Movimento, sinônimo de Marcela Pieri Pereira. Uma mineira, 34 anos, que da literatura à gestão, do bloco de carnaval à corrida de rua, mantém-se em constante modificação. É graduada em Letras, mas está longe da vida acadêmica ou docente, pois todos os caminhos a levaram à área da inovação. “Acabei fazendo escolhas que me conduziram para a inovação, mas não foi algo proposital”, diz. Entre esses caminhos, ela encontrou no cooperativismo o ambiente de oportunidades ideal para seguir em movimento, promovendo inovações que fazem diferença na vida de outras pessoas.
Ainda na faculdade, Marcela percebeu que o curso não seria suficiente para seus objetivos. E iniciou um processo de expansão de conhecimentos. “Decidi fazer uma formação complementar em Comunicação; depois fiz uma pós-graduação em Comunicação e Marketing, para ter a formação acadêmica”. Nesse período, conta, foi contratada para trabalhar em uma incubadora de startups de ciência da vida de Belo Horizonte. “Esse foi o meu primeiro contato com o universo da inovação”, relembra. Na sequência, outra experiência, agora em uma organização social, a desafiou a exercer a criatividade, atuando em um projeto para empreendedores por necessidade, um público majoritariamente das classes c e d, sem conhecimento prévio em gestão de negócios.
“Trabalhei muito a inovação com esses empreendedores em negócios que não são vistos como inovadores, estamos falando em padaria, confeitaria, cabeleireiro… O mais inovador, para mim, foi fornecer mentoria a pessoas que tinham recursos escassos. Para ajudá-las a solucionar os desafios de seus negócios, eu precisei ser o mais criativa possível para adaptar ferramentas de mercado e trabalhar com o que dava para conseguir gerar impacto”.
O movimento seguinte na trajetória de Marcela foi o que a levou ao cooperativismo, especificamente à Unimed-BH. Depois de um período prestando serviços na área de inovação à cooperativa, ela foi convidada a integrar a equipe do Centro de Inovação da Unimed-BH. “É curioso, porque durante muito tempo, na Unimed-BH, o cargo que eu ocupei foi empreendedorismo e inovação. Acabaram se juntando os dois universos”, comenta.
Na cooperativa, escalou todas as etapas organizacionais, iniciando, em 2018, como analista júnior, ascendendo a pleno, sênior e especialista. E, desde julho de 2023, é a coordenadora do time de Inovação. “Eu sabia que cooperativas existiam antes de trabalhar em uma, mas é muito diferente adentrar o universo cooperativista e entender que existe uma lógica e um modelo de negócio diferentes, propícios à inovação, e que se comunicou muito comigo”, declara.
Cooperativismo é sinônimo de oportunidade para Marcela. “Eu encontrei, [na Unimed-BH], um ambiente muito propício para desenvolver o meu trabalho, crescer profissionalmente, construir junto. Afinal, essa não é uma jornada solitária. Ao longo desse caminho, têm-se apresentado oportunidades diversas de trabalhar em colaboração com pessoas que me fazem crescer, em projetos nos quais eu realmente acredito, e de buscar a visão de futuro que tem sido criada a várias mãos, há anos, na cooperativa e que eu tenho muito orgulho de ajudar a construir”.
“OPORTUNIDADE É A PALAVRA QUE RESUME O QUE O COOPERATIVISMO REPRESENTA PARA MIM”
Até mesmo as experiências fora do ambiente de trabalho podem contribuir para o desenvolvimento de expertises necessárias à atuação de um profissional. Uma dessas vivências que Marcela considera mais significativas, em termos de contribuição ao trabalho de propor inovação cooperativa, foi quando ela e mais um grupo de amigos fundaram um bloco de Carnaval em Belo Horizonte há dez anos.
Nos cinco primeiros anos, ela foi produtora do bloco, oportunidade para vivenciar a inovação também fora do ambiente profissional. “Havia a vontade de criar o bloco, mas a gente decidiu que não teria patrocínio, e foi preciso a força do coletivo, da colaboração e ser criativo com poucos recursos para fazer que as pessoas viessem conosco [festejar o Carnaval]”. O bloco, que no primeiro ano reuniu cerca de 700 pessoas, hoje segue ativo e arrasta duzentas vezes mais foliões, tendo agora Marcela como porta-estandarte.
Outro hobby que a coloca em movimento e vem contribuindo para sua atuação profissional é a corrida de rua. “Tem me ensinado sobre o valor da disciplina, no sentido estabelecer objetivo, entender que tudo tem seu tempo e que é preciso esforço e fazer diferente”, analisa. Este ano ela comemorou sua primeira meia-maratona. “Aparentemente, essas são atividades que não tem muito a ver com o que eu faço profissionalmente, mas levam à flexibilidade, a experimentar coisas novas e a entender quando um ciclo se encerra para começar coisa nova”, justifica.
