Faz algumas semanas, completei 58 anos. É a idade que meu pai morreu. Ele nasceu e cresceu na pobreza da aridez alagoana e calçou o primeiro par de sapatos aos 16 anos, quando migrou para o Paraná. Pouco foi para a escola, mas fez questão de educar os seis filhos. Se não fosse uma parada cardíaca, estaria com 80 anos. Ao contrário dele, tive acesso à educação desde criança e, mesmo nos momentos de sacrifício, nunca me faltou nada para manter minha integridade física, emocional e social. As condições em que cresci, me desenvolvi e vivo atualmente apontam que tenho a possibilidade de viver mais que ele. Se me fosse dada a oportunidade de escolher como quero viver esses prováveis anos a mais, minha resposta seria: com saúde, lucidez e autonomia.
Infelizmente, não é assim que os idosos de países de baixa e média renda estão vivendo os ganhos na expectativa de vida registrados globalmente nas últimas décadas. Dados da consultoria Mckinsey mostram que, nas duas primeiras décadas do século XXI, mais de dois bilhões de pessoas alcançaram expectativa de vida superior a 72,5 anos e renda acima de US $8.300; 1,1 bilhão dessas pessoas vivem na China.
Segundo o documento Global Roadmap for Healthy Longevity, produzido pela National Academy of Medicine (NAM) dos Estados Unidos, muitas pessoas estão vivendo mais anos, mas sem saúde para aproveitá-los. Para realizar o relatório, a NAM formou uma comissão internacional de especialistas, que elaborou um roteiro com orientações sobre como promover a longevidade saudável ao redor do globo. “Poucos países fizeram progressos significativos para se preparar financeira, social e cientificamente para uma expectativa de vida mais longa e saudável”, escreveu Victor J. Dzau, presidente da NAM, na abertura do relatório. O Brasil, certamente, não está preparado.
Os especialistas reservaram uma boa parte do documento para estabelecer uma visão da longevidade em 2050 – e ela está relacionada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODSs) das Nações Unidas, cujo horizonte é 2030. Alguns dos 17 ODSs são bastante sinérgicos com a longevidade saudável, como boa saúde e bem-estar (ODS 3), educação de qualidade (ODS 4) e trabalho decente e crescimento econômico (ODS 8). Os cientistas anunciam para 2050 um mundo mais próspero, culturalmente preparado para acolher pessoas vivendo vidas mais longas e saudáveis. Nem todos os países seguirão o mesmo caminho até lá, mas todos precisam iniciar a mudança o quanto antes. “Os governos precisarão estabelecer ações e implementar planos baseados em dados para construir a infraestrutura social necessária que vai permitir a longevidade saudável”, diz o texto.
Os cientistas admitem que essa visão de sociedade envelhecida e próspera é aspiracional, mas factível. Segundo eles, podemos imaginar que em 2050 a ciência que apoia a longevidade saudável estará incorporada à vida cotidiana. Neste futuro, todas as pessoas desfrutarão de bem-estar geral, diminuição e controle de doenças e boa saúde até o fim. No nível individual, a educação será vitalícia, as carreiras serão fluidas e teremos tempo para fazer o que nos traz significado. “Pessoas em todas as fases da vida terão igual acesso à saúde, educação, bons empregos com um salário digno, oportunidades de contribuir para o bem-estar de suas famílias e comunidades e a capacidade de viver suas vidas com significado, propósito e dignidade.” A visão 2050 prevê sinergias e contribuições entre as gerações de maneiras que eu não consigo imaginar, mas certamente que viver para ver.
Por Maria Tereza Gomes, jornalista, mestre em administração de empresas, CEO da Jabuticaba Conteúdo e mediadora do podcast “Mulheres de 50”
Fonte: Época Negócios
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