É importante considerar que, provavelmente, o sentimento de pertencimento possa falar mais sobre a própria pessoa do que sobre a organização à qual ela está vinculada ou irá se vincular.
Falo com dezenas de lideranças do cooperativismo e a grande maioria se mostra preocupada com o descolamento da base. Cooperados que não se enxergam como donos e agem como se fossem meros clientes. Com o único objetivo de tirar o máximo de vantagens da cooperativa e reclamar o quanto puderem, sem refletir o que ele (enquanto proprietário) pode fazer pela cooperativa para que ela fique ainda melhor, no sentido de atender as necessidades e ir além das expectativas dele.
Por natureza, em geral, o ser humano busca pertencer a algum grupo, onde se sinta seguro, percebido, conectado e útil.
Quando percebemos que estamos em uma organização que compartilha das mesmas crenças e valores que os nossos, isso se torna genuinamente um vínculo forte e visceral.
Esse vínculo de pertencimento, suportará dificuldades, superará desafios, será tenaz e altivo durante toda a jornada. Assim como um torcedor de um time, que suporta a derrota para o rival, perdoa quando o time joga mal, se esforça para acompanhar um jogo e se enche de alegria nas vitórias, mas acima de tudo, acredita e confia no time todos os dias de sua vida e está próximo dele na ‘tristeza e na alegria’.
Esse genuíno pertencimento é um ativo de altíssimo valor dentro da cooperativa, e a proporção dele (maior ou menor), dentro do quando social, inegavelmente, será fator determinante em sua governança, resultados e sustentabilidade.
Quanto maior o sentimento de pertencimento dentro do quadro social, maior será a participação dos cooperados na cooperativa, contribuindo, interagindo, consumindo, entregando, enfim, verdadeiramente se relacionando com a sua cooperativa e exercendo seu papel de dono. Essa condição permite com que a sustentação da cooperativa esteja plenamente alicerçada e seu projeto de desenvolvimento reflita o real interesse dos cooperados e suas comunidades.
Neste sentido, tão relevante quanto ser eficiente na prestação de seus serviços e produtos (algumas cooperativas ainda não atingiram essa eficiência, outras ‘estacionaram’ por aqui e outras já avançaram na compreensão de que é para além da satisfação do indivíduo, que se impacta o coletivo, atingindo seu pleno propósito), a cooperativa tem o dever perene de evidenciar enfaticamente o motivo de sua existência, a razão pela qual está ali, o que ela entrega de diferencial, qual seu propósito, como isso impacta o indivíduo e a comunidade e o porquê isso é tão importante para todos.
Essa percepção das crenças e valores é que cria os vínculos do grupo, e vai muito além das soluções que a cooperativa oferece.
Pois quando as pessoas identificam e comungam desses valores, elas irão, de forma extraordinária, se relacionar com a cooperativa, defender sua marca, exercer seu papel de donos, participar de sua vida, ter vivo o seu sentimento de pertencimento, sentir-se-ão representadas pelos passos e decisões que a cooperativa der, porque afinal, desde o amanhecer até o crepúsculo, tudo isso irá falar e retratar, acima de tudo, a própria essência do indivíduo, suas crenças e valores. É nesta conexão que o pertencimento se mostra uma resiliente fortaleza!
*Por Silvio Giusti, Consultor em cooperativismo, palestrante e Consultor Sênior para a DGRV
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