As experiências também refletem no estilo de liderança que Marcela vem desenvolvendo. “Diante da oportunidade que eu tive de crescer na Unimed vivendo em ambiente de colaboração, eu gosto de pensar que sou uma pessoa que também impulsiona a colaboração, a identificação do que cada um tem de fortaleza, para combiná-las e gerar valor para Unimed a partir do resultado inovador desenvolvido pela equipe”.
PARA QUEM VIVE INOVAÇÃO, O FUTURO É AGORA
Promover inovação também exige capacidade de antecipar possíveis futuros, ter visão prospectiva e trazer soluções de que o negócio precisa hoje, mas também aquelas que possam vir a ser importantes. “Temos falado muito sobre saúde digital, o consultório do futuro, experiências ‘figital’ [junção de físico com digital] na jornada do nosso cliente, entendendo sempre que tudo pode mudar a qualquer momento, e o nosso papel está em pensar pelo menos um, dois passos à frente”, comenta.
Marcela cita, com orgulho, o exemplo da telemedicina, que já era estudada pela equipe de inovação da Unimed-BH anos antes de ser regulamentada e se tornar possível. “Conseguimos fazer estudos muito conectados com práticas globais e experimentar o desenvolvimento de uma solução própria, em ambiente seguro. Quando veio a pandemia, a gente teve solução própria para oferecer à Unimed-BH e tem dado muito certo”. Para seguir ampliando múltiplos conhecimentos que apoiem estratégias inovadoras e antecipem futuros, Marcela projeta novos movimentos, como cursos em áreas tecnológicas.
A INOVAÇÃO POR MARCELA PIERI PEREIRA
Como você enxerga a relação entre pessoas e tecnologia para a inovação?
Eu gosto muito de me apresentar sempre dessa forma: ‘eu trabalho com inovação, sou formada em Letras’, para quebrar a ideia de que inovação é tecnologia, ou de que só pessoas que tenham formação em tecnologia poderiam trabalhar com isso. Na Unimed-BH, a tecnologia é ferramenta para impulsionar e acelerar a inovação. O trabalho é voltado para criar estratégias para melhorar a experiência dos usuários, um foco na jornada ‘figital’. Entendo a inovação como um leque amplo de entrega de valor. No final das contas, são pessoas que fazem e pessoas que consomem qualquer produto ou serviço que se ofereça. Não se pode perder as pessoas de vista em momento algum para criar coisas que sejam aderentes.
As equipes de inovação tendem a ser heterogêneas e multidisciplinares. De que modo esse mecanismo favorece o ambiente de inovação cooperativa?
Não se consegue inovar sem um ambiente que seja diverso, com pessoas de origens diversas, com perspectivas diversas. Quem trabalha com inovação precisa aceitar as diferenças, ter abertura para os conflitos. Não há inovação sem conflito, sem divergências. Tem uma abordagem que é muito trabalhada em inovação, a do diamante duplo, que prevê momentos de discordância, outros em que devemos tentar dar sentido para aquilo e chegar a um consenso, pois faz parte da abordagem da inovação a diferença. E tem formas da gente abraçar os conflitos, há métodos para lidar com opiniões diferentes, às vezes opostas, combinar visões, negociar.
Eu acho que a gente tem, em termos de vantagem competitiva no cooperativismo, a predisposição para a diversidade. Os princípios cooperativistas declaram que a adesão é livre e democrática. É aberto para qualquer um se cooperar, então ali vai ter um grupo diverso. Está na cultura cooperativista.
Quais os principais desafios à inovação, e em que patamar você gostaria de ver a inovação cooperativa nos próximos anos?
O primeiro desafio é conseguir demonstrar, para todas as áreas da cooperativa, o valor real de trazer inovação ao trabalho e vencer a barreira da resistência. Às vezes, a inovação é encarada como algo que vai interromper processos que estão rodando bem. E, nesse sentido, a gente nunca pode ter uma postura de colonizador, levando a solução pronta. É preciso trazer as pessoas para fazer junto o projeto, escutá-las. Outro, é que a área de inovação não seja entendida como a responsável por mudar 100% da cultura da empresa para uma cultura de inovação. Esse deve ser um trabalho conjunto, é muito importante que as altas lideranças estejam engajadas nesse propósito para que essa cultura seja disseminada.
Eu imagino o trabalho de inovação acontecendo de maneira mais pulverizada e capilarizada, que a equipe de inovação não seja solitária no exercício de propor novidades para o negócio, que a mentalidade da melhoria contínua perpasse todas as áreas. Acredito que a gente caminha para um modelo de mais maturidade em termos de inovação. E realmente gostaria de ver mais cooperativas alcançando esse estádio de maturidade, com a inovação sendo trabalhada de maneira transversal e gerando resultados palpáveis.
Por Nara Chiquetti – Redação MundoCoop
Conteúdo exclusivo publicado na edição 115 da Revista MundoCoop
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