foram as mudanças nos sistemas de gestão e governança e a diversificação dos negócios operados pelas cooperativas. Elas se destacam pela peculiaridade do seu modelo de negócio, que une objetivos econômicos e sociais.
Carlos André Santos de Oliveira, diretor-executivo do Sistema OCB/ES lembra que, em paralelo, o movimento cooperativista está atento às mudanças que ocorrem no mercado. “Muitas cooperativas capixabas têm investido em energia limpa, com foco na construção de usinas fotovoltaicas, para reduzirem seus custos e impacto ambiental. Elas realizam ações de responsabilidade social focadas no meio ambiente, seja por conta própria ou disponibilizando recursos para projetos já existentes”, exemplifica André.
As organizações locais têm seguido o movimento do setor agropecuário, valorizando o cultivo sustentável e orgânico, apostando em produtos com maior valor agregado e ambientalmente corretos. Fora isso, quando o negócio é realizado por meio de uma cooperativa, os produtores participam da negociação de forma direta, não lidam com os atravessadores.
Ana Paula de Oliveira Cozer Machado, analista do Sebrae/ES lembra que essa união os permite comprar dos seus fornecedores a matéria-prima com preços mais acessíveis, serem representados em sindicatos e órgãos públicos, que por meio do cooperativismo possuem uma maior representatividade, e com isso melhor acesso a comércio, produtos, serviços e inúmeras vantagens.
“Inserido dentro de uma cooperativa, os produtores têm muitos benefícios como participação em diversos projetos e programas, o que confere visibilidade ao seu produto. Constantemente são realizadas parcerias com o intuito de apoiar e atender às demandas dos cooperados. Um exemplo é o trabalho que estamos fazendo com um grupo de dez produtores da Cafesul na Certificação de Produtos Orgânicos Internacional, para que possam comercializar para países da Europa, EUA, entre outros”, finaliza Ana.
Por Priscila de Paula – Redação MundoCoop
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